E novidades?
A CAUSA e o efeito. São muitas as discussões em
torno da interioridade que situam entre o que originou o atual estado da
arte a benevolência com que se aceita a lógica do “ajuste”. Esta
abordagem é, aliás, a causa primeira do vingar da tese de que nos
territórios eufemisticamente chamados “de baixa densidade” tem que se
adequar os serviços à população residente. A fórmula que se segue é
conhecida: menos gente, logo, a necessidade de menos serviços públicos
e, por arrasto, de menos serviços privados. O que se tem passado ao
longo das últimas décadas é precisamente a tradução dessa tese nos
territórios e que está muito bem documentada nos arquivos dos jornais.
Escolas fechadas, freguesias extintas e agregadas, extensões de saúde
encerradas, postos de correio de portas definitivamente fechadas, etc,
etc. É isto que se vê e é isto que é explicado como a derradeira
inevitabilidade: “Se não há pessoas, para que é que precisam de
serviços?” Supostamente esta seria a inabalável justificação que nos
levaria a encolher os ombros e seguir o trilho da resignação. Porque, de
facto, somos cada vez menos e, bem vistas as coisas, para que é que
precisamos de serviços para tão poucos? É; a racionalidade é espantosa e
não deveria dar motivo a contestações.
Mas o problema será, provavelmente, outro.
Tentemos ver nesta triste constatação do despovoamento do Interior – o
encerramento de serviços – não como um efeito, mas como uma das causas
do perpetuar deste ciclo de agonia. Quem, no seu perfeito juízo – e
agora que todos os municípios lutam declaradamente pela captação de
investimento para os seus territórios – não levará em conta, na hora da
ponderação, que estes são territórios onde as estruturas básicas foram
sucessivamente sonegadas? A questão de encerramento de serviços e do não
investimento justificado pela demografia não é um sinal de desistência
de um território? A métrica que leva ao encerramento de escolas e de
outros equipamentos, não é só a matemática do ajuste à suposta
realidade. É, também, a equação que compromete o futuro. A ausência do
Estado – e é bom que isto se entenda para além das fronteiras da Beira
Interior – é um sinal de conformismo e de total ausência de esperança na
alteração do status quo. Fechar uma escola é a constatação de que não
há alunos. Mas é mais do que isso: colocar-se o cadeado na porta é
também selar o sequestro da esperança e enviar um sinal de repulsa para o
exterior. É esta métrica linear e simplista de “poupança” de recursos
que também alimenta o ciclo de abandono, porque, sejamos claros, é bem
mais fácil (e sobretudo barato) encerrar serviços. Mesmo que fique a vã
promessa de um dia, se tal se justificar, tudo voltar a abrir portas em
resplandecente e miraculoso esplendor. A questão dos médicos que o
Jornal do Fundão tem vindo a acompanhar ao longo das últimas edições é
apenas um dos derivados desta lógica sobre a interioridade. Se os
tradicionais concursos não permitem fixar médicos no Interior, porque em
(des)igualdade de circunstâncias preferem o Litoral, então que se
reverta esta lógica da simplicidade, criando mecanismos legislativos
para garantir a fixação nestes territórios. E não, isto não seria a
tradução da famosa “discriminação positiva. Seria tão-só um frémito de
justiça.
31/08/16
.
Sem comentários:
Enviar um comentário