14/04/2017

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HOJE  NO 
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O que diz a ciência? 
Na guerra do leite há estudos 
para todos os gostos

Há anos que são destacados os benefícios ligados ao consumo deste produto. Por ser uma fonte de cálcio e de proteínas e um aliado poderoso no combate à osteoporose. Mas há quem diga que todos os estudos a favor são pagos a peso de ouro pelas empresas do setor e garanta que só as pesquisas favoráveis à sua tese são rigorosas e honestas. É o mundo em que vivemos.

Como em quase todos os casos de estudos sobre se devemos comer isto ou aquilo, se faz bem ou não, se os benefícios se sobrepõem ou não a tudo o resto, multiplicam--se análises contra e a favor do consumo de leite.
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Durante anos abundaram anúncios que associavam o consumo de leite a uma vida melhor e cultivavam a ideia de que este produto tinha os mais variados benefícios. E apenas isto: benefícios.

Durante décadas foram apresentados múltiplos estudos, por organizações de nutrição, acerca do bem que fazia ingerir leite regularmente. No entanto, embora o Comité Nacional de Laticínios norte-americano tenha garantido que se tratava de estudos feitos de forma autónoma, muitos questionaram desde cedo a veracidade da garantia dada.

A polémica e as dúvidas ganharam ainda mais dimensão depois de uma pesquisa mostrar que mais de um terço dos estudos sobre leite, divulgados entre 1999 e 2003, tinham recebido financiamento da indústria. Mais: os estudos que haviam sido inteiramente financiados por empresas de laticínios mostravam sempre conclusões que favoreciam todos os interesses das empresas que tinham estado envolvidas nos pagamentos.

A imprensa norte-americana chegou mesmo a referir que algumas das grandes empresas de laticínios gastam milhões todos os anos em verbas dadas a associações de nutrição e ainda a alguns políticos.

Mas, no fim de contas, o leite faz mal?
Continua a ser uma das perguntas para um milhão de euros, até porque há respostas para todos os gostos. A única certeza que existe, no entanto, é que, nos últimos anos, os benefícios frequentemente associados ao leite começaram a ser cada vez mais questionados.

Mas a história mostra que a dúvida que afeta cada vez mais a população mundial, e que já levou muitos a mudarem os seus hábitos, já tinha sido levantada por um investigador da Universidade de Harvard há muitos anos atrás. Mark Hegsted começou a colocar várias interrogações sobre este assunto ainda em 1951.

Com o objetivo de perceber se era necessário consumir tanto leite como era avançado por muitos, Mark decidiu fazer uma experiência e analisou quais eram os níveis de cálcio de um grupo de prisioneiros do Peru. Apesar de ter sido baseado numa amostra reduzida e composta apenas por elementos do sexo masculino, o nutricionista acabou por concluir que, afinal, não era necessário o consumo de leite que se tinha enraizado na cultura do país.
 
Mas falamos de um estudo que quase não teve impacto, apesar de as conclusões serem controversas. O governo continuou a recomendar o consumo de leite e a população continuou a consumir.
Mas o passar dos anos foi trazendo novos estudos, a maioria a alertar para a possibilidade de o leite não ter tantos efeitos positivos como as pessoas continuavam a pensar que tinha. Um dos investigadores que mais trabalhos desenvolveram na área acabou por ser Walter Willett, também ele de Harvard.

Numa das experiências que fez acabou mesmo por afirmar que quem consumia mais leite estava mais exposto à possibilidade de vir a ter problemas de saúde do que quem optava por um consumo muito mais moderado.

Os anos passaram, sempre com múltiplos estudos a favor e contra. Em 2014, a Universidade de Uppsala, na Suécia, voltava ao tema e dava destaque a um trabalho que revelava que beber três copos por dia não só não ajudava a fortalecer os ossos como aumentava o risco de morrer mais cedo. No caso dos homens, um outro estudo revelou, por exemplo, que os homens que, durante um teste, tinham bebido dois copos por dia, apresentaram o dobro do risco de desenvolver cancro da próstata.

Mais recentemente, já em 2015, a polémica voltava a instalar-se depois de aparecerem alguns cientistas a sublinhar a importância de parar o consumo de leite. Na publicação “Medical Association Pediatrics”, o cientista David Ludwig sublinhou várias vezes que os humanos não têm necessidade nutricional de consumir leite de origem animal, tentando destronar os argumentos de que o leite é essencial como fonte de cálcio, essencial na formação dos ossos.

Mas nem só o argumento do cálcio é usado por quem defende o consumo deste produto, que entrou na alimentação humana há mais de 8 mil anos. Muitos sublinham a riqueza em carboidratos, vitamina B12 e potássio, além de ser uma importante fonte de proteínas. A tentar pressionar a balança para o lado dos argumentos a favor, vários estudos sublinharam ainda que a prova de que o leite é essencial é o facto de ter de ser usado para a sobrevivência dos bebés que, por um motivo ou por outro, não podem beber leite materno. A somar a isto vem ainda a importante prevenção da osteoporose.

Mas também aqui voltam a surgir diferentes correntes de pensamento, porque o argumento da alimentação dos bebés serve para que muitos sublinhem o facto de o leite materno ser o único adequado para os humanos. Outro argumento é o facto de existir um grande número de pessoas que mostram ter dificuldade em digerir o produto.

Seja como for, a maioria dos autores dos vários estudos que já foram publicados acabaram por pedir alguma cautela na interpretação das conclusões que têm vindo a ser apresentadas, tanto contra como a favor. Também não falta quem defenda que são necessários mais estudos para aprofundar o assunto.

* Nós preferimos não beber leite, não conhecemos nenhum lobby que faça insistente campanha contra o consumo de leite, pelo contrário existem muitos a favor que chegam a comprar jornalistas e políticos.


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