04/04/2018

VITOR RAÍNHO

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O Facebook mostrou 
as fragilidades das pessoas 

Há muitos anos, quando o Facebook se começou a generalizar, vi uma magnífica peça televisiva de um canal francês que mostrava como algumas jovens que tinham mostrado as suas loucuras de adolescência na rede estavam com problemas em arranjar trabalho, já que os empregadores as obrigaram a mostrar o que tinham na rede social e não gostaram do que viram.

A maioria das pessoas não pensa pela sua cabeça, não tem opiniões formadas e segue as indicações que lhes chegam pelo computador. De grosso modo é isto que se pode concluir da interferência do Facebook nas eleições americanas e no referendo ao Brexit na Grã-Bretanha. O que não deixa de ser bastante inquietante, já que os gestores da rede social venderam os perfis dos utilizadores à Cambridge Analytics que, por sua vez, percebeu as preocupações de cada ‘facebookiano’ e os começou a bombardear com notícias que os ‘encaminhavam’ para o voto em determinada pessoa ou partido. De uma forma mais simples: se no perfil de uma pessoa se percebia que ela estava preocupada com a imigração mexicana, por exemplo, os discursos de Donald Trump contra os mexicanos apareceriam facilmente na conta desse utilizador.

O mesmo se terá passado com o referendo do Brexit. Além de se concluir que as pessoas são fracas de espírito, ou mesmo burras, esse processo terá envolvido milhares de pessoas nesse trabalho pidesco.

Agora as questões mais preocupantes para os utilizadores de redes sociais: tudo o que aí colocam pode ser usado contra si, já que nada desaparece e há quem se dedique a ficar com a ficha de utilização, como se fazia antigamente com a  PIDE. Diz-se que nos relatórios da Polícia secreta do Estado Novo não faltavam, por exemplo, indicações amorosas dos vigiados, pretendo-se dessa forma enfraquecer os opositores ao regime, em caso de interrogatório. No Facebook há milhões de fotos, conversas, ‘likes’ em artigos ou em pessoas que, pelos vistos, servem às mil maravilhas para definir o perfil de cada um. Se pensarmos que sempre que alguém publica uma foto de nudez no seu mural a mesma é bloqueada passado pouco tempo dá muito que pensar.

Numa breve sondagem pelo jornal percebeu-se que poucos sabiam que ‘descarregando o perfil’ tem-se acesso a tudo o que se colocou e pagou ao longo dos anos. Até chamadas telefónicas feitas por esse canal lá estão.

Há muitos anos, quando o Facebook se começou a generalizar, vi uma magnífica peça televisiva de um canal francês que mostrava como algumas jovens que tinham mostrado as suas loucuras de adolescência na rede estavam com problemas em arranjar trabalho, já que os empregadores as obrigaram a mostrar o que tinham na rede social e não gostaram do que viram.

Não acho que as redes sociais sejam o demónio, mas não  consigo perceber como as pessoas colocam aí a sua intimidade, sujeitando-se a que alguém a possa usar a seu bel-prazer. Mas há todo um mundo de incógnitas: se as agências de comunicação tentam chegar aos perfis dos utilizadores para os venderem aos seus clientes, também quem nos diz que hipotéticas polícias de costumes não andam a fazer a nossa ficha? E quem nos diz que alguém que não goste de nós não faça o mesmo? Uma conversa aqui outra ali, na esfera particular, é isso mesmo: particular. O comentário que o criador do Facebook fez não deixa ninguém descansado. Nada garante aos utilizadores que no futuro algo parecido não aconteça.

Voltando às eleições americanas, ninguém pode dizer que as pessoas foram obrigadas a votar neste ou naquele candidato. Tiveram foi um isco que morderam, por serem vulneráveis a conversas do bandido. O Facebook violou foi o contrato que tinha com os seus utilizadores, mas estes colocaram lá o que bem entenderam...

IN "SOL"
31/03/18


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