13/01/2018

RITA FONTOURA

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Não vem aí o lobo mau!

Ser o lobo mau é ser exigente; é não estar disposto a engolir tudo o que nos é impingido; é ser socialmente activo na comunidade em que se vive. Caros portugueses, ganhem pois coragem e saiam do sofá.
O título deste artigo lembra-nos, porque já fomos crianças, a história do lobo mau a quem os porquinhos tinham muito respeito e medo. Por isso, quando em adultos ouvimos dizer que vem aí o lobo mau, sabemos que em política, economia, meteorologia ou outra coisa qualquer, está para chegar algo que é no mínimo um grande problema para a área em causa.

Porque é que me lembrei disto? É que em diversos artigos, debates e entrevistas, muitos se desgastam a explicar que o Presidente da República impôs respeito ou medo ao sr. primeiro-ministro e que agora é que vai ser, porque o governo está fragilizado. Se fosse verdade bastaria dizer que vem aí o lobo mau. Quando é preciso explicar à saciedade que neste “novo ciclo” existe um lobo mau, é porque quem explica gostava muito que o lobo mau existisse e que o primeiro-ministro acreditasse, mas… não há lobo mau!

Na realidade há um governo que faz o que quer mais o que a extrema-esquerda quer numa lógica de manutenção do poder – tudo pode ser dito e mais tarde contradito desde que se mantenha o equilíbrio de forças. Para além disto não há mais nada – não há lobo mau nenhum.

Temos um Presidente que eu não critico, antes pelo contrário. Parece-me que tem tido a arte de agir numa função muito espartilhada e com poucos poderes. Dá confiança e carinho aos portugueses; no seu desassossego mostra que se interessa por cada português e não por uma massa de eleitores; mas não é o lobo mau. Sim, dizer mais ou menos preto no branco que a Ministra da Administração Interna tem que largar o lugar, foi só a estucada final, nada tem a ver com ser um lobo mau!

Então onde poderá estar o lobo mau? Temos duas hipóteses: nos partidos da oposição ou nos portugueses. Infelizmente a oposição não tem sido capaz de assumir um papel combativo com ideias novas, com atrevimento, com novidade. Acredito e espero que venha a ser capaz de o fazer de forma consistente, mas por agora ainda não conseguiu.

Restamos nós! Os portugueses, aqueles que geram impostos, que sofrem e lutam, que suspiram por um país melhor, que educam os filhos que serão os políticos de amanhã. Li num estudo que estes portugueses gastam um tempo muito relevante das suas vidas (não cito os números porque não sei se a fonte era rigorosa) frente à televisão e nas redes sociais.

Na esperança de que no tempo que ainda lhes possa sobrar leiam este artigo queria dizer-lhes que há muito para fazer mas que para tal é preciso parar, pensar, estudar, enfim usar o tempo livre de outra maneira.

Experimentem um olhar atento e com espírito crítico para o que se passa à nossa volta.
Por exemplo, a geringonça para o financiamento dos partidos. Jugavam que havia só uma versão de geringonça? Não! Infelizmente tudo o que é mau tende a replicar-se com uma enorme facilidade. Pois se a geringonça funciona para governar, porque não usar o modelo geringonça para esgalhar uma forma de financiar os partidos à tripa forra?

Outro exemplo, o aumento encapsulado de impostos. Lembram-se que nos prometeram não aumentar mais os impostos, coisa que só os malandros da direita é que fazem? E depois, aumentaram o imposto sobre os combustíveis? E que disseram querer baixar esse imposto se o petróleo subisse? E o que aconteceu na realidade foi isso ou fomos enganados mais uma vez?

Mais um exemplo, as cativações feitas pelo governo, na área da saúde e em tantas outras. Mais uma vez enganados, assistimos conformados a que nos dêem com uma mão e nos tirem com a outra.
Muitos mais exemplos poderia dar, mas parece-me que já está claro. Não seria tempo de começarmos a ser o lobo mau? Será que esse papel na sociedade só pode ser representado pela Intersindical quando o PCP quer mostrar que ainda existe?

Ser o lobo mau é ser exigente; é não estar disposto a engolir tudo o que nos é impingido; é ser socialmente activo na comunidade em que se vive; é ir ao fundo das coisas e resolvê-las com altruísmo; é ser atento e interveniente nas escolas dos nossos filhos; é criar grupos de trabalho ou de reflexão sobre temas estruturantes antes que se transformem em temas fracturantes; é usar a memória para não se deixar ludibriar quando chegarem as próximas e fantásticas campanhas eleitorais.

Caros portugueses ganhem coragem e saiam do sofá. Vamos jogar ao lobo mau uma hora por dia ou uma hora por semana? Portugal agradece!

IN "OBSERVADOR"
08/01/18

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