07/05/2016

REGINA AZEVEDO PINTO

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Pirâmide de Maslow?

Dizem que sempre chegamos ao sítio onde nos esperam, não é? Portanto, eu vou continuar a levar a dedicação às costas, persistência nos dedos, sonhos no sorriso, amor no coração

Ultimamente tenho dedicado muito tempo a pensar na pirâmide de Maslow. Tenho tentado ver a minha vida através desse triângulo com um vértice brilhante, como se fosse um farol com luz isofásica. Sempre me fascinou a forma como Maslow estratificou hierarquicamente as nossas necessidades, desde as mais intestinais às mais etéreas. Era de facto um homem extraordinário que conseguiu materializar todas as nossas ganas desde as físicas às mais subjectivas.

Partimos sorrateiramente das mais primárias, básicas das básicas como as fisiológicas, pois ninguém escala a pirâmide do Everest de estômago vazio… Depois, munimo-nos do respectivo equipamento, cordas, arnês e afins, tudo para nos aferir segurança e tranquilidade. Temos um trabalho, somos alpinistas na montanha da vida. Quando temos tudo isso bem seguro passamos para dois níveis diferentes, a necessidade de amor, afecto e, no outro patamar, de estima e reconhecimento.

Bem, aqui podemos descansar um bocadinho porque são patamares que exigem muita dedicação e preparação física, não basta carbonato de magnésio para secar a transpiração das mãos e aumentar a aderência, não, não! Aqui, transpira-se na mesma e a aderência escasseia… Estes níveis são difíceis de passar e já não temos “vidas “para usar, já se foram todas.

Estamos na antecâmara do último nível, de ganhar o jogo, de chegar ao vértice da pirâmide, portanto, há que sedimentar bem estes patamares para esta construção não oscilar com as nortadas! Aqui temos de nos instalar, dedicar, nutrir, mimar. Aqui, temos de nos dar, de nos entrelaçar. Temos de amadurecer ideias, deixá-las maturar e respirar. Aqui, as coisas partem do coração, tem de existir oração. Então, mas, e se eu não tiver cara metade? E se não gostarem de mim? Como enterro eu a minha bandeira no vértice da montanha? Posso saltar etapas? E se eu achar que a minha auto-realização passa por uma vida nómada, sem uma casa fixa, sem uma zona de conforto? Nunca vou sentir o sentimento de auto-realização? Fico aqui presa a ensurdecer num jogo de espelhos sociais? Esta pirâmide mais parece um labirinto então, ou será que pode ser deformada?

Tendo em conta os dias que correm, esta pirâmide já é obrigada a ter escadas de emergência porque quando nós achamos que a fase dois está completa com sucesso solta-se uma corda e lá vamos nós outra vez “procurar emprego” e estabilizar essa fase. Ai que desassossego!

Querido Maslow, estou confusa! Espero que os patamares sejam permeáveis e que, de vez em quando, façam umas permutas amigáveis, porque senão está o caos instalado e isto mais parece a pirâmide de Babel. Dizem que sempre chegamos ao sítio onde nos esperam, não é? Portanto, eu vou continuar a levar a dedicação às costas, persistência nos dedos, sonhos no sorriso, amor no coração e "maktub" no pensamento. Um dia escrevo em cima do farol.


* Advogada e tem alma de escritora emigrante

IN "PÚBLICO"
04/05/16


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