17/07/2018

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HOJE NO 
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Morreu João Semedo
 O político, a medicina, a oposição

Morreu esta terça-feira o antigo deputado e líder bloquista. A defesa da morte assistida foi um dos últimos trabalhos cívicos de João Semedo, nascido em 1951. O cancro nas cordas vocais marcou os últimos anos do deputado.

A saúde era uma área de eleição, afinal foi aí que se licenciou, mas o trabalho político foi o seu centro. "Tratar a sociedade mais que as pessoas", disse ao Observador, numa entrevista concedida em Abril de 2017. Tinha acabado, na altura, de anunciar a candidatura à Câmara Municipal do Porto. Acabou por desistir por motivos de saúde. Mas foi marcando presença cívica e política, nomeadamente na questão da morte assistida e do Serviço Nacional de Saúde. João Semedo, antigo deputado e líder do Bloco de Esquerda, morreu esta terça-feira, 17 de Julho de 2018.
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"Salvar o SNS - uma nova Lei de Bases da Saúde para defender a Democracia", é uma obra da sua autoria, a par de António Arnaut, visto como o principal impulsionador do Serviço Nacional de Saúde, também falecido em Maio deste ano. "Nada se conseguirá mudar sem mudar a lei de bases", asseverou, em Janeiro deste ano.

Defendeu a morte assistida este ano. Sobre o tema, escreveu um texto de opinião, que o Expresso republicou esta terça-feira. Segundo defendeu, a votação daquele dia 29 de Maio, que acabou por chumbar a sua pretensão, iria colocar à prova "a tolerância democrática dos deputados: ou aprovam uma lei que, sem obrigar seja quem for, permite ajudar a antecipar a morte de todos aqueles cuja vontade seja inequivocamente essa ou insistem em manter a prepotência actual em que as convicções de alguns se impõem a todos os outros".              

"É uma questão de tempo: não foi agora, será na próxima legislatura", afirmou, em relação a este assunto, segundo relembra o Esquerda.net.

A oposição
Presença no Parlamento, foi deputado por três legislaturas. Esteve na comissão de inquérito ao negócio entre a PT e a TVI, mas também ao BPN. A liderança no Bloco de Esquerda, em parceria com Catarina Martins e após a saída de Francisco Louçã, deu-lhe destaque na oposição ao Governo liderado por Pedro Passos Coelho. Desses anos, contam-se os pedidos de demissão de Maria Luís Albuquerque e de Rui Machete. Não só.

Em Julho de 2013, após a crise política causada pela demissão de Paulo Portas, João Semedo propôs "a abertura de um processo de discussão e aprovação das bases programáticas de um governo de esquerda", proposta dirigida ao PS e ao PCP. Não aconteceu na altura. Viria a acontecer dois anos e meio depois.

Saiu da liderança no final de 2014, para resolver diferendos internos. "O Bloco deve-lhe muitíssimo", defendeu Catarina Martins. "Obrigada, João", escreveu já a líder bloquista no Twitter.
Antes do BE esteve no PCP. Abandonou o partido em 2000, o que, segundo disse ao Observador, ocorreu quando percebeu que o PCP não era reformável. Foi a partir daí que esteve no topo do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, e se centrou na medicina.

Mas as preocupações políticas eram antigas. Chegou a estar preso em Caxias, durante o Estado Novo.
O Benfica era uma paixão. Em Abril de 2017, em resposta a um desafio do Observador, escolhia Rui Vitória como treinador, face a Jorge Jesus (na altura no Sporting), porque seria o "treinador que vai levar o Benfica ao tetra". Concretizou-se. O penta não chegou.

Nascido a 20 de Junho de 1951, teve a infância passada em Lisboa, na zona do Jardim Constantino, mas também passou pela Figueira da Foz, e o Porto, onde viveu, foi o círculo eleitoral pelo qual chegou ao Parlamento. No ano passado, João Semedo quis candidatar-se à Câmara Municipal do Porto. Acabou por deixar a corrida, devido a motivos de saúde.

Nos últimos anos, João Semedo mudou a forma de comunicar, mas não a forma de ser, como frisou. Um cancro nas cordas vocais atacou-o. "Custou-me saber que tinha de tirar as cordas vocais", afirmou na entrevista ao Observador.

João Semedo morreu esta terça-feira, 17 de Julho.

* A dignidade está de luto.


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