01/10/2017

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Sexo e romance depois dos 70

Hollywood parece ter descoberto um novo eldorado: as comédias românticas sobre a vida amorosa e sexual dos septuagenários. No Dia Internacional do Idoso, celebrado hoje, um balanço desta tendência através de quatro novos filmes, com quatro atrizes de renome.

Emily Walters, uma viúva americana com uma vida tumultuosa e sem rumo, cruza­‑se com o excêntrico Donald Horner, que vive há 17 anos numa cabana ilegal num parque de Londres. Ele vê o seu estilo de vida ameaçado por um grupo imobiliário que quer construir um condomínio de luxo no local, ela encontra nesta batalha um motivo para se agarrar à vida.
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Entre os dois acaba por nascer uma amizade colorida e especial. Este é o enredo de Hampstead: Nunca É Tarde para Amar, protagonizado pelos veteranos Diane Keaton, de 71 anos, e Brendan Gleeson, de 62, realizado por Joel Hopkins e inspirado na história real do irlandês Harry Hallowes. O filme chegou neste mês às salas portuguesas.

Apesar de a crítica ter sido quase unanimemente arrasadora, o filme é reflexo de uma tendência cada vez mais clara da indústria de cinema de Hollywood: as comédias românticas protagonizadas por seniores. A tendência cinematográfica segue, de resto, aquela que é a tendência demográfica atual nos países industrializados, que têm uma população cada vez mais envelhecida.

A receita destas novas comédias românticas não mudou muito e continua a girar em torno de histórias mais ou menos banais – o casal que se conhece, que se apaixona, que se separa, que enfrenta a doença, que vive um triângulo amoroso ou que lida com problemas na relação – a diferença é que agora os protagonistas têm 60 ou 70 anos ou vez de 20 ou 30.
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As atrizes à cabeça de parte substancial destes filmes são as veteranas Diane Keaton, 71 anos, Glenn Close, 70, Helen Mirren, 72, e Jane Fonda, 79. Algumas foram sex­‑simbols na juventude e, nos ecrãs e fora deles, parecem empenhadas em mostrar que há vida e sexo na terceira idade.

Jane Fonda surpreendeu quando há dois anos disse num talk­‑show que o sexo continuava a ser importante e que imaginar que poderia nunca mais fazê­‑lo era uma coisa muito, muito triste. Glenn Close, na estreia de The Wife no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no mês passado, fez manchetes na imprensa com a frase «Acho que as pessoas ainda não perceberam que mantemos a nossa sexualidade até morrer».

Com estreia prevista para 2018, o filme realizado por Björn Runge conta a história de Joan, que abandonou a carreira promissora como escritora para ser a mulher dedicada de Joe Castleman, um escritor conceituado e mulherengo que acaba por ser agraciado com o Prémio Nobel da Literatura.

Depois de décadas a viver na sombra de um gigante literário, o momento do triunfo do marido acaba por desencadear uma crise. O início do filme envolve uma cena de sexo entre Glenn Close e o veterano Jonathan Pryce e a atriz confessou que era bom que os mais novos a vissem por ser engraçada e, sobretudo, real.

Se isto é digno de nota é porque, como sabemos, o realismo nunca foi um dos pontos fortes das cenas eróticas no cinema, assim como o seu objetivo nunca foi a pedagogia. «Temos sido sempre bombardeados com ideias e imagens de sexo tipificado, centrado na performance superficial, no tamanho dos órgãos sexuais, na beleza física aparente e na quantidade de vezes», diz o psicólogo Vítor Rodrigues. «Daí que entenda que uma abordagem mais diversa, mais autêntica e menos focada nos clichés do costume possa cumprir um bom papel no que toca a melhorar a intimidade e deixar cair complexos.»
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Abordagens diferentes às quais o psicólogo chama «a tasca do sexo», por oposição à «cozinha francesa do sexo». «Na cozinha francesa do sexo, a idade permite refinamento, calma e respeito pelo outro, conhecimento dos corpos, preferências e reações de cada um. Mais que o aspeto do prato, importam os ingredientes e como é cozinhado: a qualidade. E a maturidade – também erótica – ajuda nisso.»

Por isso, e alinhando na metáfora gastronómica, chegou finalmente o tempo em que realizadores, produtores e guionistas alargam a ementa e param de nos servir sempre bitoque e doce da casa naquelas cenas de sexo tipificadas.

