01/10/2017

FILIPA GUIMARÃES

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Hugh Hefner e o fim da fantasia

Se não aparecesse rodeado das suas coelhinhas, a morte do Hugh Hefner não seria tão lamentada como foi. Pelo menos, pelos homens que gostam de ver mulheres sensuais e insinuantes

Se não aparecesse rodeado das suas coelhinhas, a morte do Hugh Hefner não seria tão lamentada como foi. Pelo menos, pelos homens que gostam de ver mulheres sensuais e insinuantes. Desculpem se desiludo alguém, mas do que eles têm realmente pena não é dele, mas das imagens que vos terão despertado na líbido. Mais do que de mulheres, penso que o que ele percebia mesmo era da cabeça masculina. E foi esse o seu grande poder.

O editor concebeu o homem-perfeito. Como ele próprio disse, o seu público-alvo era "educado, com interesses culturais variados que fossem desde a pintura, à filosofia e à música (todos os anos a Playboy tinha um artigo com os melhores discos de jazz do ano), mas que mesmo assim, gostasse de sexo." Por esta ordem, também muitos homens responderam, quando eram descobertos com as revistas, às suas mulheres, mães ou irmãs: "Não comprei isto por ter mulheres nuas! Tem aqui um artigo muito bom sobre o construtivismo russo". Eu também "passei" por esse tipo de desculpa. Mas claro que sempre a fingir que acreditava. Não do interesse dos tais bons textos, mas que era esse "o" motivo.

O que os homens lamentam é terem deixado de poder comprar e ver estas revistas, porque acabaram. Para verem mulheres nuas ou seminuas têm de fazer muita pesquisa. O fim da Playboy coincide também com a enorme oferta da pornografia, a grande responsável pelo fim do erótico. Já não há mais nada para imaginar: está tudo descoberto. Também já não há nada a esconder, porque simplesmente já não existe. Por vezes, penso que a mente de alguns homens gosta de viver numa permanente fantasia. Não é que isso tenha mal algum. As mulheres também têm as suas. Parece-me é que ficam fora da realidade palpável (e apalpável) e sem curiosidade pelo que é real e também belo. Eles no fundo sabem que aquilo não existe. O bom era o inacessível.

Se a Playboy marcou gerações de homens e encheu o ideário erótico-sexual de gerações, cada qual com a sua playmate preferida também deixou muitas mulheres não-coelhas infelizes ou complexadas. Nem o mundo nem o sexo ficaram os mesmos depois da Playboy. Mas é preciso pensar no que se lamenta mesmo. A tristeza não é pela morte do senhor, já com idade avançada. É mesmo pelo fim da fantasia perdida. Nesse aspecto, perdemos todos.

IN "SÁBADO"
29/09/17

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