06/01/2017

ANA RITA GUERRA

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Daqui vê-se o futuro

O CES 2017 arranca esta semana e espera mais de 150 mil pessoas da indústria para verem do que o futuro será feito

Ainda haverá gente a engolir guronsan como se fossem M&M para tratar a ressaca do fim de ano e já Las Vegas se veste de gala para receber um dos maiores eventos do mundo de tecnologia. O CES 2017 arranca esta semana e espera mais de 150 mil pessoas da indústria para verem do que o futuro será feito. Esperam-nos carros elétricos e autónomos, o regresso da Nokia ao mundo dos smartphones, mais e melhores wearables, e sobretudo electrodomésticos superinteligentes.
 
As televisões já são mobília nesta feira e todos os anos as marcas apresentam alguma com mais curvas ou mais definição, mas há pouco espaço para inovação neste segmento. No geral, a função da televisão continua a mesma há muito tempo e a não ser que alguém invente uma que também faz café e tem um slot para entrega de pizas, a bateria de especificações super OLED e quantum dot não vai fazer ninguém dar uns pinotes.

Os olhos estarão postos nos grandes nomes: LG, Samsung, Sony, Asus, Acer, Toshiba, mas o que toda a gente quer ver são os carros autónomos. É irónico que a atenção esteja voltada para construtoras automóveis num evento de tecnologia de consumo, mas não há escape possível – quanto mais nos aproximamos desse momento em que os carros se poderão conduzir sozinhos, mais importará o hardware e software que o tornará possível. O chassis, as jantes, a carcaça do carro serão secundárias. Corre a piada de que “CES” agora é acrónimo para “Car Electronics Show.” O motor é irrelevante quando o carro tem um cérebro.

Até agora, várias construtoras anunciaram planos para tomar o CES de assalto. A Fiat Chrysler vai demonstrar um novo sistema operativo baseado em Android Nougat, a Faraday Future tem uma conferência agendada para o primeiro dia, a Ford levantará o véu do novo Fusion Hybrid, a Honda mostrará conceitos baseados em inteligência artificial e robótica, a Tesla terá um encontro só para investidores e a Mobileye (que já trabalhou com a Tesla) poderá anunciar uma parceria com a Volkswagen.

O que não estamos à espera de ver são mais ‘hoverboards’, que fizeram tanto sucesso nos últimos dois anos. Estes meios de transporte pessoal, a lembrar o “Regresso ao Futuro”, estavam por todo o lado no ano passado, mas o mercado caiu devido aos problemas de segurança que causaram. Acidentes, falhas técnicas e proibições um pouco por todo o lado deram cabo o sonho dos skates que andam sozinhos. Ou lá o que aquilo era.

Na Internet das Coisas, o interessante será ver a evolução dos electrodomésticos conectados; por exemplo, haverá um robô de limpeza e máquinas de lavar integradas com o assistente digital Alexa e o respectivo hub Echo, da Amazon.

E, é claro, a miríade de startups que chegam ao CES com protótipos e promessas que na maioria das vezes não se concretizam. Algumas têm conceitos loucos e rebuscados, outras apresentam produtos para problemas que ninguém tem, outras acertam no jackpot. Haverá demos de sistemas operativos para edifícios, como o da startup francesa Ubiant, a tecnologia que prevê terramotos, da Aykow, e o sensor de radiação para trazer no bolso Rium. Muita tecnologia de saúde e bem-estar, alguma realidade virtual (vamos ver se daqui a um ano ainda estamos a falar dela) e toda uma panóplia de infusões de inteligência artificial e aprendizagem de máquina.

O CES normalmente é caótico. Costumo compará-lo a uma sessão de bolsa em dia de queda: mil vozes aos gritos, punhos no ar, cabelos despenteados e a sensação de que é agora ou nunca. Ganhar ou perder em cinco dias de competição, todos contra todos. Na próxima semana, já saberemos para onde os Silicon Valleys do mundo pensam enviar-nos no futuro.

IN "DINHEIRO VIVO"
03/12/17

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