25/06/2017

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ESTA SEMANA NO 
"DINHEIRO VIVO"

Um selo pela igualdade que promete
  dez biliões à economia

Salários. As desigualdades entre homens e mulheres custam biliões à economia mundial. Há uma portuguesa a trabalhar para que isso mude

Portugal começou pelo topo da pirâmide. De acordo com a lei aprovada no Parlamento a 23 de junho, a partir de janeiro de 2018 as empresas do Estado e as cotadas em bolsa passam a ter de cumprir quotas de género nos conselhos de administração. A medida é um “passo importante” no caminho da igualdade mas “não chega”. 
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Quem o diz é Luìza Palma, líder em Portugal da All Ladies League (ALL), uma organização internacional criada em 2011 e com presença em 150 países que organiza o Women Economic Forum. “A ALL é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo ser um agente ativo e criar os mecanismos necessários para acelerar o que os governos não conseguem fazer no que diz respeito à igualdade de género”, explica Luìza Palma.

Com uma carreira de três décadas na banca de investimento, “um mundo de homens” como a própria o descreve, foi apenas em janeiro, numa convenção em Londres, que sentiu todos os olhos postos em si. “Falei sobre a lepra, que em alguns países está novamente a espalhar- se. A fundadora da ALL estava lá, gostou de me ouvir e convidou-me para integrar a organização”, conta ao DN/Dinheiro Vivo.

Precisou de poucos meses para provar que está preparada para liderar uma revolução. E partiu de uma premissa simples. Segundo um estudo da consultora McKinsey, até 2025 a economia mundial pode ganhar 12 biliões de dólares, cerca de 10,7 biliões de euros, se os países conseguirem reduzir as desigualdades laborais entre homens e mulheres.

A experiência em finanças permitiu-lhe criar de raiz um modelo económico que será apresentado ao Banco Mundial em outubro, e que promete pôr um travão às disparidades. “É um modelo económico a nível de governance, totalmente inovador, que dá às empresas um selo de qualidade caso cumpram os critérios de igualdade de género”, explica.

Na prática, caso as empresas satisfaçam os requisitos recebem uma certificação que as torna elegíveis para receberem empréstimos a taxas de juro mais baixas. O objetivo de Luìza, que também já está a trabalhar junto das Nações Unidas na definição dos critérios necessários para a obtenção do certificado, é que o modelo seja adotado pelo setor financeiro a nível mundial.

“Se conseguirmos que este modelo seja aplicado em conjunto com outras medidas governamentais, podemos estar a falar de ganhos em torno dos 20 ou 25 biliões de dólares. A economia mundial não pode prescindir disso, estamos a deitar dinheiro fora, é inadmissível”, sublinha.

Mas como é que o dinheiro é gerado? “É um mecanismo simples de microeconomia. As empresas, ao contratarem mais mulheres, vão ter de nivelar os seus salários. Com a mulher a ganhar mais, o agregado familiar vai pagar mais impostos, os défices baixam e há mais consumo. Temos à nossa frente uma prateleira de ferramentas económicas, temos é de saber aplicá-las na economia real, coisa que até agora ninguém fez”, salienta a responsável. O modelo, revela Luìza, já despertou interesse junto do Fórum Económico Mundial e de governos de vários países, incluindo no Médio Oriente. E já lhe valeu a distinção de “Ícone feminino na criação de um mundo melhor”, que recebeu em maio, na Índia.

As previsões do Banco Mundial, segundo as quais a paridade de géneros só será atingida dentro de 170 anos, não fazem Luìza baixar os braços. “Não temos esse tempo, é impensável. A revolução tecnológica está à porta, não vai esperar por nós, temos de atuar agora. A inteligência artificial já está a entrar nas empresas e vai fazer com que o género desapareça. Mas acho que hoje as empresas já têm alguma sensibilidade em relação a isto, há uma satisfação de cidadania, de ética e de boas práticas”, afirma.

Ainda assim, reconhece que “ainda há muito que fazer”, porque existe “um problema cultural grave”. É por isso que aplaude o “trabalho extraordinário” feito pelas deputadas dos vários partidos na luta pela aprovação da lei das quotas, lembrando que em Portugal as mulheres ainda ganham menos 17% do que os homens. “As quotas são o chamado mal necessário. A lei não é uma sujeição, é um caminho a seguir. Tem de se começar por algum lado e pela administração é o caminho mais fácil. Sem o setor privado não conseguiríamos ter uma adesão coletiva a esta medida”, diz.

Para 15 e 16 de outubro está já agendado um encontro do Women Economic Forum em Lisboa, em que será apresentado o certificado de igualdade para as empresas juntamente com outros dois “grandes elementos inovadores”, que Luìza Palma não quer para já desvendar. A organização espera receber 400 participantes, a maior parte estrangeiros, entre chefes de Estado e de governo, representantes das Nações Unidas, prémios Nobel e artistas de Hollywood e Bollywood. “Será um simpósio, porque as pessoas vêm cá para aprender. Vamos transmitir algo novo, não é apenas mais uma palestra. Vamos trocar ideias sobre o que cada um faz a nível da inovação para a igualdade de género. Vamos fazer a diferença”, promete a responsável.

* A igualdade de género começa em casa, onde também começa  a irracionalidade masculina para aceitar este facto.

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