11/06/2017

MARISA MATIAS

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Vamos falar sobre sexismo?

'Quer trepar no galinheiro', 'depravada', 'vaca', 'agarrada', 'drogada', 'lésbica' e 'badalhoca'

(Esta é uma amostra muito pequena das coisas que me chamam nas redes sociais)

Na sexta-feira passada estive numa escola na Marinha Grande. Entre as várias perguntas, um aluno quis saber sobre o sexismo na política, se era mesmo assim como se dizia ou não. Eu respondi-lhe que sim, mas era preciso exemplificar. Fiquei a pensar nisso. A pensar nos comentários que leio sobre mim e que procuro ignorar. Se há coisa que aceito é a crítica, bem mais do que precioso na democracia, outra coisa é o insulto. Eis que fiz uma pequena pesquisa dos comentários escritos sobre mim e lá estava ele, o sexismo, em todo o seu esplendor. 

A cultura do insulto é uma prática corrente nas redes sociais, o insulto sexista não é excepção. Peguei numa pequena amostra de comentários que me fizeram e aqui está ela. Uma montagem só com comentários de pessoas aparentemente reais, já que têm nomes, fotografia e perfis no Facebook. Pessoas como todas as pessoas, médicos, técnicos superiores, trabalhadores, pessoas como nós. Há, no entanto, um dado comum nestes que me apareceram primeiro: são todos homens a dirigir-se a uma mulher. Parte deles há-de ter companheira, parte há-de ter filhas, todos tiveram mãe. E todos se acham no direito de se dirigir a uma mulher que não conhecem (sou eu, mas podia ser outra) nestes termos.

Comentários destes não são para ignorar, pensei logo. São mais do que sintomáticos do que não podemos permitir. Todos vazios de crítica ou comentário político. Todos carregados de preconceito ao limite. Todos com o intuito de ofender. Sim, por incrível que pareça, ainda há muita gente que pensa que chamar lésbica a alguém é insulto do maior. 

Não nos iludamos, não se trata de uma excepção. Trata-se, antes, de um pensamento dominante. O mesmo que tantas vezes mata. Trata-se de um insulto tão aceite socialmente que nem é preciso encontrar um disfarce para fazê-lo. É assim, ponto final, dirão eles.

Não me intimidam. Não me fazem baixar os braços. Mas isto é completamente diferente da crítica democrática. Isto é outra coisa. É parte da razão de fazer política todos os dias. Porque isto é inaceitável. Eis estes homens, filhos de mulheres, a continuar a alimentar a ideia de que as mulheres são coisas, menores do que muitas das outras coisas com as quais lidam todos os dias.
Não, este tipo de comentários não se deve ignorar. Combate-se. O sexismo só será derrotado quando deixar de ser ignorado. 

Quando o próximo aluno me pedir exemplos concretos tê-los-ei na ponta da língua, com nomes e tudo. E hei-de agradecer sempre ao aluno da Marinha Grande por querer a prova do exemplo.

IN "GERINGONÇA"
06/06/17

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