27/01/2017

RICARDO COSTA

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O começo da história de Donald

A concretização das promessas de Trump e a configuração de cenários da sua destituição não auguram bons tempos para a nova ordem americana

Se havia ansiedade global a propósito do discurso de tomada de posse de Donald Trump, rapidamente se transfigurou em desilusão e em angústia. Se há discurso icónico na política internacional, esse corresponde com certeza às primeiras palavras de um Presidente norte-americano investido no cargo.

Este não ficará para a história, mesmo que se ameace que a história dele se vá recordar. Trump perdeu uma grande oportunidade: não revelou a mínima preparação, não traduziu a mais leve preocupação com a sistematização, muito menos trouxe para o palco de Washington um aceno de um programa substancial e organizado de mandato. Trump exibiu até uma certa indigência na formalidade do acto, como que ostentando subrepticiamente um menosprezo pelas instituições da democracia, bem como pelos seus ritos e procedimentos, substituídos pelos seus próprios maneirismos, tiques e desabafos de propaganda.

Em tudo o mais, equiparou o acto a mais um discurso de campanha, com frases e formulações feitas de retórica, que mais não fizeram do que confirmar uma personalidade (ou um culto da sua própria) e um estilo desviante (e desviado), feito da vontade de isolar e concentrar. E uma estratégia (?) que está aparentemente em contradição com o ordenamento mundial criado após a II Guerra Mundial e os equilíbrios de poder geoestratégico que permitiram prevenir conflitos à escala universal nestes últimos 70 anos. O que significará desgastar e acabar lentamente com as alianças políticas e militares permanentes no Ocidente (o atlantismo ancorado na NATO) e na Ásia (Japão e Coreia do Sul, em concluio com a presença americana no Pacífico), com os acordos de comércio livre, com os progressos de Obama na estabilização de relações “perdidas” (Irão, Cuba, até a China), com a intervenção reguladora dos conflitos “eternos” (orientando Israel, nomeadamente), com a desistência do apoio e concertação com a União Europeia, com o desinvestimento na actuação da ONU. Será assim? Com a China já ali à espreita para ocupar o lugar da potência dominante, hasteando a bandeira da cooperação? Com a Rússia desesperada por concretizar uma espécie de anexação da Europa sem crédito e esburacada e aniquilar a frente de resistência aberta por Merkel?

Desde a posse, passar da retórica à prática significou para Trump exibir na Sala Oval e nas primeiras aparições públicas e institucionais o cumprimento das suas promessas, desde o princípio do fim do “Obamacare” até à compatibilização com os interesses das petrolíferas e da indústria do armamento (para arrasar os terrorismos religiosos), sem esquecer a directiva para construir o muro com o México.

Uma espécie de confirmação de que as ameaças mais fracturantes são para se cumprir à primeira oportunidade, sem espera pelo compromisso e pelo consenso. Autoritarismo puro, caucionado por regras de democracia formal. Populismo económico, legitimado pelo isolacionismo para com os que não interessam e outorgado pelo interesse para com as potências emergentes e reemergentes. Ameaça gratuita sobre a imigração e a abertura aos refugiados. E rapidamente se sublevou a esperança dos cépticos, adversários e manifestantes de rua de que algum escândalo passado possa submergir – na cama ou nos negócios – ou que o voluntarismo e a inexperiência de Trump se precipitem em alguma violação da Constituição. Lembram-se de algum Presidente dos EUA que começasse logo à partida com cenários de “impeachment”?

Claro que votaram nele pela mudança, mas não seria necessariamente esta…


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26/01/17

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