08/11/2016

BAPTISTA BASTOS

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Sirvam-se e degustem

A abulia demonstrada por Passos Coelho é uma natural expressão de cansaço, e as declarações dos seus apaniguados têm sido desmentidas pela evidência dos factos.

As morosas e fatigadas respostas políticas de Pedro Passos Coelho têm causado apreensão entre os sociais-democratas, que entendem como cansaço exacerbado do seu dirigente ou desinteresse pela batalha ideológica. A recente reaparição de Maria Luís Albuquerque nas comissões públicas do PSD tem suscitado os mais diversos comentários, justificados pela agressiva natureza dos seus textos. E mais justificam a apreensão dos correligionários, que se têm reunido, em discretos encontros, como é histórico que o façam.

O aparecimento político do agrupamento de Esquerda, que tomou conta do poder quando o dr. Cavaco tinha acabado de designar Passos Coelho para primeiro-ministro, foi um choque repentino e absolutamente inesperado pela surpresa nunca vista. A "geringonça", como lhe chamou, com o ardor da raiva, Vasco Pulido Valente, ficou-se por ser o que na verdade era: um conjunto político constituído pelo PS, CDU e pelo BE, com um propósito de combate até então nunca visto.

O ramerrão da vida nacional era detido pelo PSD e pelo PS, e António José Seguro, embora do PS, preparava-se para ser um fiel servidor do sistema estipulado e mantido por um grupo chefiado por Pedro Passos Coelho. Apressadamente, o dr. Cavaco nomeou este último como primeiro-ministro, mas já era tarde. Teve de aceitar Costa e os seus inesperados cúmplices, e nomeá-los como favor dos factos, mas servindo-se da manigância das palavras. Uma cena deplorável pela demonstração de canalhice que a envolveu.

Ninguém de bom talhe e rectos modos aceitou esta bizarria. E o dr. Cavaco ficou com o ferrete da ignomínia. António Costa, esse, tomou a criança nos braços e começou logo a mexer nas coisas erradas e impulsivas cometidas por um governo que seguira as vozes de direita da União Europeia. A situação desacreditou ainda mais Passos Coelho e os seus. O episódio foi um tormento para o PSD e, também, para o PS, que nunca assistira a tal vibração dos factos. Com prudência e astúcia, o PCP seguia a rota das coisas, evitando qualquer embaraço ou escolho. E a "geringonça" lá vai seguindo o seu rumo, arrastando consigo as indicações que a levam a ser primeira em todos os índices de opinião.

As tradicionais estruturas que fomentam as ideias e determinam muita coisa na História sofreram um forte abalo. Afinal, a coesão era uma falácia, que pode ser alterada e modificada quando os homens assim o entendem. Contra quase tudo e quase todos, o grupo de António Costa tem produzido factos e realizado acontecimentos políticos que escapam à natureza tradicional destas coisas. A abulia demonstrada por Passos Coelho é uma natural expressão de cansaço, e as declarações dos seus apaniguados têm sido desmentidas pela evidência dos factos.

O reaparecimento, nas declarações públicas, de Maria Luís Albuquerque significa algo que escapa à natureza habitual das interpretações. O PSD, desde que se o conhece, não aceita um lugar subalterno na pirâmide política habitual, e com a qual temos sobrevivido, na indiferença comum ao nosso viver. O sobressalto causado por António Costa e os seus alterou, por completo, o nosso modo de viver político. E a procissão ainda vai no adro. Como disse, em tempos, Almeida Garrett, "façam o favor de se servir e de degustar."

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
04/11/16

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