14/08/2016

HELDER LOPES

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“Contas rápidas …”

Em altura de verão, que tantos utilizam como desculpa para fazer promessas de mudança e fazer “coisas novas”, tomo a liberdade de vos desafiar a fazer algumas contas simples:

- Numa praia com uma média de 1000 utentes diários, se um porcento enterrar três beatas na areia por dia, quantas beatas conspurcam a praia ao fim de uma semana e ao fim de um mês?

- Numa Escola com 1500 alunos, se diariamente trinta colarem uma pastilha elástica debaixo da carteira, ao fim de um período letivo com 66 dias de aulas, quantas pastilhas lá foram coladas em vez de serem depositadas no balde do lixo?

- Num centro de saúde que atenda diariamente 200 utentes/doentes, se em média cada um for atendido sessenta minutos depois da hora marcada, quantas horas são perdidas pelo conjunto dos utentes/doentes ao fim de uma semana, de um mês e de um ano?

- Se a um porcento de 4 milhões de contribuintes, quando submete a declaração do IRS online, aparecer uma mensagem a dizer algo do género: “por motivos técnicos não nos é possível aceder ao seu pedido, tente mais tarde” e com isso perder mais 30 minutos, quanto tempo foi perdido pelo conjunto dos contribuintes?

- Numa instituição pública com 300 funcionários se cada um for obrigado a preencher um relatório de avaliação, completamente inútil, que demora 10h a preencher (e a recolher dados), quantas horas são perdidas?

- Se uma equipa treinar cinco vezes por semana e, em cada treino, 10 minutos forem “desperdiçados” com conversa inócua ou exercícios inúteis (para já não dizer prejudiciais), ao fim de uma semana quantos minutos foram “perdidos”? E ao fim de um ano, se considerarmos que foram realizadas 40 semanas de treinos? E ao fim de 10 anos?

Certamente que “exemplos” como estes não faltam. Aliás cada um dos leitores (que conseguiu ler o texto até aqui) facilmente arranjará mais questões deste tipo (por ex., no seu âmbito privado, profissional, ou social).

O que gostaríamos de realçar é que, muitas vezes, quando analisamos aspetos pontuais e não conseguimos ter uma noção de escala, bem como dos efeitos a curto, médio e logo prazo, acabamos por não valorizar suficientemente algumas das opções que fazemos (ou deixamos de fazer) ou algumas das “inutilidades” que nos obrigam a cumprir.

É necessário raciocinar em função de processos e não de acontecimentos. Ora, isso não é fácil, uma vez que o sistema educativo e o sistema desportivo não só não estimulam como, muitas vezes, até punem a pesquisa, a criatividade, a autonomia, o espírito crítico … e estão formatados para que os alunos/desportistas, professores/treinadores, funcionários, encarregados de educação … se preocupem mais com o curto prazo (o próximo teste/exame/competição) do que com o desenvolvimento das capacidades e potencialidades de cada um que, no fundo, deve ser o objetivo da educação (não esquecer que tanto se educa na escola, como no clube, como na família …).

 A propósito, fez ou pensa fazer as contas que em cima propusemos (ou arranjar outras) e equacionar as suas implicações?

É que talvez a compreensão daquele tipo de fenómenos possa ser um primeiro passo para que se percebam problemas ambientais e porque é que existem tantas lamentações sobre a falta de produtividade do nosso país.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
09/08/16

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