21/01/2018

ROSÁLIA AMORIM

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Portugal-Angola.
Entendam-se! 
A economia agradece

A tensão entre Portugal e Angola tem vindo a agudizar-se devido ao julgamento de Manuel Vicente, ex-vice presidente de Angola, na era de José Eduardo dos Santos. O executivo de João Lourenço, recém-empossado presidente, tem demonstrado o seu descontentamento para com a justiça portuguesa; poder de um Estado de direito e que, como sabemos, funciona independentemente do poder do executivo. 

O processo judicial seguirá os seus trâmites normais e legais. O que nos deve preocupar agora é saber como ficam as empresas e as exportações portuguesas que dependem, em parte, de Angola. Como foi referido num artigo do Dinheiro Vivo no sábado, e que lemos aqui com o Diário de Notícias, o setor da construção civil é o mais representativo no mercado angolano e a medida anunciada por João Lourenço, de rever todos os contratos públicos, não surge por acaso e pode afetar esta área e outras. Será esta medida uma espécie de retaliação?

Ainda é cedo para percebermos o impacto da “revisão de contratos” mas “poderá, em última instância, afetar empresas de vários setores”, alerta João Traça, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA). Angola é um mercado “onde as empresas portuguesas vão manter-se”, refere. Uma permanência que tem muitas oportunidades mas também tem custos. Custos de querer gerir, fazer negócios, instituir parcerias e ganhar contratos públicos e, ao mesmo tempo, desperdiçar energias a lidar e a digerir a pressão política que se vai sentindo entre os dois países. 

Costuma dizer-se, muitas vezes e por terras de Luanda, que “em português nos desentendemos”.Seria útil para as duas economias que na língua de Camões nos entendêssemos. Todas as empresas terão a ganhar com isso. Angola é um país com mil oportunidades. E, à medida que a relação luso-angolana se agudiza, o que vemos, de imediato, são outras nações a tentar ocupar o espaço económico que Portugal tem tido naquele país. A relação é umbilical e histórica, para o bem e para o mal, pois tão depressa os Estados se intitulam “irmãos” como estão de costas voltadas. Quem ganha com isso? Francamente ainda não percebi onde está o ganho. No final do dia, perdem os empresários e os quadros nacionais que ali encontram forte potencial de crescimento e perdem também os empresários, os estudantes e os quadros angolanos que procuram em Lisboa a universidade para estudar, o estágio para entrar no mercado de trabalho e as parcerias certas para seguir rumo à Europa. Entendam-se! A economia agradece.

IN "DINHEIRO VIVO"
17/01/18

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