11/01/2018

VERA GOUVEIA BARROS

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Sustentabilidade

Mais necessário que um troféu numa gala é criar as condições para que o turismo em Portugal continue a ser um caso de sucesso num contexto de permanente mudança.


Há cerca de um mês, participei numa conferência sobre o papel das Ciências Matemáticas no turismo sustentável, a Turismat. Aquilo que para alguns pareceu uma conjugação estranha, ao nível da de gelado com azeitonas, para mim foi óbvia. Afinal, ao longo do último ano, escrevi aqui vários artigos cheios de números, que procuraram trazer o debate sobre o sector do turismo para o campo da racionalidade. E nada melhor que informação estatística para cumprir esse papel (embora os factos não consigam, muitas vezes, sobrepor-se a certas narrativas, mesmo que as desmintam).

Quando o tema é a sustentabilidade, os números fazem ainda mais sentido, porque ter um conjunto de indicadores é fundamental. Sem ele, a visão inscrita na Estratégia Turismo 2027 de que o turismo deve ser um meio para o “desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território” – visão que eu naturalmente partilho – tornar-se-ia vazia. Ter dados é essencial para perceber onde estamos, para definir onde queremos estar e para avaliar as políticas implementadas em termos de prossecução de objectivos. No workshop ocorrido no INE, onde se divulgaram os resultados de retomada conta satélite do turismo, tivemos a boa notícia de que esse é um trabalho em curso.

A minha apresentação foi a que se podia adivinhar vinda de uma economista: cheia de gráficos. Já a do Pedro Moura, doutorado em Estatística e Investigação Operacional, foi, de certo modo, surpreendente. Veio ele mostrar-nos que a Matemática esteve envolvida na construção de uma aplicação para a definição de circuitos temáticos sustentáveis em Lisboa, ideia desenvolvida por uns seus alunos. Embora centrada no papel da Investigação Operacional, a exposição dele ilustrou que a inovação é um elemento relevante do turismo.

A ligação do turismo à inovação será, para muitos, menos bizarra que à Matemática, mas, ainda assim, pouco evidente. A actividade turística é quase tão antiga quanto o próprio Homem e, talvez por isso, aparece sob o rótulo de “tradicional”, o que frequentemente se associa a antónimo de “inovador”. Vários estudos contestam esta ideia. E a Organização Mundial do Turismo tem mesmo Prémios Excelência e Inovação no Turismo, cujos vencedores da 14ª edição serão anunciados daqui a uma semana, em Madrid.

Portugal encontra-se nos finalistas: Tourism Training Talent
”, o projecto do Turismo de Portugal na área da formação, pode trazer o galardão para a inovação em políticas públicas e governança. Duplamente importante, porque também é uma aposta na valorização dos recursos humanos. E não será uma estreia, que já ganhámos em 2011 e em 2009. Também já tivemos dois prémios para organizações não-governamentais no Alentejo (2007 e 2013) e um hotel a receber uma menção honrosa em 2015.

Nos últimos anos Portugal soube perceber as novas tendências, nomeadamente ao nível da comercialização do destino, com a aposta nos meios digitais. Mas a importância das novas tecnologias de informação e comunicação, nas quais se incluem os smartphones, com as suas aplicações, ou as redes sociais, não se resume ao papel de veículo da promoção. Elas servem, igualmente, como base para a própria inovação do produto turístico, criando nova oferta ou complementando a já existente. E mais necessário que um troféu numa gala é criar as condições para que o turismo em Portugal continue a ser um caso de sucesso neste contexto de permanente mudança, em que novas tendências socioculturais, demográficas, ambientais, económicas e tecnológicas emergem. Para que seja sustentável.

* ECONOMISTA

IN "O JORNAL ECONÓMICO"
10/01/17


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