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Manuais escolares por 40% do preço
E se puder comprar os manuais para o próximo ano letivo por um preço inferior? E vender os dos seus filhos também?
Vender os manuais escolares de que o seu filho já não precisa
e comprar os novos livros em segunda mão, sem perder qualidade
pedagógica. É esta a ideia da Book in Loop, a empresa criada por três
jovens de Coimbra que quer revolucionar um mercado que acreditam estar
contaminado. «Só funcionamos porque o sistema é perverso», dizem. «Mas
podemos realmente fazer as famílias poupar.»
No dia em que decidiram oficializar a ideia, vieram todos para Lisboa
abrir uma empresa, mas João Bernardo Parreira ainda não tinha 18 anos.
Por isso, pediu a um amigo que tomasse a sua vez, um sócio porque tinha
de ser, assinatura na papelada até à maioridade. Parecia coisa feita à
pressa, mas a verdade é que há mais de um ano que ele, Manuel Barata de
Tovar e José Pedro Moura andavam a congeminar a Book in Loop. Tinham
ganhado um concurso de ideias do Instituto Pedro Nunes, uma incubadora
criada pela Universidade de Coimbra para financiar start-ups na área de Ciência e Tecnologia. Aparentemente, os rapazes tinham ali uma coisa séria.
«Em média, uma família gasta 216 euros por ano com cada filho em manuais escolares», diz Manuel, com base na pesquisa que os três conduziram. «Nós propomos uma solução que pode, no limite, reduzir este orçamento para 43 euros.»
Foi este o princípio fundador. Quem tiver manuais usados em boas
condições acede a bookinloop.com ou novoanoescolar.pt e vê onde se
situam os pontos de recolha em que pode entregar gratuitamente os
livros. Ou pede uma recolha ao domicílio, a preços simbólicos. Os
manuais entregues passam por um controlo de qualidade desenvolvido pela
Universidade de Aveiro a fim de garantir as condições de utilização e,
antes do início do ano letivo, são colocados à venda no website.
Nesta altura, as famílias acedem novamente à plataforma, identificam o
estabelecimento de ensino e o ano escolar do filho e podem encomendar os
novos livros. São vendidos a 40 por cento do preço nas livrarias e
podem também ser entregues em casa.
O ano escolar está a chegar ao fim e os rapazes já instalaram uma
série de pontos de recolha pelo país, em todos os postos de combustível
Repsol e da empresa gasolineira Alves Bandeira. Junho é recolha, julho
será análise e catalogação, a partir de agora os rapazes não têm mãos a
medir. A empresa de transportes com que trabalham faz a primeira triagem
dos livros, vê os que estão em condições de ser reutilizados. O que
sobra é analisado por uma equipa de psicologia da Educação da
Universidade de Aveiro, liderada pelo professor Carlos Fernando da
Silva, atestando que aquele livro, por ser usado, não envolve prejuízo
pedagógico para o aluno. Então, a partir de agosto, depois de as escolas
divulgarem a lista de manuais para as disciplinas, eles apresentam no site
o que têm disponível e em condições de elegibilidade. «Se houver
duzentos manuais para uma disciplina e só vendermos 150, o dinheiro é
repartido igualmente pelas duas centenas de famílias que entregaram
aquele livro em boas condições», diz José Pedro. «A nossa empresa fica
com metade do que vendermos.»
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O objetivo para este primeiro ano é recolher 250 mil manuais. Com
base na pesquisa que fizeram e no plano de negócios traçado, «sabemos
que, em média, por cada sete, só conseguiremos reutilizar quatro», diz
Manuel. «E, desses quatro, conseguiremos vender dois. Mas o objetivo é
expandir o modelo, não só em Portugal, como noutros países do mundo.» Os
países do Sul da Europa e os países do Sul da América, sobretudo. «A
nossa ideia só funciona onde o sistema for, de alguma forma, perverso»,
acrescenta Manuel. «Em Portugal, hoje, o Estado está a fazer uma doação
direta a dois grandes grupos editoriais de 250 milhões de euros por ano,
pagos por interpostas pessoas: as famílias. E é aqui que queremos
surfar. Contornar o sistema para beneficiar as pessoas.»
Há uns meses, os três responsáveis da Book in Loop foram à Assembleia
da República apresentar o seu plano – e tentar pressionar os deputados a
agirem sobre o setor. «Saudamos a medida deste governo de oferecer os
manuais aos alunos do primeiro ano do primeiro ciclo, mas é daí para a
frente que estão os verdadeiros encargos», diz João Bernardo. Apesar de
as escolas serem obrigadas a adotar os mesmos manuais durante seis anos,
«a lei não é seguida à risca». Na prática, muitos livros não permanecem
mais de quatro anos num estabelecimento, mesmo que o programa
curricular não tenha sofrido alterações. «Há um truque que as editoras
fazem, e que o nosso projeto ajuda a combater. Aplicam mudanças
cosméticas num manual – como mudar a cor da capa ou alterar a ordem de
um exercício – e registam um novo ISBN [International Standard Book
Number]», continua. «Ora, os professores podem pedir o novo manual, mas
são obrigados a aceitar o antigo durante meia dúzia de anos, porque o
programa curricular não foi alterado.»
Tanto João Bernardo, que tem 18, como Manuel, 21, estudam Direito em
Coimbra. «Tentámos blindar o nosso projeto com uma boa sociedade de
advogados, para que não exista nada de ilegal no que fazemos.» José
Pedro, 37, é o mais velho, tirou bioquímica mas especializou-se na
aceleração de negócios, é orador e criador de novos projetos
empresariais e acredita que este vai funcionar. «Há bancos de livros
usados, sim, e há compra e venda no OLX. Mas agora passa também a haver
uma grande plataforma para as famílias resolverem tudo eficientemente e
sem saírem de casa.»
A Book in Loop
está neste momento instalada em Coimbra, num acelerador de empresas do
Instituto Pedro Nunes. Mas começou à volta de um computador portátil, no
Clube Tiro e Sport, uma associação centenária que há muito deixou de
acolher campeonatos de pontaria, mas onde ainda se joga bridge e
matraquilhos. «Era um sítio de doutores burgueses, aqui nasceram muitas
ideias para o país», diz Manuel. Os outros anuem, dizem que não é
preciso cavalgar muito para desenvolver uma boa ideia. Esta está, a
partir de agora, em teste. E pode muito bem ser que eles consigam surfar
o sistema.
GOVERNO QUER MANUAIS GRATUITOS
Em março chegou o anúncio de que os manuais escolares seriam gratuitos
para os alunos do primeiro ano do primeiro ciclo, já no próximo ano
letivo, a partir de setembro. Agora, o ministro da Educação veio
anunciar a criação de um grupo de trabalho para a gratuitidade e
reutilização dos livros. Um despacho assinado a 13 de maio vai sentar à
mesa representantes do Ministério da Educação, do Conselho das Escolas,
da Associação Nacional de Municípios Portugueses, das associações de
pais, da secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares, do Comércio,
da Direção-Geral das Atividades Económicas e da Associação Portuguesa de
Editores e Livreiros. O objetivo é claro: «Tornar os manuais escolares
menos onerosos para as famílias», lê-se no Diário da República.
Até ao final da legislatura, o ministério conta ter um plano
progressivo de distribuição gratuita dos materiais didáticos a todos os
alunos que frequentem o ensino obrigatório.
* Isto é empreendedorismo!
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