07/07/2016

TOMÁS ROQUETTE TENREIRO

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Que tipos de sistemas agrícolas 
sustentarão o amanhã?

A intensificação do uso da terra e em particular de plantas e animais de valor económico associado tem sido possível graças à selecção de especificas características e qualidades das espécies resultando inevitavelmente numa alteração da constituição genética das mesmas ao longo dos tempos

A agricultura aparece na história da humanidade durante o período neolítico há cerca de 10.000 anos (na Mesopotâmia, nos vales dos rios Nilo, Tigre e Eufrades), possibilitando ao Homem a capacidade de fisicamente se fixar e transformando assim o seu comportamento recolectivo numa postura sedentária, especializar-se noutras actividades gerando progresso.

No entanto, esta especialização de que falo ocorreu naturalmente também na própria agricultura. A intensificação do uso da terra e em particular de plantas e animais de valor económico associado tem sido possível graças à selecção de especificas características e qualidades das espécies resultando inevitavelmente numa alteração da constituição genética das mesmas ao longo dos tempos.

A selecção de recursos genéticos e a domesticação de espécies que tem ocorrido nos sistemas agrícolas do nosso mundo são fruto da especialização e intensificação da actividade, o que tem gerado uma relação de interdependência entre o homem e as espécies que o alimentam.

A intensificação desta relação tem levado o homem a uma maior dependência de apenas algumas espécies que por sua vez dependem cada vez mais do homem, aumentando-se assim o nível de dependência que os sistemas agrícolas de hoje têm de inputs artificiais, por sua vez dependentes de tecnologia com custos ambientais elevados e de fileiras produtivas que se têm monopolizado.

Existe um notável estreitamento ao nível dos recursos genéticos que hoje utilizamos. Hoje, cerca de 60% da biomassa animal no mundo pertence ao gado bovino. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO, estimou no fim dos anos 90 que cerca de duas raças de espécies animais domesticadas estavam sendo perdidas por semana em todo o mundo (FAO 1998), sendo que mesma tendência voltaria a ser verificada em 2007.

Actualmente 99% da carne de peru produzida nos Estados Unidos da América (E.U.A.) resulta de uma única raça e 70% das explorações leiteiras norte americanas trabalham apenas com a raça Holstein-Frísia (Halweil 2004). Existe assim todo um património genético que se vai perdendo. Existem cerca de 300.000 espécies vegetais comestíveis no mundo, no entanto 60% da energia presente na dieta humana é assegurada por apenas quatro dessas espécies (Arroz, Trigo, Milho, Batata). Falando em milho, no final do século XX, apenas seis variedades eram já responsáveis pela produção de 70% da produção mundial desse cereal.

Geograficamente, é igualmente possível verificar que as zonas em que muitas das principais espécies domesticadas tiveram origem não coincidem hoje com as zonas em que as mesmas são produzidas de forma mais especializada, o que revela bem o distanciamento que existe hoje entre a agricultura industrializada e as linhas de variedades silvestres de onde partimos.

A homogeneização dos recursos genéticos utilizados na agricultura tem afectado a resistência de sistemas a nível de pragas, de variados agentes patogénicos e resulta igualmente num maior grau de vulnerabilidade a alterações climáticas e outros factores ambientais. Estima-se que mundialmente factores como pragas e agentes patogénicos sejam responsáveis pela redução de cerca de 35% das produtividades potenciais das nossas culturas agrícolas (Agroecology - The Ecology of Sustainable Food Systems 2015).

Uma outra consequência prática deste afunilamento genético é a perda de eficiência na integração de serviços naturais e funcionais que sejam capazes de gerar sistemas multi-funcionais.

Nos anos 70, surge na escola agrícola de Cárdenas, em Tabasco no México, um modelo que tem ganho popularidade e alterado a perspectiva de muitos mas que na verdade propõe alternativas cuja a prática é bem ancestral e em muitas zonas do mundo ainda vista como tradicional.

Questionamo-nos portanto se este é um caminho de olhos fechados ao progresso ou se se trata sim da integração de conhecimento e tecnologia na ecologia de sistemas permitindo gerar maior resistência e resiliência sem que se aumentem custos.

