27/11/2016

JOANA SILVA AFONSO

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Before the flood

Quantos se atrevem a prescindir da carne e do peixe, de forma diária na vossa mesa?

Atualmente são inegáveis as alterações climáticas no nosso Mundo, a forma como utilizamos a energia, a indústria, a agricultura, as pescas, os nossos sistemas de transporte e o nosso comportamento como produtores e consumidores, está diariamente a hipotecar o nosso futuro e a sustentabilidade da nossa vida na Terra. O ritmo com que consumimos e a forma ineficaz com que utilizamos os recursos disponíveis, não deixam grande margem para as gerações futuras, por isso há que agir já. 

Começamos por onde? Há tanto por onde escolher mas sendo eu a discorrer sobre o assunto só poderia começar pela alimentação. Todos temos alguma noção da forma como a alimentação afecta a nossa saúde mas poucos temos ideia da pegada ambiental que as nossas escolhas alimentares deixam. As emissões de gases com efeitos de estufa, a utilização das terras e água para cultivo, a degradação dos solos, o impacto da utilização de herbicidas e pesticidas, tudo isto depende da forma como produzimos os nossos alimentos e infelizmente estamos a comprometer a capacidade do nosso planeta em produzi-los. 

Como podemos tornar a nossa alimentação sustentável? Fomentando a segurança alimentar, a saúde, a acessibilidade e qualidade dos alimentos, e promovendo uma indústria alimentar forte mas que garanta a sustentabilidade ambiental, respeitando a biodiversidade e a qualidade dos recursos naturais. E que papel temos nós consumidores? Nós não somos decisores políticos nem responsáveis pela indústria alimentar, mas somos senhores do que pomos na nossa casa e à nossa mesa, e é aí que temos de ser exigentes e conscientes. Comprar os alimentos locais, comprar a granel, comprar a quantidade certa do que precisamos e reduzir o desperdício, são só a pontinha do icebergue. Temos de mudar consumos. 

Fala-se tanto na enorme pegada ambiental proveniente da produção animal, nas vantagens para a nossa saúde da diminuição desse consumo, mas quantos de nós já reduzimos a ingestão destes alimentos? A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, declarou este ano de 2016, o ano das leguminosas. Falamos de feijão, de grão-de-bico, favas, lentilhas, entre outras, superalimentos do ponto de vista nutricional, uma vez que são grandes fornecedores de proteína vegetal e fibra, de minerais, como o ferro e zinco, e de vitaminas do complexo B. Têm baixo índice glicémico e baixo teor de gordura, zero colesterol e até conseguem preencher alguns requisitos das dietas da moda, uma vez que não contem glúten. Em termos de sustentabilidade continuam a ser super. 

As leguminosas têm um papel fundamental na rede vital da biodiversidade, o seu cultivo intercalado aumenta a biodiversidade agrícola, e diminui a incidência de pragas e doenças nas culturas. Por serem culturas fixadoras do nitrogénio, melhoram a fertilidade dos solos, diminuindo assim a necessidade de utilização de fertilizantes químicos e ampliam a produtividade. Em termos de consumo de água, elas são extremamente eficientes, para terem ideia, a produção de 1 kg de lentilhas necessita de 1250L enquanto um 1 kg de carne de vaca gasta 13000L. 

As leguminosas são adequadas para ambientes marginais e têm uma baixa emissão de carbono, reduzindo assim as emissões de gases com efeito de estufa. São economicamente acessíveis e polivalentes, quando comparados com outros fornecedores de proteína. Têm uma validade enorme, sem perder qualidade nutricional e têm pouco desperdício alimentar. As qualidades e vantagens são imensas. Quantos se atrevem a prescindir da carne e do peixe, de forma diária na vossa mesa? Vamos começar a mudar o Mundo, um passo de cada vez.

* NUTRICIONISTA

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
24/11/16

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