08/03/2018

GUIDA VIEIRA

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Porque elas lutaram

Nesta semana temos que falar no que foi conseguido com a luta e participação das mulheres

Hoje, (05/03), inicia-se uma semana onde ouviremos falar muito das mulheres. Há programas para todos os gostos. Alguns são tão maus e tão degradantes que não quero perder muito tempo a falar deles. Vão-se fazer muitos jantares, muitos passeios, oferecer-se muitas flores, etc,...mas poucas pessoas vão se lembrar porque realmente existe um dia dedicado às Mulheres.

Para não fazer polémica com quem faz pesquisa histórica, apenas gostava de lembrar que este dia existe porque existiram mulheres que lutaram. Foi em 1857 nos EUA que a luta despontou e depois alargou-se a outros países. As mulheres trabalhadoras que fizeram greve por melhores condições de vida e de trabalho, em que algumas perderam a vida, são um exemplo que devemos sempre recordar.

O dia 8 de Março foi consagrado o dia da Mulher em homenagem a essas lutas. Mesmo que em 1910 tivesse sendo indicada a sua comemoração, essa só foi oficiada pela ONU em 1975.

Se hoje temos um horário de trabalho de 8 ou 7 h diárias, elas foram as pioneiras para que assim fosse, porque na altura trabalhavam 16h diárias, trabalhavam até dar à luz e voltavam 10 dias depois, não tinham direito a férias, a segurança social, a seguro etc...

Por isso, nesta semana temos que falar no que foi conseguido com a luta e a participação das mulheres, porque tudo continua atual, porque nada cai do céu se não lutarmos e persistirmos, sem medo e sem vergonha de dar a cara, pelas nossas reivindicações, sejam a que nível for.

Se em 1911 a Carolina Beatriz Ângelo não tivesse travado uma batalha judicial, não teria sido a primeira mulher em Portugal a exercer o direito ao voto, que só foi consagrado para todas as mulheres, e homens, com o 25 de Abril de 1974.

Se depois do 25 de Abril as mulheres não tivessem lutado, não tinham direito a dignificar as suas profissões, como aconteceu com as Operárias de Bordados, de onde eu fiz parte, não tinham direito ao planeamento familiar, que hoje toda a gente tem acesso, ao salário mensal com direito a férias e aos subsídios de férias e de Natal, aos direitos da maternidade e paternidade, segurança social, etc...

Se não fosse fossem as lutas que continuaram, as bordadeiras de casa da Madeira, em 1999, não teriam direito à reforma, a violência doméstica em 2000 não teria sido consagrada como um crime público, a IVG em 2007 não seria despenalizada, e assumida, pelo serviço público de saúde e em 2016 as técnicas de procriação medicamente assistida não seriam alargadas para todas as mulheres, independentemente do estado civil ou orientação sexual.

Hoje continuamos com problemas sérios a afetar as mulheres, pois muitas ainda são discriminadas nos seus salários e no acesso a profissões de topo. E muitas trabalham de forma precária, pois nunca sabem quanto vão ganhar no fim do mês. Outras fazem-se à vida, com os seus saberes e as suas artes, faça chuva ou faça sol, trabalhando e lutando para terem uma vida o mais digna possível. Para Todas a minha homenagem, e que neste 8 de Março se oiça falar da luta das Mulheres, com muito respeito e consideração pois só assim o 8 de Março será verdadeiramente comemorado.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
05/03/08


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