A variedade e complexidade de conceitos apresentados pela Agroecologia tem se transformado num movimento muitas vezes defendido com alguma carência de fundamentação científica e resultando num discurso politicamente parcial e de forte carácter activista no qual não me revejo.

No entanto, existe muita potencialidade em muitos dos modelos que este movimento defende nos dias de hoje. Procurando sempre manter uma perspectiva aberta que não me permita cair em argumentos tão radicais quanto incoerentes vejo que as exigências do amanhã levam os nossos sistemas no sentido de alternativas como as que esta visão apresenta.

Pensar os nossos sistemas agrícolas exige hoje mais que nunca uma visão global capaz de compreender o nosso sistema alimentar segundo uma perspectiva mais extensa. A intensificação dos nossos sistemas tem assim permitido uma crescente dependência de factores externos à escala produtiva, resultando não só numa extensão da distribuição e comercialização do que se produz mas também numa globalização de mercados de matérias primas e outros factores produtivos que conduzem consequentemente a actividade produtiva a um estado de maior dependência e fragilidade.

A proposta da Agroecologia surge deste modo numa escala que se estende a outras actividades e sectores porque a implementação de modelos na agricultura já não é hoje possível sem uma reestruturação de todo o sistema complementar. São assim apresentados cinco níveis distintos de conversão, variando entre eles a escala em que actuam, o campo cientifico que abordam, as praticas que propõem e a dimensão social em que devem ocorrer.

Ao nível da escala, os diferentes níveis de conversão vão desde o nível da exploração agrícola ou sistema produtivo, passando por uma dimensão local, regional, nacional e finalmente mundial. Como se pode desde já prever, a conversão do nosso sistema alimentar trata-se de um desafio de enorme complexidade que lidará com factores "in situ", questões de carácter local onde as variáveis são de enorme diversidade e tocando igualmente questões de carácter socio-cultural a uma escala global em que como se pode imaginar, a diversidade não tem fim.

Segundo a FAO, é estimado que em 2050 seremos 9 biliões de pessoas neste mundo, apresentando assim a população humana um crescimento de cerca de um terço, durante o ano de 2009 e 2050. Contudo este crescimento não está a ocorrer de forma uniforme em todas as zonas do globo, sendo que as maiores taxas de crescimento se observam no continente africano, na zona Sub-Sahariana, e no sudoeste asiático.

Existe naturalmente uma preocupação crescente com esta realidade uma vez que as zonas de maior crescimento populacional são igualmente as zonas menos desenvolvidas do planeta. Zonas em que a realidade produtiva baseia-se em explorações agrícolas de subsistência, cuja dimensão média das explorações é inferior a 2 ha (97% das explorações agrícolas do mundo têm uma dimensão inferior a 2 ha - Feeding the world with Agroecology TEDxEde 2014) e nas quais a tomada de decisão é consideravelmente condicionada por um défice de infra-estruturas, de tecnologia e por custos de factores de produção que levam a que muitos desses sistemas se caracterizem por baixos inputs. Assim sendo, uma alternativa global de futuro não poderá passar por uma intensificação da produção à base de factores externos.

Um fertilizante artificial que sai de Oslo a 1 US$, chega ao porto de Roterdão a 1.5 US$, sendo comercializado na Europa a 2 US$, valor esse que atinge uns 3.5US$ chegando à Somália e sendo comercializado na Etiópia ou no Quénia a 5.5 ou 6 US$ (Wageningen University 2016).

Esta realidade permite compreender como práticas que são sustentáveis em determinados sistemas tornam-se absolutamente impraticáveis noutros contextos, o que resulta numa complexidade infinita ao nível da tomada de decisão por quem repensa a agricultura a uma escala global através de políticas internacionais ou de modelos abrangentes.

Pois em 2030, 60% da população mundial estará em zonas onde os sistemas se baseiam em baixos inputs e em que os modelos especializados e industrializados não se aplicam. Em 2050, esta percentagem será de 70% e será necessário desenvolver modelos capazes de garantir segurança alimentar em tais zonas. Modelos em que serviços ecológicos desempenhem um maior papel e em que a optimização do uso de recursos seja uma prioridade, já que as condições de consumo de inputs são significativamente diferentes.

