29/07/2018

HEMP LASTRU

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Cheios de graça

Brezhnev adorava aparecer em público repleto de medalhas. Foi ele, aliás, que criou a medalha dos 50 anos de membro do Partido, para a atribuir a si próprio no seu 75º aniversário.
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Uma forma de reconhecimento público é a atribuição de uma condecoração. Quem não gosta de exibir no peito uma medalha, sinal que a pátria lhe reconhece um contributo notável? Mas, como em todos os campos, muitas injustiças foram feitas ao longo dos tempos.

Leonid Brezhnev, que dirigiu a União Soviética entre 1964 e 1982, atribuiu-se uma medalha por serviços prestados na Segunda Guerra Mundial, como ao seu genro que tinha cinco anos quando o conflito começou. O que terá feito este último não sabemos, mas não roubou a chucha de Hitler.

Brezhnev adorava aparecer em público repleto de medalhas, entre as quais se contavam seis Ordens de Lenine, duas Ordens da Revolução de Outubro e três medalhas de Herói Socialista do Trabalho, se bem que esta última – criada em 1938, atribuída pela primeira vez a Estaline e recriada por Putin em 2013 sem o “socialista” – tivesse, nos seus 50 anos de existência, sido concedida a 20 mil notáveis, três vezes a 16 deles (nomeadamente a Nikita Krushev).


Mesmo assim, nada parecido com a Medalha por Serviços Distintos, que agraciou mais de dois milhões. E Brehznev foi o homem que criou a medalha dos 50 anos de membro do Partido, para a atribuir a si próprio no seu 75º aniversário.

Nesta coisa das medalhas há também factos estranhos. Nos EUA, William Swenson foi proposto para a Medalha de Honra, quando o General Petraeus entendeu ser mais merecida a Cruz por Serviços Distintos (inferior), coisa que não aconteceu por o processo ter andado extraviado até Petraeus ser substituído. O Congresso americano já pediu desculpa pelo massacre dos Sioux Lakota em 1890, mas ainda há vinte das mais altas condecorações atribuídas pela nação a outros tantos participantes neste massacre.

No relato dado nos Hansard’s Parliamentary Debates das sessões da House of Lords entre 1841 e 1847, relativos às medalhas por serviço naval, o Conde Hardwicke apresenta uma moção contra estarem a ser agraciados homens mais novos e com feitos mais recentes que outros igualmente merecedores, mais velhos e referentes a feitos mais antigos.

Agora, a maior de todas as injustiças foi feita por Cameron, quando deixou o n.º 10 de Downing Street. Queixa-se Sir Alistair Graham, antigo chairman do Committee on Standars in Public Life, que Cameron agraciou, além de membros do seu governo, 24 membros do staff de Downing Street e é difícil sustentar que todos verificaram os critérios de atribuição das condecorações. E mais diz que ficou surpreendido por o gato Larry, residente no nº 10, não ter sido condecorado.

De facto, Cameron foi criticado por muitos nas redes sociais e noutros fora por não ter agraciado Larry com a OBE, por exemplo, como o felino mereceria. Aliás, não é difícil de crer nesta injustiça, vendo como são atribuídas condecorações, no Reino Unido como no nosso país.


IN "O JORNAL ECONÓMICO"
28/07/18


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