25/06/2016

NUNO COSTA SANTOS

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Todas as manhãs

Os versos são de Assis Pacheco e podiam figurar no desktop de muita gente distribuída pelos bairros. Falava do assunto com uma amiga, escritora e jornalista com muitos kms de talento e trabalho. Há demasiados poetas azedos em Portugal – e aqui "poeta" é um modo de dizer, substituível por "funcionário público", "jornalista", "médico" ou "actor". A minha amiga perguntou, com uma limonada à frente: como é que se dá a volta a isto?

A resposta é das mais difíceis do mercado das descobertas – até porque, como disse a editora Maria do Rosário Pedreira numa entrevista à revista Ler, "Portugal é muito pequenino e detesta o sucesso alheio". Que é como quem diz: Portugal é dado ao azedume pela sua pequenez física e, também em consequência disso, convivial.

Essa minha amiga, que já viveu longe destas acres destilarias, propõe que aplaudamos mais e mimemos com outra generosidade, em vez de exercermos a nossa vocação de espalhar a acidez pelos outros como os ardinas distribuíam os jornais pela manhã. Tem razão ela, tem. E para isso importa conversarmos connosco próprios, diante do espelho, todas as manhãs. Como fez, com o seu jeito para o verbo autocrítico, sem moles complacências, um tal Fernando Assis Pacheco.

IN "SÁBADO"
19/06/16

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