O sistema alimentar mundial é uma das questões de maior peso na agenda política do amanhã, estão em jogo questões que ultrapassam a dimensão económica da produção pois o impacto desta actividade tem efeitos a nível global na forma como as sociedades estarão distribuídas no território, na forma como um banco de recursos naturais que é finito será gerido, no modo como a nutrição humana será assegurada e em que condições isto será possível.

Porque quando se trata de segurança alimentar a questão não é exclusivamente quanto produziremos mas sim quem terá acesso, como utilizaremos e com que estabilidade essa mesma produção será alcançada. É interessante compreender a diversidade existente e a complexidade de factores condicionantes para que se entenda o desafio que uma reestruturação do nosso sistema alimentar apresenta.

A Agroecologia alerta para a sobre-exploração de recursos. Recursos que se têm vindo a usar a um ritmo superior ao que o planeta consegue repor. Ao nível da Agricultura existe uma preocupação crescente com o modo como recursos finitos são geridos. A intensificação de sistemas tem resultado num uso ineficiente de recursos. Ao nível dos nutrientes esta questão é bastante visível.

Com uma globalização do sector verifica-se uma livre circulação de matérias primas e consequentemente de nutrientes, cuja a reposição é assegurada por composições artificiais de altos custos energéticos e inevitavelmente ambientais. Esta migração desequilibrada de nutrientes tem resultado em problemas como a concentração de nitratos e fosfatos em alguns pontos do globo, levando à depleção nutritiva de solos em outras zonas, por sua vez carentes de planos cuidados de fertilização.

Este é um ponto interessante abordado pelo livro Our nutrient world - The challenge to produce more food and energy with less pollution, que nos permite redefinir os indicadores de sustentabilidade que muita vezes utilizamos (porque orgânico ou biológico não significa necessariamente sustentável: a sustentabilidade deve permitir a durabilidade do uso economicamente viável de recursos, a longo prazo, e são inúmeros os casos de sistemas de agricultura biológica em que deficientes planos de fertilização estão a resultar em balanços de nutrientes significativamente negativos ao nível da exploração).

O sector animal industrializado e intensivo é sem dúvida uma questão do amanhã, desde que os níveis de eutrofização no norte da Europa, na Índia e na China têm atingido níveis significativos e desde que o próprio sector é responsável pela emissão de gases com efeito estufa que terão de ser controlados como bem ficou definido na cimeira de Paris.

No entanto, é importante compreender o papel essencial que é desempenhado pela pecuária no equilíbrio de sistemas e principalmente por parte dos ruminantes, capazes de converter fibra em energia e proteína animal utilizável na alimentação humana. Ao nível do balanço nutritivo dos sistemas do amanhã os animais serão uma peça chave e sua integração é uma proposta clara da Agroecologia.

Sistemas diversos em que o pastoreio animal ou a a combinação da produção vegetal das explorações com a alimentação de gado confinado permitirá a reutilização de resíduos orgânicos animais na fertilização de solos aráveis são alternativas propostas e de grande interesse. Recentemente têm surgido na Europa políticas ambientais que abordam estas questões.

Dentro deste panorama a Dinamarca foi um dos primeiros países a atingir as metas definidas em relação ao nível de nitratos permitido, através de uma extensificação do seu sector animal. Na Holanda, existe já um plano nacional de distribuição de estrumes que chegam mesmo a ser exportados. No entanto, avaliar os sistemas do amanhã implica conhecer a variedade existente e compreender que as necessidades se alteram muito significativamente.

Essa é a grande dificuldade encontrada a nível europeu pela políticas comuns que uns definem para solucionar os seus problemas quando na verdade no sul da Europa o cenário é bem diferente. Mas é possível beneficiar e promover sistemas de menor pegada ecológica e sem duvida que dentro do sector animal isso passa por sistemas mais extensivos (que não excedam a "carrying capacity" do ecossistema).

