04/10/2017

JOÃO LEMOS ESTEVES

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Dez notas 
politicamente incorretas
 sobre as autárquicas

Dez notas, em jeito de pistas de reflexão para desenvolvimento futuro aqui no i e no “SOL”, sobre o veredito eleitoral das eleições autárquicas

1) O PS obteve um resultado lisonjeiro, mantendo a liderança das câmaras que já eram cor-de-rosa e acrescentando outras – algumas imprevisíveis – à sua contabilidade eleitoral. No entanto, há que não sobrestimar em demasia a vitória socialista nas autárquicas do passado domingo: primeiro, há fatores locais que pesam decisivamente na escolha dos eleitores (por exemplo, Oliveira de Azeméis cai para o PS por fatores relacionados com as suspeitas de corrupção da anterior edilidade); segundo, o PS já partia na liderança porquanto, em 2013, obteve a maioria das câmaras, muitas em primeiro mandato – ora, atendendo ao endémico conservadorismo do eleitorado português, era fácil conjeturar que o PS renovaria tais mandatos; terceiro, nas autárquicas, os eleitores votam mais motivados pelo juízo que efetuam do candidato – e menos por militância ou filiação partidária;

2) Na política, em homenagem ao princípio democrático e pluralista que tanto prezamos, não podemos mudar de critério analítico em função das conveniências que cada um perfilha. É claro que o PS domina o espaço comunicacional. É evidente que muitos daqueles que falam de cátedra sobre política nos media nacionais, sob o manto da independência e imparcialidade, têm um fascínio ilimitado por António Costa e por este PS em concubinato duradouro com a extrema-esquerda. Por conseguinte, não é de estranhar – neste Portugal geringonçado, nada é de estranhar, acrescente-se! – que, afinal, o resultado das autárquicas já esteja a ser apresentado como uma legitimação eleitoral de António Costa, substituindo a sua derrota nas legislativas pela vitória nas autárquicas. Naturalmente, este raciocínio é um raciocínio mentiroso e desonesto – para além de revelar (o que, em abono da verdade, não é novidade) ignorância sobre o sistema constitucional português e a história política pátria. Então, quando o PS perde não se pode extrair lições nacionais de resultados locais; quando o PS ganha, aí já se podem retirar consequências nacionais de resultados locais?! Portanto, os critérios de análise dependem da sua utilidade para as estratégias eleitorais do PS. O próprio António Costa – que havia dito em entrevista recente que as autárquicas são apenas eleições locais – não se coibiu de organizar uma festança em Lisboa, como se tivesse sido eleito primeiro-ministro com maioria absoluta! Com a patetice adicional de uma caminhada a pé e descidas e subidas misteriosas de Fernando Medina no Hotel Altis… Ridículo!

3) Se as autárquicas fossem um indicador fidedigno das tendências nacionais, Luís Marques Mendes teria sido primeiro-ministro de Portugal, bem como António José Seguro (e não António Costa). De facto, a única eleição que Marques Mendes ganhou como líder do partido foram, precisamente, eleições locais em 2005. Nessa data, com José Sócrates em alta, o PSD ganhou a maioria das câmaras – embora Marques Mendes nunca descolasse de Sócrates nas sondagens, acabando mesmo por ser afastado da liderança do partido social-democrata. Por outro lado, António Costa deve agradecer a António José Seguro o resultado do passado domingo: afinal de contas, num ano em que muitos municípios tiveram de mudar de liderança por determinação legal, o ex-líder do PS soube escolher candidatos que lograram obter uma vitória nacional importante. A vitória de domingo foi apenas o prolongamento da vitória de António José Seguro em 2013;

4) Luís Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite deveriam ter mais cuidado (e memória!) na análise de eleições autárquicas. De facto, o agora senador-pitonisa dr. Marques Mendes é o responsável máximo pela agonia do PSD em Lisboa, que se prolonga desde 2006. Isto porque Marques Mendes foi o génio que resolveu tirar a confiança política a Carmona Rodrigues, entregando Lisboa em bandeja dourada a António Costa. Não admira que Marques Mendes seja, ainda hoje, a figura mais popular do PSD entre os militantes socialistas. Já Manuela Ferreira Leite também perdeu eleições autárquicas (desastrosamente!) em 2009 – aliás, Ferreira Leite é a líder do PSD mais derrotada das últimas décadas;

5) O PS em Lisboa perdeu a maioria absoluta em Lisboa, o que significa um decréscimo relevante face ao resultado obtido em 2013. António José Seguro, em 2013, permitiu que António Costa obtivesse maioria absoluta em Lisboa; António Costa não permitiu (com uma candidatura fantasma do PSD) que Fernando Medina obtivesse tal resultado no passado domingo. Quem quiser fazer uma leitura nacional das eleições autárquicas não pode escamotear este dado deveras significativo;

