05/03/2017

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ESTA SEMANA NA
  "SÁBADO"

Mariana Guerra: 
três parceiros em simultâneo
 e uma estreia no YouTube

A consultora de 24 anos tem uma agenda emocional preenchida: é poliamorosa, já teve três parceiros em simultâneo. Todos sabiam da existência uns dos outros – e consentiam a não monogamia. A partir deste domingo, dia 5, inicia um novo amor: um canal no portal de vídeos para abordar esta temática e outras sexualidades divergentes

Miguel, 25 anos, o aventureiro. Conheceu Mariana Espada Guerra em Novembro de 2016, através do site de relacionamentos OkCupid. Combinaram um café e entenderam-se. Ambos são irrequietos e empreendedores, embora ele tenha mais pedalada para sair à noite e ela troque um copo por um filme de cinema de autor visto a partir do sofá.
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Guilherme, 30 anos, o estável. O parceiro mais antigo de Mariana, que está com ela desde Maio de 2015. O elemento fixo da relação, com quem se cruzou nas redes sociais, abriu-lhe portas, mostrou-lhe como funcionava o mundo da não monogamia consensual. Em Agosto de 2016, decidiram passar ao patamar puramente afectivo por motivos pessoais dele. Amam-se mutuamente, num modelo não sexual.
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Sofia, 31 anos, a fortaleza. Simpatizaram uma com a outra num evento, em Junho de 2015, estiveram várias vezes juntas e iniciaram a relação aberta em Outubro de 2015. É uma mulher forte e inteligente, que não abdica de dizer o que pensa. As dimensões romântica e sexual mantiveram-se até Dezembro de 2016. Agora são amigas. Guilherme também perpetuou o elo de amizade com Sofia.

Quartas-feiras para Miguel 
Quando os três parceiros coexistiram na vida de Mariana, de Lisboa, só um deles tinha um dia fixo para estar com ela: Miguel, às quartas-feiras. De resto, a dinâmica funcionava livremente, sem agenda, nem restrições, onde "o amor era infinito mas o tempo não". Mariana tentava não negligenciar nenhuma relação. "Estive com os três ao mesmo tempo, mas nunca sexualmente", explica a própria à SÁBADO.

Confuso? É uma questão de perspectiva, para a consultora de 24 anos trata-se de um estilo de vida que implica cedências e negociações como na monogamia. A diferença é que todos sabem da existência uns dos outros, aceitam-na e podem incluir múltiplos parceiros, sem que haja contratos legais e coabitação. Actualmente, Mariana tem dois amores em simultâneo (embora não haja sexo): Miguel e Guilherme. "Todas as relações são diferentes, portanto a componente sexual nem sempre é o mais importante. No meu caso, até dou mais relevância à parte afetiva."

Parceiros em vez de namorados
Mariana não diz "nunca" à monogamia, mas é pouco provável que regresse ao modelo convencional – e se porventura voltar, terá de ser negociado com bastante abertura. A não monogamia consensual adapta-se melhor ao seu temperamento. "Por me sentir mais livre para explorar a afectividade com diversas pessoas e não ter de negar a criação de laços ou controlar a intensidade dos mesmos, tendo sempre em atenção as relações que já existem."

É poliamorosa desde Maio de 2015, quando iniciou uma relação com um casal (a mulher tinha 30 anos, o homem 22, a mesma idade de Mariana). Entretanto, incluiu Guilherme. "Há diversos planos em que uma pessoa tem de sair continuamente do armário. Acho que nunca assumi necessariamente este estado e nisto considero-me privilegiada, por vir atrás de uma série de pessoas que fizeram o trabalho inicial de desmistificar o poliamor. Simplesmente alterei o vocabulário para falar das minhas relações. Em vez de namorado comecei a usar o termo parceiro, num género neutro."

Canal do You Tube abre este domingo, dia 5 A partir deste domingo, dia 5, e na sequência da entrevista à SÁBADO, Mariana inicia um novo amor: o canal do You Tube do projecto Neuf Haus (nova casa em alemão, uma comunidade de inclusão de sexualidades divergentes), do qual é co-fundadora, em parceria com Marta Leitão, 22 anos, estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 
Estreou em simultâneo no Facebook e numa página da Internet (http://neufhaus.com/), a 13 de Dezembro passado, por ocasião do programa de Rui Unas, Maluco Beleza. O projecto tem como referências o site feminino Refinery 29 (http://www.refinery29.com/), o blog dos poliamorosos, Poly Portugal (http://polyportugal.blogspot.pt/), a educadora sexual Carmo Gê Pereira (http://carmogepereira.com/), o feminista Clítoris da Razão (http://www.oclitorisdarazao.com/) e o Queer Feminista (http://queeringstyle.com/).
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No primeiro dia do canal do You Tube, Mariana divulga um vídeo próprio da apresentação do canal e um teaser do you tuber Jonas Grancha. Daqui em diante, e numa reguliridade semanal, os conteúdos serão actualizados com leituras de textos eróticos da Arrepiada Mental e vídeos de entretenimento de Jonas Grancha com brinquedos sexuais.  

