05/04/2018

A PORTEIRA

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Os Artistas precisam
é de um tanque de 
roupa suja para lavar


"E a cultura deve de servir é para dispor bem, para a gente andar distraída. Só que para a gente se distrairmos já temos a bola para os homens e para a gente, as senhoras, o Goucha e a Cristina. E como eles têm aquilo das chamadas, não precisam do dinheiro dos contribuintes para nada. Mais fica."

A gente cá no nosso país nunca se entendemos em nada, anda sempre tudo à chapada. Se a Caixa Geral dos Depósitos fecha um balcão em Almeida, lá ficam os de Vilar Formoso a rir, e se fecham em Vilar Formoso lá vem uma barrigada de rir de Almeida. Se fazem uma estrada de Manteigas à Covilhã, a gente dizemos que era precisa era uma de Seia a Oliveira do Hospital. Se constroem duas escolas, a gente dizemos que eram precisas três. Se constroem três, a gente dizemos que aquilo é que é deitar dinheiro à rua e que chegavam muito bem só duas. Se não limpam as matas é porque não limpam as matas, se limpam as matas é porque limpam as matas. Enfim...

Mas se há uma coisa que toda a gente concorda é que lá isso da cultura é uma chatice pegada. Eu, quando vejo cultura assim em geral, fico logo com uma soneira que parece que tomei três Lexotãs. Com leite morno. E uma bolachinha Maria para acamar. Torrada. Do Minipreço.

Eu não sou de intrigas e não quero dizer que os artistas da cultura são todos uns calões, mas os artistas da cultura são todos uns calões. Gente que dorme até ao meio-dia. Gente com cabelo cor-de-laranja, como a filha aqui dos do terceiro esquerdo, que o pai até é médico, mas estas coisas são mesmo assim e ninguém está livre de lhe cair uma coisa destas em casa. Haviam de ver os preparos em que ela anda, francamente, até já lhe vi umas argolas nas orelhas assim por os ombros, com uns papagaios lá dentro.

Diz que é actriz, agora de que é que ela faz, não sei dizer. Deus me perdoe, mas no tempo da minha avó, actriz escrevia-se com menos letras. Com menos duas, vá.
Eu teatro, gosto de ver na televisão, assim as novelas. Ou uma série, também gosto de acompanhar. Havia uma muito boa que era sobre a Ferreirinha, e pelo menos andava sempre toda a gente vestida.

Agora ir ao teatro, assim mesmo lá sentada, não me convidem. A gente tem de ficar ali paradas, nem os sapatos podemos tirar, nem um xixi se pode ir fazer. E claro, o pior: não podemos mudar de canal.

Eu já nem digo um carro em segunda mão, mas alguém comprava uma torradeira usada no OLX a uma pessoa que ganha a vida a fazer de conta que é outra pessoa? Isto quando não fazem de conta que são uma pedra, ou um bicho qualquer...

Eu tenho para mim que a cultura é mas é filha da droga. Que uma pessoa sã não lhe passa aquelas coisas por a cabeça.

E não é só no teatro, na dança diz que é igual. Eu não acompanho muito, e nem sei o que dizer, para além de que uma parte boa que é por o menos não falarem. Para dança, prefiro o folclore, que é assim dança, cantares e teatro tudo junto. É uma espécie de ópera, mas sem os gritos. Quer dizer, com os gritos, mas com uns gritos que dispõem bem.

E a cultura deve de servir é para dispor bem, para a gente andar distraída. Só que para a gente se distrairmos já temos a bola para os homens e para a gente, as senhoras, o Goucha e a Cristina. E como eles têm aquilo das chamadas, não precisam do dinheiro dos contribuintes para nada. Mais fica.

E isto é para quem não sabe se entreter sozinha, que eu entre a malha, o croché, o ponto-cruz e o bordado da Madeira, não preciso dessa bandalheira. Rima e é verdade.

Eu não sou muito de ler, mas por o que sei, nos livros ainda é pior. Há tanta gente por aí a dizer que é escritor. E a quererem viver disso. Ora toda a gente sabe que os livros melhores são escritos por jornalistas ou por apresentadoras de televisão, gente que já está empregada lá nas suas vidas. O resto são manias.

Outra mania que também me mexe cá com os nervos, é os museus. Ora, os museus é uma estucha. Outro dia fui àquele que fica mesmo defronte à casa da Madonna, que era um dia que era de borla. Conclusão, fartei-me de andar, que aquilo não é pequeno, e no fundo para quê? Para ver cangalho. Tudo do tempo da outra senhora. Uns quadros de uma gente muito feia, que diz que os antigos eram mais feios do que a gente agora, devia de ser da comida, que havia menos e a falta da vitamina faz a pele assim mais a atirar para o cinzento. Também lá vi uns tarecos e uns serviços de jantar, mas não é nada como se usa agora, que a moda é tudo mais dentro do simples. Aquilo está mesmo a pedir um Querido Mudei o Museu. É questão de escrevem para lá e de se inscreverem.

Bom, mas pelo menos não tem só carroças, como o outro. Aliás, por falar em museus, Belém é um bairro muito castigado com isso, e não merecia, que tem lá os Jorónimos, que ainda é do melhorzinho que a gente temos cá.

Mas puseram-lhe mesmo em frente também o Mate e mais a Coleção Bernardo, que é bom para a gente abrir a pestana e olhar lá para os quadros e mais o que eles lá têm e ver o bonito resultado que dá beber muita cachaça e fumar cigarros para rir.

Arte moderna para mim, é o bacalhau com natas, que quando eu era pequena era só com couve e batata. Que era uma arte antiga. Isto dentro da arte de fazer o bacalhau.

Bom, e vem isto a propósito de que diz que os artistas agora querem que vaia para a cultura 1% do PIB, que é o produto eterno bruto. Claro, porque com esta gente é tudo à bruta, já se sabe.

Na cultura como no resto, o que é bom é o que dá dinheiro. Ora se fosse bom, dava na televisão. Se não dá na televisão, podem limpar as mãos à parede. Ou então façam lá isso nas vossas casas, e sem pedirem dinheiro à gente, que os buracos dos bancos não se pagam sozinhos. E um país precisa mais de bancos do que de cultura, digo eu.

A menos que agora já deia para levantar dinheiro com a caderneta da Caixa na bilheteira do Parque Mayer, que da última vez que lá passei não dava.

E também deram em dizer que um país sem cultura não é um país, é uma área mal ocupada, ou qualquer coisa assim.

Mas não, filhos!

Um país sem cultura é um país onde que as pessoas acordam cedinho para ir trabalhar.

Como deve de ser.

Com licença.

IN "SÁBADO"
03/04/18

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