10/03/2017

ANTÓNIO MOITA

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Teodora não vás ao sonoro

Não voltámos ainda ao tempo do cinema mudo. Mas os filmes voltaram a ser a preto e branco. A diversidade não é aceite, a dúvida é mal compreendida, a discordância é rejeitada.

A hostilidade entre os diferentes atores políticos é patente. O recente debate parlamentar entre António Costa e Passos Coelho tornou isso ainda mais evidente.

Com os atuais protagonistas será impossível prosseguir um caminho de reformas estruturais consensualizadas em matérias como as funções e dimensão do Estado, o investimento público, a Segurança Social, a saúde ou a educação.

A agressividade no discurso acentuou-se e o tom está a tornar-se desagradável. Hoje só há duas posições possíveis no quadro político português - ou estão comigo (leia-se o Governo) ou estão contra mim. Como se isto não bastasse, qualquer entidade ou personalidade que se lembre de desconfiar do sucesso de um programa ou de uma medida em concreto é imediatamente atacada como se tivesse praticado um crime contra o Estado. Só a versão oficial é aceitável.

Teodora Cardoso, respeitada economista que preside ao Conselho de Finanças Públicas, cometeu a imprudência de se pronunciar sobre os riscos da economia portuguesa e, perante a indignação da esquerda mais sensível, logo surgiu o Presidente da República a disparar um tiro de morteiro contra a ilustre senhora. Tudo o que desvie o foco presidencial colocado no crescimento económico e na estabilidade do sistema financeiro está condenado a morrer à nascença.

António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa lideram neste momento um bloco de pensamento arrogante e nada complacente com quem pensa diferente. Tal como nos anos 30, podiam ter feito como Corina Freire e cantado - "Teodora não vás ao sonoro/Teodora não sejas ruim/Teodora repara que eu choro/Se fores ao sonoro não gostas de mim/Teodora não vás ao sonoro/Teodora não vás mas eu vou/Porque adoro na vida o sonoro /E há-de ser Teodora, quem chorar, chorou".

Jurista

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
09/03/17


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