Estas comédias românticas acabam também por explorar um tema recorrente na terceira idade: o isolamento e a solidão. «Precisamos de afetos e a ternura é um remédio ímpar. Numa idade mais tardia, tudo isso se mantém e até se renova ou agudiza: se perdemos alguém, sentimos o vazio mas também sentimos como era bom refazer algo semelhante», explica o psicólogo.

Esse é de resto o guião de Our Souls at Night, realizado por Ritesh Batra, com base no livro homónimo de Kent Haruf, que se estreou nesta semana, no Netflix. Cinquenta anos depois do clássico Descalços no Parque (1967), Jane Fonda e Robert Redford voltam a formar um casal no grande ecrã, dando vida a Addie Moore e Louis Waters. Fonda é uma viúva solitária que um dia aborda o vizinho, também viúvo, com uma proposta invulgar: que ele passe a dormir em sua casa, para enfrentarem juntos a solidão das noites.
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Houve um tempo em que o supremo tabu era pensar na vida amorosa e sexual dos pais, agora é a vez dos avós. Mas esta alteração não reflete apenas mudanças demográficas relacionadas com a longevidade. A questão não é apenas haver cada vez mais idosos, é a qualidade de vida que é viável continuar a ter durante a velhice e também – convenhamos – o aspeto com que é possível lá chegar, com ou sem cirurgias plásticas.

Nas redes sociais já há nomes para esta nova geração de seniores: os sexalescentes ou sexygenários. Homens e mulheres na casa dos 60 ou 70 anos, frequentemente utilizadores das novas tecnologias, saudáveis, joviais, que têm como mote aproveitar ao máximo cada dia, que se recusam a ser chamados velhos – porque não se sentem assim – e que são ativos física, mental e sexualmente.

A vida amorosa entre seniores foi tabu durante muito tempo. Demorou mais a chegar ao cinema do que a vida amorosa dos homossexuais, por exemplo. Para isso contribuiu o mito de que os idosos não têm desejo nem são capazes de ter sexo, sobretudo numa fase em que as dores ou as doen­ças preenchem tanto do dia-a-dia.
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O psicólogo Vítor Rodrigues admite que, naturalmente, as doenças, as dores e a perda de vitalidade podem reduzir a libido e produzir impotência nos homens. Mas isso não impede que, no mínimo, as pessoas desfrutem da carícia, do toque, do calor corporal e da intimidade afetiva.

«O sexo não é só tumescências e penetrações, pode ser também atração refinada, profunda intimidade com o outro, respeito e cumplicidade no bem e no mal. As práticas se­xuais, mais do que simplesmente cessarem, podem ser adaptadas às capacidades e às necessidades dos corpos e das pessoas.»

Estreado no Festival de Veneza em setembro e com lançamento previsto só para 2018, The Leisure Seeker, realizado por Paolo Virzì e com Helen Mirren e Donald Sutherland nos papéis principais, explora precisamente a situação de doença. Ela doente oncológica, ele com Alzheimer, decidem realizar uma viagem de autocaravana entre os estados do Massachusetts e da Florida para desfrutaram daquela que será provavelmente a sua última viagem juntos e de um tempo com qualidade de vida que se prevê cada vez mais escasso.

SENIORES: A MODA SEGUE A TENDÊNCIA
E nem só o grande ecrã tem refletido essa tendência, o mundo da moda também. A prová­‑lo estão a quantidade de campanhas de marcas de cosméticos e roupa, bem como editoriais de moda feitos a partir de 2014 com mulheres com mais de 60 anos: a L’Oréal foi repescar Twiggy, a Yves Saint Laurent apresentou Joni Mitchell, a Nars fotografou Charlotte Rampling e a Marc Jacobs, Jessica Lange. Iris Apfel, a empresária e decoradora de interiores americana de 96 anos – a quem já chamaram «starlet geriátrica» – foi o rosto da marca de joias Alexis Bittar e dos cosméticos M.A.C, além de fazer capas de revistas com regularidade.
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E Carmen Dell’Orefice, de 86 anos, apesar de ser modelo desde os 15, talvez nunca tenha tido tanto trabalho como agora. A americana, que entrou para o livro de recordes do Guinness como a modelo com maior tempo de carreira do mundo, disse que quer viver até aos 100 e morrer a usar salto alto. Aos 83, questionada acerca do seu interesse em sexo, respondeu: «Claro que tenho vida sexual, porque é que não havia de ter?»

* Sexo e romance depois dos 70, claro que sim!

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