29/03/2018

JOSÉ PACHECO PEREIRA

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Baixaria do futebol

Todos os dias o mundo do futebol exibe uma baixaria inominável, dos presidentes dos clubes às claques. Ao menos deixem-nos mostrar o que são e o que desejam, para ilustração das massas… que vão ao futebol

Parece que foi revogada pelo Tribunal a sanção aplicada pelo Instituto Português do Desporto e Juventude a um homem, a quem chamam com elegância "Macaco", que o impedia de ir ver jogos de futebol por "alegadamente" (uma das palavras mais comuns da actual vida portuguesa) ter cantado ou mandado cantar um refrão em que se desejava à equipa adversária que morresse toda num desastre de avião. Coisa amável, como se vê.

Eu, por mim, sou muito liberal em delitos de opinião. O Macaco, ou os seus próximos e apaniguados, queriam matar uma equipa inteira e exprimiram livremente a sua opinião. Parece que uma instituição "encarnada", ou seja benfiquista, o Instituto Português do Desporto e Juventude, entendeu perseguir a sua liberdade que em Portugal nenhuma emenda da Constituição deliberadamente protege. E o Macaco não aceitou, e bem, e ganhou em tribunal.

Mas o que é que esperavam? Todos os dias o mundo do futebol exibe uma baixaria inominável, dos presidentes dos clubes às claques. Ao menos deixem-nos mostrar o que são e o que desejam, para ilustração das massas… que vão ao futebol.

Trump e Putin
O acesso ao poder da dupla Trump e Putin é o maior risco mundial dos nossos dias. Sendo muito diferentes, por todas as razões que diferenciam os EUA da Rússia, e que não são poucas, colocam ambos os países, os seus vizinhos, o mundo, numa situação de grande perigo. Putin é mais previsível, racional, prudente e oportunista, Trump é um egomaníaco desequilibrado, com um carácter sinistro, vingativo e imprevisível, cuja única motivação parece ser o seu narcisismo patológico. Pode ser, aliás, que Putin o tenha no bolso, como muita gente da comunidade de segurança e informações está convencida, e talvez isso tenha um lado bom porque introduz um factor de racionalidade na sua imprevisibilidade. Só que a racionalidade que introduz é a de Putin e dos seus interesses.

Os estragos que Trump está a fazer no sistema político, no Partido Republicano e no Partido Democrático, na tensão antidemocrática que introduziu na administração, no papel combinado de um demagogo moderno com uma televisão como a Fox News, e nas formas de resistência que se mobilizam hoje nos EUA, ficarão na história americana e não apenas como um caso de estudo. Trump introduziu um ponto sem retorno e o seu carisma – sim, a palavra não tem necessariamente um significado positivo – é um profundo factor de mudança.

Putin é a mesma coisa. Ele é o primeiro dirigente da Rússia pós-comunista que também tem carisma e que muda o contexto em que actua, criando um antes e um depois e é, por isso, um ponto sem retorno. Fá -lo indo a tradições profundas da autocracia russa e voltando, como os bolcheviques fizeram com o czarismo, à geopolítica tradicional da Rússia. Para além disso, Putin tem sido capaz de explorar até ao limite todas as oportunidades que lhe têm sido dadas pela política errática dos EUA e da União Europeia. A Síria é um dos melhores exemplos dessa capacidade de preencher vazios. Hoje quando se assiste à rendição prática de um enclave rebelde, cujas milícias que combatiam Assad foram apoiadas, armadas e empurradas para a guerra civil pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido, são oficiais russos que aparecem a organizar o êxodo de refugiados. São eles que lá estão, são eles que vão continuar a estar lá.
Verdadeiramente entalados estão os europeus. Mais uma vez.

A obsessão pela comida
Uma parte importante dos nossos noticiários quando não falam de futebol, nem de doenças, falam de comida. Há uma moda, empurrada pela publicidade, e pelo papel do turismo nas cidades, com os restaurante e com a comida. Parece que há suficientes homens que desejam ser cozinheiros, ou melhor chefs, porque as mulheres que tiveram quase sempre de cozinhar por obrigação não são muito atraídas pela moda. E ei -los com a pose de metrossexual vestidos de avental preto a colocar delicadamente pequenas folhas de um arbusto qualquer sobre uma pasta indefinida, de uma coisa qualquer que habitualmente se comia bem fresca e com pouco cozinhado e que agora tem de se pousar no seu suco. Irá passar a moda dos chefs de trazer por casa, como já passou em grande parte a moda dos gins e vai acabar por ser apenas um novo riquismo provinciano, como aquele que infesta as carnes de frutos exóticos e torna as sobremesas todas vermelhas. Podia dar-lhes para pior.

IN "SÁBADO"
26/03/18

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