27/12/2017

PAULO FARINHA

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Oferecer roupa interior à mulher? 
Claro que sim, seus valentes

– Boa tarde. Posso ajudar?
– Olhe, pode. As senhoras experimentam sutiãs?
– Como?
– Se experimentam sutiãs? Se podem vesti‑los.
– Mas… porquê? Não sei se estou a perceber a pergunta.
– Se podem vestir os sutiãs para mostrar aos clientes.
– Ah. Para mostrar… Não, isso não. Mas as clientes podem experimentar à vontade. Temos ali provadores.
– Não é para as clientes. É para o cliente. Este cliente. Eu. Queria comprar um conjunto para oferecer à minha mulher no Natal, mas queria ter a certeza de que veste bem. Por isso é que estava a perguntar.
– Er… Bom, não. Isso não. Podemos dar sugestões, responder a dúvidas, aconselhar modelos ou tamanhos. Mas experimentar para os clientes verem, isso não… Mas olhe, compre e leva um talão sem preço. A sua mulher depois pode trocar, se não gostar.
– Porque é que ela não haveria de gostar? Eu conheço os gostos da minha mulher. E sou eu que estou a oferecer. É o meu gosto.
– Bom, se o senhor não quiser, não leva o talão sem preço. É só porque a roupa interior… normalmente… as senhoras gostam de poder escolher… E às vezes trocam. Mas o senhor é que sabe. Alguns maridos por vezes não têm a certeza e para não arriscarem numa coisa tão íntima optam por oferecer com talão. Ou então levam um cheque‑oferta.
– Eu sei que é uma coisa íntima. Por isso é que quero oferecer. Vou lá agora dar‑lhe um cheque. Eu queria era ter a certeza de que o tamanho é bom. E se fica bem nas mamas dela, com essas coisas do push‑up e do wonder e do apertar e levantar até ao pescoço.
– Temos vários modelos com almofada interior para dar esse efeito, sim. Quer que o ajude a escolher?
– Sim. Este vermelho de renda, tem mais tamanhos?
– Temos os tamanhos todos.
– Pois, este é muito pequeno.
– O modelo é mesmo assim. Temos é várias copas e tamanhos.
– Copa? O que é a copa?
– A copa é o tamanho do peito. A concha.
– A minha mulher é mais ou menos como a senhora. A mesma altura. E o peito deve ser igual.
– Será copa B, então? Um 36 B. Se pudesse ver na roupa interior da sua mulher, para ter a certeza.
– Olhe, é assim como a minha mão, está a ver? Um pouco maior do que a minha mão aberta. O que são esses números?
– A largura de costas. As letras são para as copas.
– E tem a certeza do vermelho?
– Ou isso ou roxo.
– Roxo? A sua mulher tem roupa interior dessa cor?
– Não. Por isso é que eu quero oferecer. Olhe cá, quando são os maridos a oferecer, o que é que eles levam?
– Levam cheques-oferta.
– E os outros?
– Levam coisas que as mulheres vêm trocar. Os que não arriscam muito levam em branco ou cor de pele. E algodão. Não renda.
– Isso parece a roupa interior da minha avó!
– São as cores mais sóbrias, em que é mais difícil falhar. E porque nós aconselhamos. E porque as mulheres habitualmente têm roupa interior dessa cor, para o dia-a-dia.
– Eu não quero roupa interior para o dia-a-dia. E quando são as mulheres a escolher?
– Há gostos para tudo. O azulão sai muito.
– Acho que vou levar o vermelho. Aquele ali. Não, o outro. O mais pequeno. Pode embrulhar.
– Tem a certeza de que não quer um talão de oferta?
– Vou arriscar. Olhe, e cintos de ligas, têm?

IN "NOTÍCIAS MAGAZINE"
20/12/17

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