01/10/2016

CARLOS VARES

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Barbeiragem

O eleitor só conhece a imunidade à qualidade de vida

Virar o bico ao prego
A XXI Conferência de Presidentes das Regiões Ultraperiféricas Europeias (RUPs) realizou-se no Funchal, contendo uma sessão temática sobre “As Regiões Ultraperiféricas e o transporte marítimo e aéreo: desafios e oportunidades”. O Governo Regional indicou a necessidade de “rever o enquadramento dos auxílios de Estado ao transporte marítimo, a fim de permitir o apoio público a ligações entre as regiões e os países terceiros” que, deveria ser concretizado “de uma forma permanente para assegurar a sustentabilidade económica destes territórios a longo prazo”. O Presidente da Conferência dos Presidentes das RUPs realçou uma “persistente inadaptação dos instrumentos da política comum de transportes para reduzir o défice de acessibilidades” nestes territórios.

A Madeira continua a furtar-se à discussão pois, qualquer ideia que promova no seio da UE irá esbarrar nos contratos blindados, produzidos durante décadas e que tolhem os nossos portos, a nossa economia e afugentam soluções de transportes como ARMAS. Deixemos as hipocrisias. O que a UE decidir implicará indemnizar por valores incomportáveis para os cofres da região. Por outras palavras, estiveram a se entreter com mais um inimigo externo sem o trabalho de casa feito. Na sala, não havia uma pessoa credenciada para esta discussão por parte do GR numa reunião entre governos mas, o oligopólio fez-se representar por dois elementos dos exploradores dos nossos portos. Este pormenor diz tudo.

Os nossos portos tornaram-se caros e obsoletos por processos que visam alimentar uma longa cadeia de serviços que deveriam ser reestruturados. Falhamos pelo menos dois “up-grades” na gestão portuária nas últimas décadas. Estamos a falhar novamente com a abertura do novo Canal do Panamá que tem repercussões nos portos regionais, se estes desejarem. Era previsível que estes contratos trouxessem problemas. O desejado ferry Madeira–Continente é prova disso. Ao contrário da orientação na sessão temática, tomando o ferry por exemplo, o problema é endógeno. O GR não tem capacidade para associar a exploração da linha Madeira-Continente a outra actividade lucrativa nos portos para cumprir a função social e económica de um ferry. A Madeira não consegue concretizar sinergias para replicar o que o Armas concretizou beneficiando a Madeira com o “volume” das Canárias. A Madeira não consegue aplicar dividendos dos portos para viabilizar o ferry, porque não recebe, limita-se à isenção das taxas portuárias e remete a solução para Lisboa.

De carteira aberta
Tratei de uma reserva na tarifa económica restrita que chegou ao somatório de 889,31€ (Fun-Lis-Fun). Entre um alarve e a barbeiragem, você pode ficar liso e em terra a meio da viagem. Vi tarifas elegíveis para o Subsídio Social de Mobilidade (SSM) mais caras do que as Executivas, não elegíveis. Significa que o limite dos 400€ é suficiente e o das tarifas provoca aberrações. Vi a TAP a se aproveitar da remarcação de viagens com o horizonte dos 400€ em mente (nova factura, novo cartão de embarque). A culpa é de Lisboa?

Estive durante 10 horas a tentar ser atendido, por telefone, pelas Reservas da TAP. Tive sucesso às 3:30 da madrugada, na tentativa de ajudar portugueses enrascados no estrangeiro porque não há saldo que aguente as esperas naquele 707 das Reservas a cantar de “braços abertos”. A TAP quanto pior atende mais factura. Encarei as informações da primeira de duas chamadas como fidedignas para descobrir na segunda que a primeira não tinha informado bem, voltei à estaca zero e presumi que eram mesmo as “reservas”. A TAP provoca despesas aos clientes para cobrar com cara de pau à luz do SSM. A culpa é repartida.

Chegados ao país, 2 dias depois do previsto, os passageiros furibundos deparam-se com as senhoras que dão a cara pela TAP que, não responderam a questões quentes mas, despacharam com um “foram vocês que quiseram assim”. Traduzido, significa “nós simplesmente fazemos dinheiro com a estupidez do Vosso governo”. As pessoas vivem os erros do SSM e hoje encerra mais um mês de atraso na revisão do mesmo. Os problemas são exógenos ou endógenos?

Assembleia Sazonal
A ALR está absorvida de novo pelos timings da Presidência do Governo Regional. A casa da democracia resume-se a um orçamento para jeitinhos políticos, “jobs for the boys” sem adição de competências e produz um debate paupérrimo. O último plenário da ALR ocorreu a 26 de Julho e o próximo será a 6 de Outubro, 72 dias de férias. Para Outubro estão programados 9 plenários, com o serviço a coincidir em 3 dias da semana, às Terças, Quartas e Quintas-feiras. As Sextas e Segundas-feiras são reservadas aos fins-de-semana prolongados. Na agenda de Novembro a dose repete-se. Nas épocas festivas, a ALR também é prendada. Dirão que há outros afazeres políticos. Quantos representantes do povo viram os eleitores junto de si na altura dos incêndios?

É sintomático que um autarca, para passar bombeiros a sapadores, tenha que deixar um alerta para se despacharem. A ALR está focada nos interesses partidários. O crescimento dos debates na sociedade civil passam ao lado dos deputados, não as conferências onde desfilam interesses, muito menos nos partidariamente obrigatórios, falo dos que determinam as orientações de votos futuros com a cruz mais fiscalizadora e competente que se conhece. A sociedade civil está saturada e há fortes indícios de marginalização dos deputados. Fica um último reparo, se a oposição na ALR sonha com a alternância a sua obrigação é a de ser mais actuante, persuasiva, liderante e denunciante com o assunto bem estudado para defender o povo. O marasmo parece conveniente a todas as partes.

O eleitor só conhece a imunidade à qualidade de vida e o argumento dos estúpidos invocando a inveja. O fosso vai muito além de pobres e ricos. Alguns fazem muito pouco para aquilo que recebem ou gastam ao erário público.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
30/09/16

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