05/04/2017

PAULO SIMÕES

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Dona Branca e o Zé Povinho

A solução anunciada pelo primeiro-ministro para o Novo Banco procura, em simultâneo, mostrar que este governo soube agir onde o anterior se atrapalhou, e conseguiu uma saída limpa para os contribuintes portugueses.

António Costa fez questão de ser ele próprio a dar a boa nova aos habitantes do retângulo e ilhas conexas: a venda do Novo Banco não terá “impacto direto ou indireto nas contas públicas nem novos encargos para os contribuintes”. Será a banca, através do fundo de resolução bancária, a arcar com eventuais responsabilidades futuras e nunca o Zé Povinho, o Zé que paga os impostos que os governantes têm vindo a injetar aos milhões na falida e descredibilizada banca portuguesa.

Aplaudimos e assobiamos? Marcamos a data como futuro feriado nacional? Ou tomamos o remédio agora anunciado com as devidas cautelas e suspeitosos de que possa ser um mero placebo financeiro?


A banca portuguesa está fragilizada, a maioria dos bancos teve que lançar SOS ao Estado para poder sobreviver. Correram-se riscos demasiados, inventaram-se produtos financeiros tão complexos que só mesmo quem os desenhou os compreendia; venderam-se esses e outros produtos com suporte num marketing agressivo a prometer ganhos fantásticos esquecendo-se de informar os menos conhecedores dos enormes riscos que corriam. A banca portuguesa parecia, a dada altura, uma espécie de Dona Branca legalizada e agora é o que se sabe: lesados no Banif e BES, dúvidas sobre alguns dos principais bancos portugueses, e uma imagem externa pouco positiva para o sistema bancário português. E o problema é que sem uma banca forte e ágil não há economia que sobreviva.

Contudo, essa banca forte e dinâmica não pode ser a mesma banca suspeita de práticas à Dona Branca que deixam o Zé Povinho com as algibeiras ainda mais vazias. A banca deve ser tão forte quanto transparente.

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
03/04/17

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