13/01/2017

LEONEL MOURA

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Os erros de Trump

Primeiro erro. Imaginar que se pode gerir um país como uma empresa. Ainda mais um país como os Estados Unidos, vasto, diverso e complexo, com um decisivo papel no plano global.

Um país não é uma empresa. Tem um património, a sua história, e um devir, o seu futuro, em nada comparável com um negócio por muito sucesso e longevidade que este tenha.

Acrescente-se que, no caso de Trump, estamos a falar de um modelo de empresa do velho capitalismo. Assente nos negócios imobiliários, hotéis, casinos e muita operação especulativa. Empresa de tipo familiar, pouco ou nada tecnológica, sem inovação ou diferenciação. Em suma, uma empresa do antigamente, obsoleta. Não é difícil prever o efeito que este tipo de gestão terá, e já tem, na política americana. No mínimo, o conflito de interesses é evidente. Confirmado pelo próprio ao não separar claramente o cargo com os seus negócios e recusar fazer a entrega das declarações de impostos.

Segundo erro. Imaginar que basta um bom slogan para criar uma política de sucesso. "Fazer de novo a América grande" pode ter excitado as mentes débeis, mas não se consegue concretizar com o tipo de comportamento e programa promovido pelo novo Presidente. Pelo contrário. A América de Trump tornou-se numa anedota aos olhos do mundo. Não há dia que passe que não surja uma nova trapalhada ridícula. Estamos a assistir a uma acelerada decadência dos Estados Unidos, num contexto global em que emergem outros candidatos à hegemonia económica e tecnológica, como é o caso da China e, a caminho, a Índia. Não se resolve com tweets.

Terceiro erro. A questão do emprego. Usado demagogicamente na campanha, já que Obama deixou este indicador no seu melhor, ou seja, praticamente não há desemprego, Trump promete criá-lo em larga escala. Desde logo, não se percebe com quem? Onde estão as multidões de desempregados a precisar de emprego? Considerando a eventual expulsão de milhões de latinos, a procura do desempregado tornar-se-á talvez uma nova profissão em si mesmo. Abro um parêntesis. Os latinos fazem os trabalhos árduos e sujos. Quem na América de Trump irá trabalhar nas velhas fábricas, limpar a casa e cortar a relva do jardim? Enfim.

Mas a ideia de que se conseguirão criar muitos empregos com o regresso da indústria deslocalizada para a China e outros países demonstra como este Presidente não está minimamente informado. O regresso destas indústrias, que aliás já sucede há cerca de uma década, não cria postos de trabalhos. Pelo menos humanos. A automação extensiva gera efetivamente muito trabalho mas não trabalhadores. É uma ilusão imaginar que regressaremos às fábricas repletas de mão de obra humana. Estamos no tempo das máquinas.

Quarto erro. Com menos importância para o planeta, a economia ou a política global, mas maior para o próprio. O sistemático confronto com os media e muitos jornalistas, frequentemente de forma direta e ofensiva, promete tornar a sua presidência infernal. A sucessão de casos, as intrigas, as fugas de informação, são já o dia a dia de Trump. Imagine-se quando estiver sentado em Washington. É dos livros. Não se pode hostilizar os media e sair incólume.

Dito isto, resta acrescentar que a sorte de Trump não merece comoção. É um homem fora de prazo, incapaz de entender o mundo atual, primário nas ideias e ainda mais nas soluções. Mas se a sorte de Trump interessa pouco, a nossa, de todos os que vivem neste planeta, interessa muito. É que muito provavelmente seremos nós a pagar pelos seus erros.

Artista Plástico

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
12/01/17

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