26/08/2017

HELENA GONÇALVES

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Falar de ética nas empresas?
 Sim. E regularmente!

Podemos falar também das “pequenas” questões éticas, muitas vezes inconscientes, como não respeitar os colegas e fazer discriminação de vários tipos.

Quem me conhece sabe que não me canso de repetir que é crucial falar-se regularmente de ética nas organizações, manter o tema da ética, permanentemente, na agenda, em todas as áreas e em todos os níveis hierárquicos. É a única forma de criar uma cultura ética. E quando falo de ética, de cultura ética, quero dizer, para simplificar: fazer o que é correto, justo, honesto e legal.

Dan Ariely, no livro Previsivelmente Irracional, sugere que se formos recordados da “moralidade” no momento da tentação temos mais tendência para sermos honestos. Mas como identificar esse momento? O dia a dia das organizações está repleto de “momentos de tentação” e, por isso, a única forma da ética estar presente quando as coisas acontecem é falar sobre ética regularmente.

Ao falarmos sobre ética poderemos estar a evitar comportamentos não éticos ou, pelo menos, a fazer com que as pessoas que os têm estejam disso mais conscientes. E não estamos a falar apenas das “grandes” questões éticas, como, por exemplo, suborno (essas, as pessoas, em regra, estão delas conscientes); podemos falar também das “pequenas” questões éticas, muitas vezes inconscientes, como não respeitar os colegas, fazer discriminação de vários tipos, utilizar recursos da empresa, dar informação confidencial, entre tantos outros temas.

Falar sobre ética é, também, uma das formas (e talvez a mais importante) de manter o código de ética de uma organização “vivo”, ou seja, garantir que é lido, interpretado e apreendido por cada leitor. Falar sobre o código é dar-lhe existência, é fomentar confiança nos compromissos que nele estão (ou deveriam estar) assumidos. E é isso que, em última análise, poderá permitir que um colaborador possa reportar situações ou atuações que não estão em conformidade com o que lá vem expresso.

Estou profundamente convicta de que, usando ou não o código de ética como pretexto, é muito importante falar de ética nas empresas, seja através de formação, campanhas de comunicação ou reuniões de equipa, sobretudo se os assuntos forem identificados como relevantes e oportunos. Por exemplo, neste momento, com o novo Regulamento Geral de Proteção de Dados, é absolutamente necessário falar-se sobre confidencialidade de informação em qualquer tipo organização.

Mas estou igualmente convicta de que nem sempre é fácil falar sobre ética, seja no conteúdo seja na forma. Por isso, criámos, em 2015, o Fórum de Ética da Católica Porto Business School. Fizemo-lo porque constatámos que não existia um espaço de reflexão para líderes empresariais, que não fosse só de transmissão de informação, mas sim um espaço de descoberta individual e de promoção da descoberta nos outros, onde pudessem ser discutidas temáticas relevantes para cada um e para as respetivas organizações.

Por isso, concebemo-lo com três objetivos: estimular e apoiar a reflexão sobre ética empresarial; promover a troca de experiências entre organizações; criar e partilhar conhecimento no domínio da ética. Enfim, para falarmos de ética nas empresas, entre pares, num ambiente de confiança e abertura. Este espaço de diálogo, reflexão e ação para lideranças responsáveis é assim um contributo da Católica Porto Business School para que, cada vez mais, possamos falar de ética nas empresas, reforçando o desenvolvimento de culturas (mais) éticas nas nossas organizações e, naturalmente, na sociedade.

As organizações são feitas de pessoas que, naturalmente, tomam decisões todos os dias e, por isso, não é possível falar-se de uma cultura de ética se não tivermos a ética presente no quotidiano da organização. É por isso que falar sobre ética é tão importante.

* Docente da Católica Porto Business School

IN "O JORNAL ECONÓMICO"
22/08/17


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