21/02/2017

JOÃO LEMOS ESTEVES

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Patrões lançam ofensiva 
contra Passos Coelho 
(e promovem Rui Rio)

António Saraiva, Presidente da CIP, veio defender a reestruturação da dívida nacional – colando-se politicamente ao PCP e ao Bloco de Esquerda

1.Foi a bomba da semana, por entre os dados sucessivos que confirmam o descrédito absoluto das nossas instituições políticas (o envolvimento de Mário Centeno, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa na campanha infame de linchamento mediático de António Domingues): António Saraiva, Presidente da CIP (Confederação Industrial de Portugal), vulgarmente conhecido como “líder dos patrões”, veio defender a reestruturação da dívida nacional – colando-se politicamente ao PCP e ao Bloco de Esquerda.

2.A reacção mediática e nos meios políticos foi, a um tempo, de estranheza e de júbilo – júbilo que até levou Jerónimo de Sousa a aproveitar as declarações de António Saraiva para afirmar que cada vez mais pessoas se juntam à sua causa de “não pagar a dívida pública aos abutres dos credores”.

2.1. Importa, assim, formular a questão magna: o que levou António Saraiva – na sua qualidade de líder dos patrões – a assumir esta posição política tida como uma reivindicação da extrema-esquerda?

3.Há três explicações aventáveis. A saber:
1)António Saraiva considera que a economia portuguesa está a crescer, Portugal goza de uma reputação positiva nos mercados internacionais e a República Portuguesa, com a sua actual maioria política informal, confere credibilidade e confiança – logo, passado o período mais complexo, é altura de se discutir o futuro, iniciando-se a discussão sobre a sustentabilidade da nossa dívida.

Ora, esta explicação é logicamente inviável: António Saraiva tem sido um crítico da política económica do Governo e, como empresário de sucesso, sabe melhor do que ninguém que a geringonça suscita inquietações e desconfianças várias dos investidores, afasta o investimento estrangeiro e justifica o controlo permanente, embora discreto, das instituições europeias e dos nossos parceiros europeus em relação às medidas económico-financeiras tomadas pelo Governo de António Costa.

Além disso, esta explicação colidiria com as declarações que António Saraiva e os empresários portugueses têm feito sobre o estado da economia nacional.

Então, há uma semana a economia estava exangue – e agora, passada uma semana, a economia já está em aceleração ao ponto de permitir a Portugal iniciar uma discussão sobre a reestruturação da sua dívida, com consequências imprevisíveis? Claro que não.

Logo, esta não é a explicação para as declarações surpreendentes de António Saraiva. Continuemos, então.
2) Segunda explicação aventável prende-se com a percepção sentida por António Saraiva de que a conjuntura internacional é mais favorável, porque mais serena e estável, para iniciar uma aventura cujo resultado ainda é incerto e que, até ao momento, correu mal aos Estados que a encetaram.

Dir-se-á que António Saraiva já começou a “surfar” a onda europeia que poderá vir da eleição de Schulz como Chanceler alemão. Esta explicação, no entanto, deve ser liminarmente rejeitada. António Saraiva é demasiado inteligente e experiente para “ir em cantigas”. Se há momento histórico em que falar de reestruturação da dívida pública é uma atitude kamikaze, é precisamente a que vivemos.
Com a incerteza (embora esperança) quanto à política económica de Donald Trump, com os riscos reais de implosão da União Europeia, com a possível ascensão dos partidos de extrema-direita ao poder, com o risco de ruptura da Zona Euro  e a instabilidade crónica dos mercados financeiros daí decorrente – falar de reestruturação da dívida é o caminho certo rumo ao precipício.
Seria lançar gasolina para a fogueira. Para a fogueira nacional que nos levaria, certamente, à tragédia colectiva.

Conclusão: esta segunda explicação é logicamente impossível. António Saraiva não cometeria tamanha irresponsabilidade.
Caso contrário, António Saraiva não passaria de uma versão patronal de Jerónimo de Sousa. Avancemos, pois então.

3) Chegados aqui, só há uma explicação possível para as declarações bizarras de António Saraiva: elas não têm natureza económica – apenas natureza política. Política-partidária. Em que termos? Fácil. 

Ora, vejamos.
António Saraiva colocou-se ao lado da “geringonça” (mais concretamente dos seus parceiros mais extremistas) para se vingar de Pedro Passos Coelho. O que significa que estas declarações do líder da CIP ainda são um prolongamento do caso do chumbo da redução da TSU pelo PSD.
No fundo, a lógica de António Saraiva é esta: “se Passos Coelho se juntou ao PCP e ao Bloco de Esquerda para nos tramar – então nós, representantes dos patrões, vamo-nos juntar ao PCP e ao Bloco para tramar Passos Coelho”.

 As declarações bizarras sobre a reestruturação da dívida de António Saraiva mais não são, portanto, que uma tentativa de ir moendo Passos Coelho como líder do PSD… até morrer politicamente.
4.Por coincidência, quem também esteve presente no Fórum Empresarial LIDE, no Algarve (onde António Saraiva proferiu aquelas declarações bizarras), foi Rui Rio - o qual propôs uma política de ruptura, que incluía igualmente o reequacionamento da reestruturação (não utilizou este termo, mas a ideia era a mesma…) da dívida pública portuguesa.

No mesmo dia, Rui Rio e António Saraiva têm posições coincidentes! O destino é mesmo espantoso!
5.Politicamente, o cenário é claríssimo: António Saraiva já está a promover a candidatura de Rui Rio para Presidente do PSD. Por convicção? Não diríamos tanto. Por vingança a Pedro Passos Coelho? Sem dúvida! Como chumbou a redução da TSU, o PSD de Passos Coelho é o seu alvo a abater.
6.Estranho país este: os comunistas e trostskistas ficam em êxtase com o apoio do líder dos patrões às suas ideias políticas – e os patrões, que deveriam estimar o valor da liberdade e da economia de mercado, dão força política a partidos que rejeitam tais ideias, enquanto querem matar o único partido que tem no seu gene a liberdade…

Perante isto, podemos acreditar que existe sociedade civil em Portugal? Que há associações que posam “bater o pé” ao poder político?

IN "SOL"
20/02/17


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