05/03/2018

PEDRO IVO CARVALHO

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#52vezes


Quanto vale um gestor de uma empresa que acumula milhões de euros de lucros ano após ano? Se a resposta for dada pelos acionistas, é simples: vale ouro. Desde que o nosso (deles) quinhão esteja garantido. Mas se a mesma pergunta for lançada aos trabalhadores dessa empresa, é natural que respondam qualquer coisa como "não vale nem metade do que lhe pagam". São respostas naturais de quem olha para a natureza das disparidades salariais a partir de lugares distintos. António Mexia, por exemplo, ganha 52 vezes mais do que a média salarial dos trabalhadores da EDP, estimada em 42 mil euros/ano. Em 2017, o presidente da elétrica levou para casa 2,2 milhões de euros, entre remuneração fixa, variável e prémios. O que até foi mais do que no ano anterior, embora os gastos do grupo com pessoal tenham diminuído de 493,7 milhões de euros para 491,7 milhões de euros. Portugal está a consumir menos energia, mas está a pagar mais pela energia que consome (o termo técnico é penúria energética); é, de entre os países da União Europeia, dos que cobram mais pela eletricidade. E é a mesma nação em que 800 mil pessoas beneficiam da tarifa social de energia por não terem rendimentos dignos. À luz desta realidade, e pese embora as liberalidades do mercado, estas gratificações serão sempre uma afronta. Não há outro nome para isto.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
03/03/18


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