21/09/2016

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HOJE NO 
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Crise.  
Mais pobres perderam 69 euros
e mais ricos 340 euros por mês

Segundo o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a pré-falência de Portugal em 2011 provocou cortes nos apoios sociais do Estado que atingiram os que dependem dos subsídios para sobreviver.

Os pobres ficaram mais pobres e os jovens foram quem mais dinheiro perdeu com a crise. Estas foram das principais conclusões do estudo “Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal: 2009 - 2014”, realizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), em parceria com o “Expresso” e a SIC. E este cenário ocorreu, principalmente, devido à falta de apoios sociais durante o período de ajustamento.
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Ora, depois de analisados os números, verificou-se que, de 2009 a 2014, os rendimentos da população portuguesa, no geral, diminuíram 12%, o que perfaz uma quebra de 116 euros por mês. Indo mais ao particular, e dividindo a população em dez grupos, começando nos 10% mais pobres, que em 2014 recebiam cerca de 200 euros mensalmente, e terminando nos 10% mais ricos, que viviam com 2500 euros por mês, chegou-se à conclusão que a parte dos portugueses com menos rendimentos foi quem sofreu a maior quebra durante os anos de ajustamento: em média, o primeiro grupo perdeu 69 euros por mês, o que representa uma diminuição de 25% do seu rendimento mensal. No patamar mais elevado, os 10% mais ricos sofreram uma quebra de 13% em comparação com 2009, perdendo 340 euros dos ganhos mensais.

O estudo explica que a perda, em termos relativos, dos mais pobres se deve, por um lado, à “crise económica em si mesma”, mas também à “exclusão de largos milhares de trabalhadores por conta de outrem do mercado de trabalho”, o que “teve efeitos devastadores”. No entanto, o fato de esta percentagem da população não ter visto os seus rendimentos diretamente afetados pelos cortes realizados “não chegou para compensar esses efeitos”. Mas “as alterações introduzidas nas transferências sociais, em particular no Rendimento Social de Inserção, no Complemento Solidário para Idosos e no Abono de Família, foram determinantes no aumento da pobreza”. Ou seja, o Estado não podia ajudar como dantes e os efeitos sentiram-se com particular peso na camada mais pobre da população.

Depois de dividir os portugueses por rendimentos, analisaram-se os efeitos da crise por faixa etária. E aí foram os mais novos que mais sofreram. Se a média das perdas de toda a população, entre 2009 e 2014, foi de 12%, já os jovens com menos de 25 anos registaram uma diminuição nos seus rendimentos de 29%. As famílias mais jovens ficaram sem 230 euros por mês neste período de cinco anos. Do outro lado, os portugueses com mais de 65 anos viram os seus rendimentos diminuir abaixo da média nacional - sofreram uma quebra de 7%.

Já em relação aos ganhos mensais dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal, em 2009, a média nacional de rendimentos brutos era de 1366 euros - em termos líquidos ascendia aos 1042 euros - e, em 2014, o rendimento médio bruto era de 1283 euros, mas o líquido de 910 euros. Ou seja, durante o período de ajustamento, os trabalhadores portugueses viram o seu ganho médio mensal diminuir 132 euros. Também a diferença entre homens e mulheres é estudada: se os salários dos homens diminuíram 1,5% nestes anos, os das mulheres baixaram 10,5%.

Em termos europeus, a desigualdade de rendimentos atingiu a maioria dos países da União Europeia. Porém, o agravamento em Portugal foi superior à média europeia - apenas nove Estados-membros reduziram as suas desigualdades durante a crise (Reino Unido, Bélgica e França são alguns exemplos). Países como a Grécia e Espanha superam Portugal em desigualdade na distribuição de rendimentos. Os países com maior fosso entre ricos e pobres são a Letónia e a Estónia. De referir ainda que, segundo os dados demonstrados, em 2009, os 5% mais pobres recebiam 15 vezes menos do que os 5% mais ricos. Em 2014, a diferença passou para 19 vezes menos.

Mas o que é a pobreza? Será o mesmo que desigualdade? As respostas a estas perguntas também são dadas. E sobre isso refere-se que os dados sobre o nível de desigualdade e de pobreza mostram que quanto mais desigual, mais pobre é um país: “As transformações ocorridas nos rendimentos familiares e na desigualdade no decorrer do processo de ajustamento ocorrido entre 2009 e 2014 não poderiam deixar de se repercutir na alteração dos indicadores de pobreza. Embora o fenómeno da pobreza, dada a sua natureza multidimensional, extravase em muito o âmbito das desigualdades, os dois fenómenos estão profundamente ligados”, refere-se no estudo. E neste aspeto demonstra-se que o número de portugueses pobres, entre 2009 e 2014, aumentou para 2,02 milhões (mais 116 mil do que em 2009).

O coordenador deste projeto, com o nome “Portugal Desigual”, Carlos Farinha Rodrigues, professor do ISEG, diz, no site de apresentação da investigação, “que se por um lado é verdade que todos perderam, por outro também é certo que nem todos perderam com a mesma intensidade”, explicando depois que “é um mito a afirmação de que as classes médias foram fortemente penalizadas no decurso do processo de ajustamento”.

* No "Portugal Desigual" são as mulheres que mais sofrem.

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