12/08/2016

ANTÓNIO JOSÉ GOUVEIA

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Galpgate e a "serious season"

Noutros tempos, seria o Bloco de Esquerda e o PCP a exigir a cabeça de Rocha Andrade no Parlamento, não a líder do CDS, Assunção Cristas. Noutras alturas, seriam os bloquistas e os comunistas a acusarem o Governo e o PS de pactuar com um grupo económico capitalista. Mas os tempos são outros e, em nome da estabilidade da geringonça, tudo é perdoado a António Costa.

E, de repente, a "silly season" tornou-se uma "serious season" para mal dos pecados do primeiro-ministro, a banhos no Algarve. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais vai ser a dor de cabeça de Costa. À evidência de todos, ainda não percebeu que Rocha Andrade morreu politicamente.

Se o secretário de Estado continuar, vai ser um peso morto para o Governo, e logo agora que, em matéria de execução orçamental, as coisas estavam a ir de feição para os socialistas.

Qual será a cara de Costa ou do ministro das Finanças quando, já em setembro, começar a anunciar as medidas principais para o Orçamento do Estado do próximo ano? Quando for enviado o draft do Orçamento para a Comissão Europeia? Como é evidente, será mais um orçamento de austeridade, cheio de medidas pouco populares que implicará, possivelmente, uma mexida nos impostos. Quem é o responsável pelos impostos no Governo? Rocha Andrade.

O capital que, tanto o PS como o Bloco, amealharam nestes meses de desvario de Passos Coelho - veja-se as sondagens mais recentes com os dois partidos a atingirem quase a maioria - pode agora ser gasto num fogo fátuo chamado Rocha Andrade.

Por muito que Augusto Santos Silva queira enterrar o assunto, será difícil para o Governo assobiar para o lado quando a Procuradoria-Geral da República já prometeu uma investigação à ida dos secretários de Estado aos jogos de Portugal no Euro 2016 a convite da Galp.

Dando como adquirido que Rocha Andrade aceitou um convite eticamente condenável, o que está em causa no momento é a legitimidade das decisões do secretário de Estado enquanto governante e o quanto pode prejudicar António Costa e Mário Centeno na defesa da política económica. Este poderá ser o verdadeiro "walking dead" da geringonça.

Sem querer comparar casos, Rocha Andrade estará para António Costa como Miguel Relvas esteve para Passos Coelho. Com uma diferença, Relvas, como ministro, não se escondeu e foi a chacota nacional. Rocha Andrade vai submergir no gabinete à espera que a tempestade passe. O primeiro demitiu-se. E o segundo?

*EDITOR-EXECUTIVO

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
06/08/16


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