13/01/2017

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HOJE NO
"AÇORIANO ORIENTAL"

Jornalistas querem literacia 
de comunicação nas escolas 
e declarações de interesse

A criação de uma disciplina nas escolas de literacia de comunicação de massas, que ensinem os leitores a filtrar 'notícias', ou a assinatura voluntária pelos profissionais de declarações de interesse foram algumas das ideias recomendadas hoje no congresso de jornalistas.
 
A expressão "medo" foi das mais ouvidas em todas as intervenções na manhã de hoje, sob o tema 'O estado do jornalismo', tendo os jornalistas admitido que existe atualmente muito medo de incomodar fontes, dos chefes ou do desemprego, entre outros.
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"Hoje há medo nas redações. Ou alguém duvida?", questionou a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, que juntamente com outros profissionais deu voz a uma comunicação ao congresso, com depoimentos de oito jornalistas, que mantiveram o anonimato porque "não podiam" dar a cara sob pena de sofrerem consequências profissionais.

Em todas as comunicações de jornalistas ao congresso repetiram-se expressões e frases de crítica ao exercício atual da profissão, como "perplexidade", "o estado a que isto chegou", "caixas de ressonância do poder", "falta de análise crítica", "mentiras que se dizem só para justificar atos", como o terrorismo, sem serem previamente confirmadas.

A necessidade de autorreflexão e de cada jornalista olhar para a sua "consciência interior" foi destacada pela jornalista Ana Rodrigues, aproveitando ainda para questionar o ritmo de trabalho atual: "O que acontece se abrandarmos o ritmo de notícias [para edição] 'online'?", questionou, criticando a lógica empresarial que domina, atualmente, as redações.

Um grupo de cinco jornalistas 'freelancer' e precários (que trabalham à peça), de Coimbra até Leiria, também usou a voz no congresso, numa comunicação conjunta, para dizer que "o jornalismo bateu no fundo" e que "quem leva a ética e deontologia para a frente, morre de fome", concluindo pela necessidade de os 'freelancers' se organizarem para melhorarem o desempenho da profissão.

O fim da aposta dos órgãos de comunicação social em correspondentes ou delegados regionais, em cidades como, por exemplo, Coimbra, foi também motivo de crítica dos jornalistas presentes, que questionaram quantos órgãos de comunicação mantêm hoje correspondentes.

Depois de lidas as comunicações, o jornalista da Antena 1, Alexandre Afonso, explicou à audiência que, perante a leitura de tais depoimentos, alterava o discurso que tinha preparado para de improviso dizer: "Fico angustiado, triste. Temos todos de refletir sobre isto", criticando ainda "a pressa" dos dias de hoje, o "excesso de informação" e a importância de os jornalistas se saberem dar ao respeito.

Por sua vez, Carlos Rodrigues, do Correio da Manhã, veio lembrar os tempos de crise e defendeu que "o jornalismo tem de ser uma atividade rentável para os acionistas das empresas" e questionou os interesses por trás da manutenção de órgãos de comunicação social com prejuízo.

"Mais importante do que as declarações de interesses [uma proposta de jornalistas no congresso] é a maior parte da classe ganhar menos de mil euros" mensais, afirmou o jornalista do Correio da Manhã.
Carlos Rodrigues Lima, do Diário de Notícias, falou ainda do "deslumbramento" dos jornalistas, que "santificam" algumas personalidades, e defendeu que a receita para o setor está no próprio jornalismo, ou na sua origem: "O que é bom, as pessoas compram. Mas se não tivermos notícias diferenciadas, ninguém para, olha e escuta", frisou.

Ironizando, Nicolau Santos, do Expresso, disse que a crise foi benéfica para o jornalismo económico e lembrou como os jornalistas "suportaram" a 'troika' e "desculparam falhanços" de governação, tendo também defendido que os jornalistas "não são vítimas de nada", mas se tiverem condições têm sempre uma alternativa. No entanto, não escondeu que essas alternativas podem ter um preço a pagar.

Ao contrário dos três congressos anteriores, promovidos exclusivamente pelo Sindicato dos Jornalistas, o que decorre esta semana conta com as três organizações de jornalistas - Sindicato dos Jornalistas, Casa de Imprensa e Clube de Jornalistas - e acontece 18 anos depois do último congresso destes profissionais.

* A precaridade  na profissão implica a construção de noticiário pouco claro. Existem jornalistas com dificuldades em literacia. Em Portugal temos do pior e do melhor que pode ser feito em jornalismo mas o pior é mais abundante.

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