No entanto, um sector animal mais extensivo e capaz de assegurar a procura de carne crescente de uma população que está não só a aumentar mas também a ganhar prosperidade e a ganhar poder de compra (principalmente na Ásia, o que está a resultar numa alteração de dietas e numa procura acrescida por produtos de origem animal), exige outras preocupações ao nível do uso de recursos.

Tornar o pastoreio uma maior fonte de carne no mundo implica que a fertilização dos sistemas de pastagem seja melhorada e esse melhoramento, dentro dos modelos em que é feito hoje em dia, está fortemente condicionado. O fósforo, é seguramente uma das grandes questões dos sistemas agrícolas do amanhã já que as suas reservas naturais foram estimadas numa quantidade capaz de assegurar a procura existente por mais 40 anos.

Um recurso que em 2050, será necessário anualmente em cerca de 24 Tg de fertilizante (duplicando em relação ao valor actual) a fim de se evitar uma perda de nutrientes dos sistemas de pastoreio no mundo e um declínio das produtividades das nossas pastagens (S.Z Sattari., 2016). Um melhoramento da fertilização de pastagens poderá depender de acordos internacionais capazes de criar condições locais não só para um melhor aproveitamento local de resíduos orgânicos como estrumes, como também para uma maior capacidade de processamento e distribuição dos mesmos.

A integração de animais em sistemas de pastoreio é uma proposta que procura dar resposta a muitos dos problemas que têm surgido no sector animal intensivo e de enorme potencialidade já que as pastagens representam cerca de 2/3 da área global agrícola e existem mais de 3 biliões de ha de pastagem em todo o mundo que se encontram em condições de sub-aproveitamento.

Outras duas questões centrais de uma reestruturação do nosso sistema alimentar passam pelo uso de água e dos solos. Existe mundialmente uma sobre-exploração de recursos hídricos como resultado da intensificação industrial, da expansão de espaços urbanos e do uso ineficiente por parte de variados sistemas agrícolas. Em muitos países do mundo, a capacidade de desenvolvimento industrial e agrícola encontra-se principalmente limitada pela disponibilidade deste recurso.

Em contrapartida noutros sistemas, a fim de se alcançarem metas produtivas este recurso é obtido de aquíferos subterrâneos a um ritmo superior ao que naturalmente o ambiente tem capacidade de repor (como se tem passado na Califórnia nos últimos anos devido à seca que atravessam). De acordo com a FAO, a agricultura é responsável globalmente pelo uso de 70% deste recurso.

Não poderei portanto deixar de notar que existe assim a necessidade de se apoiarem formas alternativas de armazenamento de água como é o caso de barragens. Infra-estruturas capazes de não só gerar ecossistemas funcionais (como resposta ao argumento tantas vezes apresentado por ecologistas activistas) como outras actividades paralelas e fontes de energia limpa.

A degradação edáfica é outra questão de impacto, uma vez que anualmente entre cinco e sete milhões de hectares de terra com valor agrícola são perdidos devido à degradação dos seus solos e estima-se que cerca de 33% dos solos do nosso planeta encontram-se num estado de elevada ou moderada degradação (FAO 2011). Apesar das várias formas de degradação dos nossos solos, a erosão edáfica é definitivamente a mais frequente.

Consequentemente, os futuros sistemas agrícolas terão de ser igualmente sistemas conscientes na forma como gerem este recurso, capazes de definir práticas de conservação como a manutenção do solo coberto, o controlo de trânsito ao nível da exploração, o uso de diferente maquinaria, de sementeiras directas, a gestão integrada de infestantes em culturas perenes e outras como sistemas de rega localizados e uma cuidada definição da carga animal em sistemas de pastoreio.

A Agroecologia defende portanto que o futuro dos nossos sistemas agrícolas passa muito por devolver-lhes o seu lado mais natural, ganhando com isso equilíbrios e perdendo dependência de inputs que não só representam custos para os agricultores como também para o ambiente.