No site, há uma área de acesso livre com dados informativos e textos sobre relações da autoria dos membros. "As pessoas querem falar sobre estes tópicos, contar-nos as suas histórias e dar as suas opiniões. No fundo, queremos dar voz a todos e também dar relevância a artistas, autores e criativos que são de alguma forma marginalizados." Na categoria Neuf Talent, promovem-se artistas recentes para que obtenham mais exposição em menos tempo. "Na loja online vendemos telas, posters e capas de telemóveis e pagamos comissão por venda ao artista", explica Mariana.

O acesso condicionado no site passa por uma subscrição (cinco euros/mês) e destina-se a maiores de 18 anos, que podem ver conteúdos explícitos, em contos e audivisuais. Os vídeos, ainda escassos (há dois disponíveis), foram lançados há poucos dias e fazem a apologia do porno feminismo. "Basicamente é pornografia ética, uma corrente que surgiu através de porno stars e de várias realizadoras que sentiram, efectivamente, que a indústria da pornografia era abusiva e complicada para as mulheres." Na versão do Neuf Haus, apresentam-se curtas metragens eróticas de produção própria.  

Última relação monogâmica e ida para Cambridge    
A última relação monogâmica de Mariana deu-se antes de ela ir estudar para Cambridge, no Reino Unido. "Foi com o meu namorado de liceu, durou 3 anos e tínhamos muita confiança entre nós. Falávamos de swing, pois não tínhamos outro conceito de que falar. Como nenhum de nós tinha idade para explorar clubes, acabámos por nunca nos envolver com outras pessoas enquanto estávamos juntos", conta.

A ruptura estava iminente. Mariana partiu depois para Cambridge para fazer a licenciatura de Media Studies (estudos de media). Especializou-se em estudos de género e concluiu o curso em 2014, com média final de 15 valores. A não monogamia consensual parecia-lhe o caminho adequado, ainda que o começo fosse numa base teórica. "Pesquisei sobre não monogamias, na base da Internet, com o grupo do Poly Portugal e ganhei muita informação a partir daí."
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Filha de uma antropóloga e de um jornalista, Mariana sempre contou com o apoio dos pais. "Sinto-me muito privilegiada por ter a família próxima e alargada que tenho, que sempre viu a não monogamia – aquando do início da minha exploração – de uma forma não preconceituosa, sem julgamentos."

4% a 10% de poliamorosos a nível mundial Daniel Cardoso, 30 anos, é um dos dinamizadores da comunidade Poly Portugal (https://www.facebook.com/polyportugal/), com 700 membros. O "Poly", tratado assim por alguns participantes do grupo, é hoje em dia uma referência na área. Nasceu a 26 de Setembro de 2004 numa mailing list do portal Yahoo!, através de uma pessoa que assinava simplesmente "V". Sucederam-se "Lara" e "Ann Antidote". Dois anos depois surgiam os primeiros artigos na imprensa (https://issuu.com/poliamor/docs/artigo_grazia_poliamor).  
O professor universitário da Universidade Lusófona, na área da Comunicação e da Sexologia; e na Universidade Nova de Lisboa, na área da Comunicação começou a dar as primeiras entrevistas sobre o tema em 2009, apareceu no jornal Público em 2012, (http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/2996/poliamor-o-amor-nao-se-divide-multiplica-se) e actualmente está a fazer o tratamento estatístico de um inquérito a portugueses sobre atitudes face ao poliamor. Entre os primeiros trabalhos académicos na área, existe um estudo sobre discriminação contra pessoas poliamorosas e outro sobre a construção social da ligação entre reivindicações políticas e poliamor.
Quanto a números, ainda estão no campo das estimativas."Não existem dados concretos sobre a quantidade de pessoas em relações poliamorosas ou não-monogâmicas consensuais. A nível internacional, 4 a 10% das pessoas vive ou viveu em relações de não-monogamia consensual", diz Daniel Cardoso à SÁBADO.

Os nomes dos parceiros de Mariana são fictícios 

* Esta jovem poliamorosa tem a nossa admiração pela coragem com que se expõe.

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