Um mistério que a justiça
não vai desvendar
Os investigadores da Operação Marquês suspeitam que a fortuna escondida de Sócrates e titulada nos bancos pelo seu amigo Santos Silva serviu para comprar tudo, inclusive para alimentar vícios como o consumo de drogas
Os investigadores da Operação Marquês suspeitam que a fortuna escondida
de Sócrates e titulada nos bancos pelo seu amigo Carlos Santos Silva
serviu para comprar tudo, inclusive para alimentar vícios como o consumo
de drogas. Isso está bem presente no interrogatório à então namorada de
Sócrates, Célia Tavares, realizado em 5 de Fevereiro de 2015, menos de
três meses após a detenção do ex-primeiro-ministro, ocorrida a 21 de
Novembro de 2014, e que divulgamos nesta edição da SÁBADO.
Célia
Tavares foi confrontada com escutas em que aparece a falar em código com
José Sócrates e em que a utilização da palavra "vinho" quererá
significar cocaína ou outras drogas, como especificam tanto o procurador
Rosário Teixeira como o inspector tributário Paulo Silva.
Interrogam-na
directamente sobre a questão da compra da droga, sublinhando que não
querem saber da vida pessoal de ambos mas que é essencial apurar com que
dinheiro tais produtos terão sido comprados, se é que o foram. Estas
perguntas inserem-se numa das principais linhas de investigação da
Operação Marquês, que é a de saber em benefício de quem é que a fortuna
de 25 milhões acumulada e escondida no estrangeiro foi usada.
Segundo a
investigação, o dinheiro formalmente na propriedade de Santos Silva teve
em Sócrates o único e exclusivo beneficiário. Serviu para comprar a
casa de Paris, pagar despesas correntes e extraordinárias de toda a
família de Sócrates, de dívidas fiscais ao dentista, pagou as casas da
ex-mulher, as viagens de férias com as namoradas, os jantares de
conspiração política e, seria a cereja no topo do bolo, os vícios
privados, fossem eles de Sócrates, das suas namoradas ou amigos.
O
dinheiro é o princípio e o fim de tudo e não qualquer espécie de
voyeurismo sobre a vida privada dos intervenientes. Isso compreende-se
de forma linear em todo o episódio. Percebem-se os indícios e as
obrigações de fazer as perguntas em função deles. Percebe-se a força
potencial dos ditos indícios e a importância probatória que poderiam
ter. Na verdade, quem acredita que o melhor amigo de alguém, por muito
rico que seja, pague toda a vida de outrem, incluindo vícios como o
consumo reiterado de drogas!? O único cenário admissível é aquele em que
a investigação trabalha: o dinheiro é titulado por Santos Silva mas, na
realidade, o seu proprietário é Sócrates.
É isto que confere
importância aos indícios recolhidos nas escutas, às meias respostas e
omissões dos inquiridos. É por isso, mas também pelo risco que o
levantamento desta frente de investigação comporta para o Ministério
Público, que a SÁBADO noticia o episódio. Ele está nos autos do
processo, foi um cenário altamente valorizado pela investigação mas, no
fim, sobram mais dúvidas do que certezas. Sobram dúvidas sobre a
veracidade das respostas das testemunhas mas também das vantagens que o
episódio tem para a investigação.
Abrir uma frente destas sem ter
possibilidades de ser consequente (Sócrates não chegou a ser confrontado
com estes indícios) abre a porta a todo o tipo de críticas – por mais
clara que tenha sido a explicação às testemunhas – e a uma vitimização
sem precedentes do próprio ex-primeiro-ministro.
Afinal, este pode ficar
para a história como um daqueles mistérios que a justiça jamais
desvendará, coisa que não é confortável para ninguém.
O pão dos bombeiros
O
País que anda há demasiado tempo a pagar as falcatruas da banca, que
foi espremido pela troika e sustenta, com os seus impostos, uma voraz e
insaciável máquina estatal, não tem dinheiro para alimentar os seus
bravos bombeiros nem consegue pôr ordem na solidariedade com as vítimas
dos fogos. Se tudo isto não é uma grande vergonha...
IN "SÁBADO"
07/09/17
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