O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola - IFAD tem defendido precisamente esta mesma visão prevendo que a sustentabilidade não só ambiental mas também e principalmente económica dos sistemas agrícolas do amanhã passará muito pela optimização no uso de recursos, pela criação de modelos produtivos capazes de gerarem ciclos internos de nutrientes resultando numa menor dependência de mercados monopolistas por parte dos agricultores.

Existe contudo a meu ver, igualmente espaço para soluções especializadas que a Agroecología por sua vez pouco aborda, como o arroz transgénico não apenas enquanto ferramenta para uma maior segurança alimentar na Africa Sub-Sahariana mas também como uma alternativa eficaz na redução das emissões de metano resultantes do seu cultivo (Nature 523 Jul 2015), ou de culturas Bt inseridas em modelos de rotação e diversidade capazes de reduzir inputs sem com isso resultar em resistências preocupantes.

No entanto, a sustentabilidade do sector não pode ser alcançada sem que toda a fileira sofra reestruturações. Não só ao nível da exploração agrícola como também ao nível da industria e distribuição os processos terão de procurar substituir as fontes industrializadas de energia por fontes biológicas de energia. Os sistemas de futuro terão de ser capazes de reavaliar a necessidade de tecnologia em alguns sistemas em que mais pessoas possam estar inseridas na produção do que comemos e na gestão da terra.

Funcionando assim como um catalisador da fixação de populações em espaços rurais e numa distribuição demográfica mais equilibrada. Nos E.U.A., desde 1920 o numero de explorações agrícolas diminuiu de cerca de mais de 6.5 milhões para apenas 2 milhões, o que resultou numa queda da percentagem de população que vive e trabalha em explorações agrícolas para uns míseros 2%.

Ao nível do consumo, também vão ocorrer alterações, porque nunca os alimentos foram tão desvalorizados no mundo e nunca a alimentação custou tão pouco. Os alimentos do amanhã serão mais caros e as alterações dos seus preços serão proporcionais à pegada ecológica da sua produção.

O consumo terá de ser igualmente educado, pois os níveis de consumo da nossa sociedade não apresentam qualquer sustentabilidade e baseiam-se no desperdício. A distância consumidor produtor terá igualmente de ser trabalhada promovendo-se o consumo local. Considerando metas como as definidas na cimeira de Paris, os sistemas serão neutros quanto ao balanço de carbono, capazes de fixar a quantidade que libertarem.

Sistemas multi-funcionais, capazes de beneficiar de serviços ecológicos e com um grau reduzido de dependência de inputs externos serão cruciais para que se alcancem tais metas, conferindo uma maior independência aos produtores e tornando-se numa alternativa economicamente viável a sistemas altamente produtivos mas igualmente afectados por flutuações ao nível de mercados ou de outros factores externos.

Assim sendo, não consigo deixar de encontrar oportunidades de futuro para a realidade nacional. Considerando o equilíbrio ambiental e social que resulta de sistemas de vocação definida como é o caso do montado, baseado na diversificação de culturas/produtos em que a multi-funcionalidade do sistema resulta num decréscimo de inputs e numa preservação não só de uma das florestas mais importantes do mundo em questões de biodiversidade e de fixação de carbono mas também num produto capaz de levar a economia nacional a mercados externos e de enorme interesse.

A integração de animais, a gestão de sistemas baseados num modelo agro-florestal capaz de optimizar o uso de nutrientes e outros recursos, capaz preservar recursos genéticos e serviços ecológicos. A capacidade de fixação de carbono, a fixação de populações através da criação de oportunidades profissionais locais aliada com a produção baseada na qualidade que luta por nichos e não por oceanos de consumo, em que se podem discutir preços com outra liberdade são pontos claros do ganho existente na aposta de sistemas como o montado.

Vejo muitos dos conceitos da Agroecología aplicados em sistemas tão nossos como é o caso do montado. Acredito portanto que, se estes modelos forem beneficiados e apoiados em políticas futuras, com consciência e noção prática das exigências reais dos sistemas, muitas oportunidades surgirão para os nossos agricultores.

* Engenheiro agronómico e mestrando em Plant Sciences na Universidade de Wageningen, Holanda

IN "SÁBADO"
03/07/16

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