05/05/2017

ANTÓNIO JOSÉ SILVA

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Organização do Desporto
 nas Instituições de Ensino
Superior Público em Portugal 

O desporto na Universidade comummente e anacronicamente designado por desporto Universitário — desporto é o objeto da atividade e a Universidade o contexto no qual se desenvolve não modificando nem as regras nem os procedimentos da sua operacionalização — surgiu no século XIX em Inglaterra e foi introduzido nas Instituições de Ensino Superior (IES) com o objetivo de gerir os tempos livres dos estudantes, fomentado a confraternização e fator importante para alcançar um estilo de vida mais saudável.

Décadas mais tarde, o desporto na universidade organizou-se sob a tutela da confederação internacional de estudantes (ICS), liderada pelo Francês Jean Petitjean, que organizou uma série de jogos universitários (de 1923 em Paris até 1939 no Mónaco) instituição que daria lugar à FISU em 1948, pela ação de Paul Schleimer, dando origem à organização da semana internacional do desporto (1949 em Merano, Itália) percursora, mais tarde, dos jogos Mundiais Universitários (1957, pela Federação Francesa do desporto Universitário).

Em Portugal o desporto na universidade está na dependência da FADU — Federação Académica do Desporto Universitário- Federação multidesportiva com a missão de organizar o desporto na universidade em toda a sua dimensão - desportiva, educativa e social — fomentando a competição, o convívio e intercâmbio de estudantes das várias instituições de ensino superior dentro e fora de Portugal.

O facto de o desporto nas IES universidades ser uma área em cada vez maior expansão, principalmente na última década, quer pela sua importância crescente na sociedade quer pelo reconhecimento, na missão institucional das IES que assume, provocou a necessidade de se delinearem opções estratégicas, tendo em conta, as atividades e o modelo de organização, obrigando à criação de serviços desportivos integrados ou autónomos.

Na rede pública de IES em Portugal, constituída por 13 Universidades públicas o ISCTE e a Universidade católica e 15 Institutos Politécnicos, cerca de 71% das Universidades e 67% dos Institutos politécnicos possuem um serviço ou gabinete desportivo responsável pela gestão do desporto sob as mais variadas formas de organização.

No último encontro de Serviços Desportivos Universitários do Ensino Superior de Portugal, realizado em Leiria em janeiro de 2017, foram apresentados dados de 12 destas IES públicas em Portugal (3).

A maioria dos serviços desportivos (50%) estão alocados aos Serviços de Ação Social; 25% estão na dependência direta ou da reitoria da universidade ou da presidência dos institutos; 16%, são geridos pelas Associações de estudantes e/ou académicas e os restantes 9% são geridos por serviços autónomos.

Mais do que reforçar a existência, já demonstrada, de diferentes modelos de organização do desporto, o que nos deve preocupar é o serviço que prestam aos estudantes, de acordo com as condições estruturais, de enquadramento técnico-científico e académico que disponibilizam, sendo paradigmático que nalgumas IES nem a coordenação científica dos programas sejam assumidos por recursos qualificados existentes.

A generalidade dos serviços com a tutela do desporto possuem elementos comuns: forte ligação aos estudantes-atletas pois são estes que representam a Instituição nos diferentes campeonatos organizados pela Federação Académica de Desporto Universitário (FADU); recursos humanos, técnicos qualificados; gestão eficaz dos espaços desportivos disponíveis e/ou a agregar; capacidade de captar Atletas-Estudantes, através da atração regulamentar que permita conciliar os estudos com a prática desportiva.

Não existindo no quadro de referência europeu um modelo de organização e estruturação do desporto equivalente ao existente no paradigma internacional, a NCAA — National Collegiate Athletic Association — entidade máxima do desporto na universidade nos Estados Unidos da América, o facto é que cada vez mais a importância crescente do desporto nas IES em Portugal obriga a novas práticas de organização podendo a prazo ser uma fator diferenciador para a captação de novos alunos e afirmação Nacional e Internacional das instituições com uma papel relevante nos resultados desportivos dos nossos desportistas.
Papel das IES no desporto na Universidade.

O desporto na universidade deve-se basear na educação: dos valores, à prática como modelo e ao rendimento como excelência, que vê nos participantes — os atletas — como estudantes em busca de uma educação, devidamente alinhada com a missão, visão e valores institucionais.

Há, por isso, elementos nucleares para a consolidação dos modelos de organização e promoção do desporto que deveriam estar presentes em todas as IES, públicas.

Ao nível da organização e massificação:
a. Inscrevendo a promoção da prática regular do desporto na comunidade académica, na missão, visão e valores institucionais, assumindo a aposta no desporto e exercício como pilar estratégico da formação e bem-estar da comunidade;

b. Promovendo o desporto como um setor de excelência para a investigação e inovação.

Ao nível do rendimento desportivo:
a. Atrair estudantes-atletas para prática regular ativa, e participação competitiva nos campeonatos organizados pela FADU devidamente coordenados com o percurso académico;

b. Atrair, criando condições especiais estudantes-atletas de alto rendimento desportivo, aumentando a projeção da imagem institucional ao nível regional, nacional e internacional, por um lado, e possibilitando as carreiras duais por outro.

Papel complementar da FADU no desporto na e das IES
Tendo em consideração a importância, representatividade e o papel progressivo que o desporto nas IES desempenha atualmente seria determinante um trabalho complementar da FADU na definição de políticas transversais, especificamente:

1. Na redefinição da missão institucional das IES inserindo o desporto e o exercício num conceito de Health-Campus transversal com a definição de unidades curriculares e respetivos ECTS no currículo dos alunos dos diferentes ciclos de estudo;

2. No apoio à definição dos modelos de organização dos serviços desportivos face ao benchmarking existente e à massa crítica institucional neste âmbito;

3. No apoio à definição institucional de vários regulamentos:

a. Estudante-Atleta, prática federada, nas diferentes IES;

b. Estudante- atleta de alto rendimento em cooperação estratégica com o subsistema de alto rendimento desportivo e carreiras duais;

c. Atribuição bolsas de estudo, totais e/ou parciais face ao envolvimento (1) e representatividade (2) dos estudantes e os resultados desportivos.

4. Coordenação, entre as federações desportivas e as IES em tarefas determinantes: i) sinalização dos locais institucionais de prática com melhores condições para o alto rendimento; ii) criação de laboratórios de apoio institucionais de controlo e avaliação do processo de treino, disponibilizando os recursos humanos, logísticos e organizativos existentes para esse efeito.

«Podemos sempre motivar-nos a chegar mais longe. Escrevam sobre isso, sonhem com isso. Mas depois, transformem em ação. Não se limitem a sonhar», Dan Gable.

* Professor Catedrático Departamento Ciências Desporto, Exercício e Saúde da UTAD; Membro do Conselho Nacional Educação (CNE); Membro do Conselho Nacional do Desporto (CND); Presidente do Conselho Cientifico da Rede Euro Americana de Motricidade Humana; Presidente da Federação Portuguesa de Natação.

(2) Sérgio Pereira — Mestre em gestão desportiva. Gestor desportivo dos SasUevora

(3) Gabinete de Desporto da Universidade do Porto, 2017.

IN "A BOLA"
03/05 /17

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