08/04/2017

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ESTA SEMANA  NA 
"VISÃO"
Não ao soutien! 
Contra o preconceito 
e a sexualização das mamas

Há cada vez mais adeptas da moda de andar sem soutien. A seu favor, a ciência anui que a opção deve depender apenas do conforto – e gosto – de cada mulher

Angelina Jolie ia formosa e nada insegura ao encontro com o arcebispo de Canterbury, que no final só teve palavras bonitas – mas do que mais se falou foi de a atriz e embaixadora das Nações Unidas se ter apresentado sem soutien. A atriz já tinha ousado o feito, em setembro, durante uma visita a um campo de refugiados, mas desta vez, por ser com quem era, o caso tornou-se viral. 
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FREE THE NIPPLE
Mantendo-se longe da polémica, o arcebispo Justin Welby limitou-se a tweetar um agradecimento pela visita. 
“É um privilégio receber a enviada especial das Nações Unidas para os Refugiados”, escreveu Justin Welby. Mas assim que as imagens da conversa foram partilhadas pelo religioso, os comentários não demoraram: “Que vergonha, ela precisa de um soutien!”, repetiu-se, aqui e ali. 

Entretanto, já se reacendera o movimento Free the Nipple, nome dado pela brasileira Lina Esco ao documentário de protesto contra a proibição de fazer topless na praia, ao mesmo tempo que se reavivava a guerra contra o soutien: há três anos, uma série de mulheres, em várias zonas do mundo, vieram a público defender que os seios masculinos e femininos deviam ter o mesmo direito de exibição pública. Por cá, também já há adesões. Veja-se o manifesto que a atriz Jessica Athayde escreveu sobre o direito à exposição do corpo de uns e outros: “Porque é que o mamilo da mulher é uma ameaça e o do homem não?” Na recente ModaLisboa, o protesto subiu mesmo à passarela pela mão da estilista Micaela Sapinho, que coseu botões em forma de mamilos numas calças jardineiras.

Esta corrente começou quando uma adolescente americana, Kaitlyn Juvik, decidiu ir para a escola sem soutien e foi chamada à atenção pelo diretor. Comentou o desconforto que sentiu com os amigos, no Snapchat e, em dias, multiplicaram-se as adolescentes que, naquele verão de 2014, foram para a escola só de t-shirt. Seguiram-se mais de 7 mil fotos naquela rede. 

O regresso da moda dos anos 70 também veio ajudar a causa. Em pouco tempo, todos se lembraram da agitação de 1968, quando, durante um protesto contra os concursos da Miss America, o soutien ficou debaixo de fogo. A queima propriamente dita nunca aconteceu, mas a atitude foi incendiária: no chão, amontoaram-se espartilhos, cintas, soutiens e outros ditos instrumentos de tortura. Desde então, a peça nunca mais foi vista da mesma maneira. Hoje, entre as adeptas da nova moda contam-se as atrizes Miley Cyrus e Miranda Kerr, a cantora Rihanna e a manequim Kendal Jenner – e desta vez sem referências a soutiens queimados na praça pública. No tempo das redes sociais, o protesto contra a sexualização do peito feminino fez-se sobretudo sentir pela replicação de imagens de mamilos cuja origem é indecifrável, o que confunde os algoritmos, proibidos de publicar mamas destapadas, mas apenas as de mulheres. E, neste contexto, não há atenuante nem para tapa-mamilos (essa espécie de adesivo que evita saliências indesejadas na roupa, quando não se usa soutien...). Aliás, não demorou a que inventassem os Tata Top, ou seja, partes de cima de biquínis com mamilos desenhados. 
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FREE THE NIPPLE
Recuar um bocadinho no tempo também pode ajudar a explicar esta contestação. Inventado no início do século XX, o soutien é uma evolução do espartilho que as mulheres usavam desde os anos 1500. Inventado e patenteado por Mary Phelps Jacob em 1914, generalizou-se rapidamente com o advento da Primeira Guerra Mundial, que exigia às mulheres destreza de movimentos – mas acabou por servir tanto para aconchegar os seios como para disfarçá-los ou evidenciá-los, de acordo com os padrões de beleza de cada época.

E a saúde, senhoras?
Um dos argumentos para o uso do soutien é este ser uma necessidade para a saúde do peito – mas até isso pode ser exagerado. Essa é a opinião de Jean-Denis Rouillon, professor de medicina desportiva na Universidade Franche-Comté, em França: depois de 15 anos a analisar os seus efeitos, verificou que as voluntárias do estudo ficaram, ao contrário do que se esperava, com o peito mais forte e elevado. “Os seios fortalecem-se quando não se usa soutien porque isso obriga o músculo em volta a desenvolver-se”, defendeu, à BBC. A polémica obrigou-o a assumir que o grupo de voluntárias, só de jovens, poderia não ser representativo. Agora vai prosseguir a investigação com mulheres mais velhas.

Fernanda Águas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, insiste que cada caso é um caso. “O soutien pode contribuir para a saúde se for adequado à mama e proporcionar conforto e bem-estar.” O que quer dizer que, se o tamanho for médio ou grande, beneficia de sustentação, para não causar alterações na coluna vertebral nem gerar dores a nível dorsal. Há ainda avisos para quem se socorre do soutien, de tamanho inadequado, para fazer o peito parecer maior. Assinale-se que o soutien não serve para evitar que o peito descaia, remata aquela médica: “A flacidez mamária tem mais a ver com o envelhecimento.”
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Ficamos a pensar que o conceito e o preconceito estão na (nossa) cabeça. 
E que, se calhar, tal como há cem anos era obsceno verem-se tornozelos, daqui a mais cem vamos olhar de outra forma para as mamas. Afinal, não incomoda ninguém ver mamilos de homens, nem despidos nem debaixo da t-shirt, pois não? E isso, pelo menos nos EUA, também era imoral – e proibido – até 1936.

As polémicas
 Os casos criados em volta 
da imagem do mamilo sucedem-se:
É só bacon - A americana Mandy Pella viu-se 
no meio da polémica ao postar 
uma imagem de uma fatia 
de bacon com uma protuberância que parecia um mamilo
Sob folhas de marijuana - A cantora sueca conhecida como Tove Lo foi mais além, ao baixar 
a blusa num concerto, deixando 
à vista as mamas decoradas com folhas de canábis
A rainha da provocação - Madonna, claro, também veio a público dizer que não percebia porque é que os mamilos eram considerados provocadores e proibitivos, mas o rabo, não.

* O pudor é o preservativo dos frustrados moralistas.

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