21/07/2017

ANA SÁ LOPES

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O sentido de Estado 
é uma coisa que tem dias

Investigar «Doa a quem doer, não deixando ninguém imune», disse Marcelo. Mas então era só tralha sem risco para o país?

António Costa tem sorte, até na desgraça. Depois da tragédia de Pedrógão Grande e do que se passou em Tancos, o primeiro-ministro conta com a excecional lealdade do Bloco de Esquerda e do PCP para o ampararem nos tempos difíceis.

E este é um dos tempos. Se António Costa tivesse maioria absoluta, o PCP e o Bloco de Esquerda estariam a fazer uma oposição devastadora – como sempre fizeram a todos os governos quer do PS quer do PSD/CDS. Mas Costa pode dar graças a deus por não ter maioria absoluta – a geringonça faz mais pela sobrevivência política do primeiro-ministro do que uma maioria socialista na Assembleia da República. A continuar assim, é natural que nas próximas eleições Costa faça tudo para não conseguir maioria absoluta. Aliás, não foi à toa que o primeiro-ministro já disse publicamente que a coisa se pode repetir. Aquilo dá-lhe um jeito dos diabos.

Quando a dimensão do assalto a Tancos foi tornada pública, o PCP foi dos primeiros partidos a reagir. Nessa quase longínqua sexta-feira, o PCP emitiu um comunicado oficial muito duro, a pedir «responsabilidades políticas», mais ou menos à mesma hora em que António Costa fazia a mala para as férias em Palma de Maiorca. Enquanto Costa se mantinha em silêncio – e Palma de Maiorca tem internet, telefones e Skype – o país entrava em estado de choque com o assalto a Tancos. O ministro da Defesa admitia que o material roubado viesse a «colidir com a nossa segurança», aceitando que poderia ir parar a redes terroristas. O Presidente da República fez declarações tonitruantes: era preciso investigar tudo «doa a quem doer e não deixando ninguém imune».

Costa continuou impávido as suas férias. Quando chegou, numa reunião com as Forças Armadas, explicou que tinha ido para Palma de Maiorca descansado porque os serviços de segurança o avisaram que não havia riscos – apesar do Ministério Público ter aberto uma investigação. O chefe militar explicou que o material roubado, afinal, não servia para nada. Era só tralha. Alguém anda a fazer de nós parvos. Entre as explicações em São Bento e a teoria da conspiração de Vasco Lourenço segundo a qual tudo se tratou de uma intentona para prejudicar o Governo PS, venha o diabo e escolha.

IN "SOL"
15/07/17

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