10/03/2018

LÍDIA PARALTA

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Bem-vindos ao grau zero

É complicado definir aquilo em que se tornou o nosso futebol nos últimos meses. É uma guerrilha constante, em que se fala mais em justiça e arbitragens e que cansa quem gosta verdadeiramente do jogo. Num dia são e-mails, noutro são posts do Facebook, no dia seguinte já há funcionários alegadamente corrompidos com bilhetes e camisolas para aceder a informações que estão em segredo de justiça. Tudo isto para ganhar um campeonato, para se ter um pouquinho mais de poder.

Por esta altura, estando tudo por provar, só podemos falar de “alegadamentes”. Mas já são muitos “alegadamentes” para isto ser normal. Mas tudo isto é fruto de um país que não gosta de futebol, gosta de três clubes que secam tudo à volta, outros clubes, outras modalidades. É fruto de pessoas que chegam ao futebol para se servirem e de adeptos que deixaram de ter sentido crítico e capacidade de colocar a mão na consciência e recusar certos comportamentos dentro da instituição que apoiam. Ganhar é o último objetivo, naturalmente, mas não interessa também a honra, a seriedade? Ou vá, pelo menos não cometer potenciais crimes? É só uma ideia.

Sinto que o futebol voltou ao grau zero da decência e isso afasta as pessoas. Não sei muito bem qual vai ser o rescaldo de tudo isto, quem vai continuar a acreditar cegamente, quem terá sempre um pé atrás, quem nunca mais conseguirá ver um jogo do campeonato nacional da mesma maneira. O certo é que dificilmente será igual.

 IN "DESTAK"
07/03/18


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