Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
29/08/2016
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I-BIOGEOGRAFIA
AULA-03
ÚLTIMO EPISÓDIO
COM A PROFESSORA THAÍS DE FÁTIMA CORRÊA
FONTE: CENTRO DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM REDE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS.
ATENÇÃO
Esta série só deve ser vista por quem quer verdadeiramente aprender sobre ecologia, se pretende vídeos recreativos tem muito onde procurar neste blogue. Obrigado.
* As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à
mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios
anteriores.
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SOFIA MARO
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IN "OBSERVADOR"
22/08/16
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Ângulo de visão,
ou o que está em causa
no burkini
Não, o burkini não é um trapo anódino, mas sim um símbolo
que faz parte da panaceia salafista. E não, não estamos a falar de
medidas aleatórias tomadas em circunstâncias normais.
Denuncio aqui a postura moralista com que alguns portugueses nos
têm brindado. Aqueles que pouco se insurgem contra os justiceiros e as
guilhotinas para decapitar pirómanos e acham que o estado de urgência
deve incluir e aceitar, indiscutivelmente, a excepção, depois de
termos sofrido vários atentados no espaço de poucos meses. Vide
o significado do próprio estado de urgência: ele implica que,
estando o Estado de direito garantido, possam ser tomadas medidas que
garantam uma certa paz e coesão social.
O clima que por aqui se vive é crispado — e sublinho que vivo na
região de Cannes. Quanto ao burkini, recentemente proibido em três
locais, incluindo nesta cidade, ele é visto como um detalhe ou uma
novidade nas estâncias balneares. No entanto, traz consigo de forma
inegável uma carga simbólica.
São os próprios muçulmanos moderados que denunciam a
perniciosidade destas questões. Cito o exemplo dos jornalistas e
escritores — Kamel Daoud, Boualem Sansal, Mohamed Sifaoui, Aalam Wassef —
constantemente silenciados pelos bem-pensantes, sobretudo porque põem
em causa os fundamentos do comunitarismo. Claro que são vozes
discordantes, vivendo sob a ameaça permanente das fatwas que
lhes foram declaradas. Por isso mesmo, a voz tem de ser dada aos
muçulmanos moderados. Se defender a proliferação do comunitarismo, a sharia como
baliza penal intracomunitária e o relativismo cultural é defender os
direitos humanos, a sociedade ocidental adoeceu — e o plano da Arábia
Saudita está a resultar.
E porquê o comunitarismo? Porque o mesmo serviu de garante
eleitoral, porque ambas as partes assim o desejam e também porque aqui
está bem instalado, como uma gangrena, o salafismo, amplamente
promovido pelo wahhabismo da Arábia Saudita.
O salafismo não é uma prática religiosa, mas a construção de uma
identidade político-religiosa totalitária que se reflecte na sua
pretensão de representar os muçulmanos do mundo, a denominada Umma.
Quando menciono o papel do comunitarismo, falo na estratégia de
guetização que pretende impor através do tecido muçulmano francês
um alinhamento que se expressa através de clivagens e reivindicações.
Especificamente, a exigência de determinados alimentos, roupas — no
caso mencionado, o burkini –, comportamentos, escolas. Rejeitando todas
as outras práticas do Islão por um direito de excomunhão, a exclusão
acaba por ser o único destino dos takfir.
As próprias crianças recusam o Islão dos pais, nesta lógica de
doutrinamento, levando por vezes à ruptura. Os seus principais inimigos
são primeiro os outros muçulmanos, quer sejam oriundos de outras
escolas sunitas, quer sejam xiitas ou sufis, e depois os outros, ou
seja, nós. É toda uma lógica de exclusão deliberada e intencional.
Consequentemente, e por viver muito perto, digo “não, muito obrigada”,
inclusive aos contratos milionários celebrados entre o
primeiro-ministro Manuel Valls e a Arábia Saudita.
A manifesta falta de solidariedade que existe em algumas áreas da
sociedade portuguesa relativamente à política francesa sublinha o
desconhecimento da própria história, desde De Gaulle à recusa de
Dominique de Villepin em participar na cimeira dos Açores e consequente
guerra do Iraque, e põe a nu a sacrossanta ingenuidade de algumas
opiniões. Para não falar na inexistência de políticas de
integração no nosso país. Em França, país julgado pela “vozes da
razão” como extremista, a inclusão é um dado comum. Temos diariamente
pivots negros e de origem magrebina nos blocos noticiosos, duas
ministras magrebinas — Myriam El Komri e Najat Vallaud-Belkacem –, uma
ex-ministra da justiça, Christiane Taubira, negra, e a acrescentar a
isso temos ainda uma candidata à Presidência da República negra, Rama
Yade. Sem falar no peso que os moderados têm na sociedade.
Assim sendo, não, o burkini não é um trapo anódino — como o confirma o editor egípcio Aalam Wassef, no jornal Libération e na revista Marianne —,
mas sim um símbolo que faz parte da panaceia salafista. Não, não
estamos a falar de medidas aleatórias tomadas em circunstâncias
normais, mas sim da distância que altera em tudo o ângulo de visão.
*Escritora, foi candidata independente em 2014 pelo Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu
IN "OBSERVADOR"
22/08/16
Salafista - movimento salafista é um movimento ortodoxo ultraconservador dentro do islamismo sunita.
Sharia - é o nome que se dá ao direito islâmico. Em várias sociedades islâmicas, ao contrário do que ocorre na maioria das sociedades ocidentais,
não há separação entre a religião e o direito, todas as leis sendo
fundamentadas na religião e baseadas nas escrituras sagradas ou nas
opiniões de líderes religiosos.
Wahhabismo - é um movimento religioso ou seita do islamismo sunita geralmente descrito como "ortodoxo", "ultraconservador","extremista", "austero", "fundamentalista" e "puritano". O principal objetivo é restaurar o "culto monoteísta puro". Os adeptos muitas vezes opõem-se ao termo wahhabismo por considerá-lo pejorativo e preferem ser chamados de salafistas ou muwahhid.
Ummah, "nação", "comunidade") - é um termo que no islão se refere à comunidade constituída por todos os muçulmanos do mundo, unida pela crença em Alá, no profeta Maomé, nos profetas que o antecederam, nos anjos, na chegada do dia do Juízo Final e na predestinação divina. É irrelevante a raça, etnia, língua, género e posição social dos seus membros. Todo o muçulmano deve velar pelo bem-estar dos integrantes da Umma, sendo estes muçulmanos.
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