17/06/2017

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  HOJE NO 
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

"As estações têm a ver com o eixo
 da Terra e não com o clima"

O especialista em alterações climáticas e antigo diretor do Instituto de Meteorologia de Portugal (1987-1988) alerta para os fenómenos extremos - ondas de calor e chuvas intensas em curtos períodos de tempo - que têm afetado o clima, uma consequência das alterações climáticas. Filipe Duarte Santos é atualmente presidente do Conselho Nacional do Ambiente.

Portugal tem um tempo fácil de prever?
O tempo é diferente do clima. O tempo é o estado instantâneo da atmosfera e o clima é a média e variabilidade das variáveis meteorológicas (temperatura, humidade do ar, precipitação, vento, radiação solar) durante um intervalo de tempo, que são de 30 anos. Prever o tempo hoje em dia não é difícil, porque é feita com base em modelos climáticos da atmosfera, com modelos matemáticos e a memória dos computadores. 
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A previsão perde fiabilidade a partir de 7 dias. Portugal não tem capacidade, nem meios técnicos e humanos, para ter esses grandes programas informáticos e utiliza os modelos que correm nos centros especializados, como o centro europeu de previsão do tempo a médio prazo. Somos membros e usamos esses modelos globais. Agora quando há falhas isso tem a ver com o facto de que há sempre uma certa incerteza, quando se fala de tempo.

Já há impactos das alterações climáticas no nosso clima?
Sim, quando falamos em clima estamos a falar de períodos de 30 anos e uma comparação significa um total dos últimos 60 anos. Aí houve uma mudança climática, não é só em Portugal mas em todo o mundo. A temperatura média global tem estado a aumentar e já aumentou 1,1 graus Celsius desde o período pré-industrial. Isso reflete-se em ondas de calor, que afetam sobretudo a população mais idosa. A Europa também tem menos precipitação anual (o valor de precipitação acumulado durante o ano). Há uma maior frequência dos fenómenos extremos - ondas de calor, quando a precipitação se dá com grande intensidade num intervalo de tempo curto, secas - que estão mais intensos. Já a precipitação média tem estado a diminuir no nosso país.

O que se pode esperar nos próximos anos?
É de esperar que o clima se altere, com tendência a agravar-se nos próximos anos. Só deixava de haver essa tendência se conseguíssemos emitir menos quantidades de gases com efeitos estufa. A sua concentração está aumentar porque se faz a queima dos combustíveis fósseis e isso aumenta o efeito estufa natural que existe, daí a tendência para o aumento da temperatura e dos fenómenos extremos. Tudo isso é muito provável que se intensifique no futuro.

Como vai ser este verão?
Não é possível saber. Têm sido feitos esforços no sentido de se prever, por exemplo, se o próximo outono vai ser chuvoso ou não, frio ou quente. Há um grande esforço científico, mas por enquanto não há sucesso.

E as diferenças entre as estações. Vão se notar menos?
As pessoas dizem isso com muita frequência, mas a razão porque há estações do ano tem a ver com o eixo da Terra estar inclinado. Se o eixo estivesse na vertical, assistia-se aquilo que se observa nas regiões tropicais, como a cidade Manaus, ou Singapura onde não há praticamente estações. Essa é apenas uma ideia que as pessoas têm e não tem a ver com o clima.

* Diz quem sabe, aprendamos!

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