6) Em Lisboa, não foi o PSD que teve um resultado desastroso: foi Teresa Leal Coelho, que é a personificação da tragédia política. Suponhamos que o PSD era governo, Pedro Passos Coelho era o líder político mais popular – e Leal Coelho se mantivesse como a aposta do partido em Lisboa. Os resultados teriam sido positivos? Claro que não! Teresa Leal Coelho, mesmo com o apoio e a bênção do Papa e do próprio Deus, não passaria do resultado paupérrimo que obteve no domingo. Estranho é que alguém no PSD, algum dia, achou que Teresa Leal Coelho pudesse ganhar Lisboa (ou o que quer que fosse!);

7) O magnífico resultado de Assunção Cristas em Lisboa também é uma vitória do PSD. Nós próprios recomendámos o voto na candidatura do CDS/PP na capital de Portugal há três semanas: escrevemos então que o centro-direita deveria mobilizar-se no apoio a Assunção para tirar a maioria absoluta a Fernando Medina. Conseguimos! Missão cumprida! A mobilização dos militantes do PSD, em Lisboa, a favor de Assunção foi deveras relevante: primeiro, demos o crédito merecido à campanha muito inteligente de Assunção Cristas; segundo, ensinámos às elites do PSD que nós, militantes, prezamos a meritocracia – temos orgulho no PSD, mas queremos candidatos competentes e que mereçam a eleição; terceiro, tirámos a maioria absoluta a Medina, obrigando o PS a sair do armário, ou seja, a oficializar o namoro de longa duração com o Bloco de Esquerda. Os militantes e eleitores do PSD e do CDS estão de parabéns pelo resultado de Assunção em Lisboa!

8) Nós escrevemos no “SOL”, em 2016, que o PSD deveria, sem preconceitos, apoiar Rui Moreira no Porto. Primeiro, porque o candidato tem carisma, tem personalidade e tem competência. Segundo, porque permitiria ao PSD construir um programa político moderno, reformista, que partisse do Porto para o país. Terceiro, porque o PSD teria somado uma vitória no Porto – e não uma derrota humilhante. E a conversa sobre o resultado das eleições teria sido bem diferente... Acaso exercêssemos funções de líder do PSD, teríamos apoiado Rui Moreira no Porto – e gostaríamos muito de contar com o seu contributo para o lançamento de um programa reformista e de futuro para Portugal;

9) Passos Coelho sairá da liderança do partido após um percurso político (complexo) que ficará na história do PSD e de Portugal;

10) António Costa deve um ramo de flores, de agradecimento e estima, a António José Seguro pelos resultados do último domingo. E o que fará o grande perdedor da noite, o PCP? O PCP está a ser eleitoralmente comido pelo Bloco de Esquerda…É a vingança de Trotsky sobre Estaline (e seu camarada Álvaro Cunhal) a ocorrer em Portugal?

IN "i"
03/10/17

* Por hábito não fazemos comentários a artigos de opinião, a este não resistimos e à laia de  desabafo:

Primeiro excerto: O magnífico resultado de Assunção Cristas em Lisboa também é uma vitória do PSD.

Segundo excerto: E o que fará o grande perdedor da noite, o PCP? O PCP está a ser eleitoralmente comido pelo Bloco de Esquerda…

Terceiro excerto: O PS obteve um resultado lisonjeiro
 
O PCP perdeu 10 câmaras, tem 24 com 18 maiorias absolutas, a nível nacional para as presidências de câmara a que concorreu  teve 489.189 votos tendo como percentagem 9,46%.

O CDS tem 6 câmaras com 5 maiorias absolutas, a nível nacional para as presidências de câmara a que concorreu  teve 134.311 votos tendo como percentagem 2,6%.

Jerónimo de Sousa demonstrou na sua declaração não estar satisfeito com os resultados, Assunção Cristas deu pulinhos de contente. Face aos números apresentados só percebemos a razão dos saltaricos como disfarce patético da derrota.

 O PS  tem 159 com 142 maiorias absolutas, a nível nacional para as presidências de câmara a que concorreu  teve 1.956.703 votos tendo como percentagem 37,82%
Um resultado deveras lisonjeiro....mas inequívoco.

Não percebemos a ondafobia às esquerdas unidas, já foi há muito esclarecido que os comunistas não comiam criancinhas ao pequeno almoço, sabe-se que quem  as come e a qualquer hora são também alguns prestadores de ofícios religiosos de várias empresas do ramo, uma das quais  onde Assunção Cristas é accionista de  fé.

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