As linhas vermelhas
Este protesto não se faz nas ruas, como no caso dos taxistas, que esta sexta-feira estafaram o país numa ação contra a concorrência da Über.
E chega sob a forma de manifesto,
movimento, ou grupo de reflexão, estando, como é hábito, recheado de
notáveis.
O combate é a “Reconfiguração da Banca em Portugal” e na luta estão
economistas, antigos ministros das Finanças, empresários e políticos.
António Barreto, Rui Rio, Alberto Regueira,
Diogo Freitas do Amaral, Manuela Ferreira Leite, João Salgueiro, Júlio
Castro Caldas, Miguel Beleza, José Roquette e Eduardo Catroga, entre
outros. Num site perto de si — reconfiguracaodabanca –, estes
responsáveis defendem “uma profunda reconfiguração do sector
financeiro”, a necessidade de considerar o interesse nacional e o
combate à excessiva interferência do BCE, a quem não compete, dizem,
pré-definir a configuração do sector bancário de Portugal.
Mas mais. Este grupo pede que, no âmbito da redefinição das estruturas
acionistas do Novo Banco e do BCP, todos os intervenientes sejam
“conhecidos e responsabilizados”.
Este pode ser só mais um dos muitos manifestos, que acabam, depois, por
cair em saco roto — ainda não está livre disso –, mas este é também o
manifesto do governo e do Presidente da República e sai à rua no exato
momento em que tudo se passa.
Está em curso a venda do Novo Banco, a liderança acionista do BPI vai mudar e antecipam-se, também, mexidas no maior banco privado português, o BCP. Com mais ou menos pruridos no discurso, intensifica-se uma espécie de consenso nacional contra a concentração do capital dos bancos nas mãos dos mesmos investidores. Uns gostam mais de angolanos, outros de espanhóis, quase todos prefeririam portugueses, que não há, mas nenhum deseja que os bancos a operar em Portugal sejam dominados por estrangeiros, pelos mesmos estrangeiros de sempre.
É compreensível. Mais que não seja, em defesa do tecido empresarial português, constituído por muitas micro, pequenas e médias empresas, muitas delas exportadoras, que poderão ser penalizadas na avaliação de risco na concessão de crédito. Mas, apesar dos objetivos meritórios e da convicção de que se alguém deve interferir no desenho de uma estratégia global para o sector financeiro, esse alguém não deve ser o Banco Central Europeu (BCE), há limites para a intervenção.
O diploma BPI, como ficou conhecida a lei que força a desblindagem de estatutos dos bancos, pisou o risco, estamos nas tais “linhas vermelhas” de que fala este grupo de 50 subscritores.
Está em curso a venda do Novo Banco, a liderança acionista do BPI vai mudar e antecipam-se, também, mexidas no maior banco privado português, o BCP. Com mais ou menos pruridos no discurso, intensifica-se uma espécie de consenso nacional contra a concentração do capital dos bancos nas mãos dos mesmos investidores. Uns gostam mais de angolanos, outros de espanhóis, quase todos prefeririam portugueses, que não há, mas nenhum deseja que os bancos a operar em Portugal sejam dominados por estrangeiros, pelos mesmos estrangeiros de sempre.
É compreensível. Mais que não seja, em defesa do tecido empresarial português, constituído por muitas micro, pequenas e médias empresas, muitas delas exportadoras, que poderão ser penalizadas na avaliação de risco na concessão de crédito. Mas, apesar dos objetivos meritórios e da convicção de que se alguém deve interferir no desenho de uma estratégia global para o sector financeiro, esse alguém não deve ser o Banco Central Europeu (BCE), há limites para a intervenção.
O diploma BPI, como ficou conhecida a lei que força a desblindagem de estatutos dos bancos, pisou o risco, estamos nas tais “linhas vermelhas” de que fala este grupo de 50 subscritores.
* DIRECTORA
IN "DINHEIRO VIVO"
30/04/16
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