14/05/2016

JOSÉ MANUEL SILVA

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(Des)Terapia Familiar

De uma doente recebi uma carta emocionada e revoltada contra o inesperado fim da Consulta de Terapia Familiar (TF) do ACES Arrábida, a que recorria.

Transcrevo dois parágrafos: "A razão da minha exposição é mostrar a indignação e profunda revolta pelo términos repentino da Consulta de TF da qual eu e os meus três filhos menores beneficiávamos" ... "Estávamos a ultrapassar os nossos problemas e de repente tudo acabou. Não sei o que passou na cabeça de quem deu ordem para acabar com as consultas, mas penso que terá sido algum diretor que não faz a mínima ideia do mal que causou. No entanto, penso que há com certeza diretores, clínicos, técnicos ou seja lá quem for que podem opor-se a esta decisão. Não pode ser uma decisão unilateral."

A Ordem dos Médicos (OM) já tinha sido informada do encerramento desta consulta de TF, que, quase sem custos, seguia dezenas de famílias e recebia pedidos de apoio e consulta para intervenção em famílias por parte de entidades como o Tribunal de Menores, a CPCJ, o hospital, a APPACDM, médicos, psicólogos, etc.

Na ausência de alguma justificação técnica para esta decisão absurda e economicista, a OM interpelou a ARSLVT, há mais de um mês, não tendo recebido qualquer resposta ou explicação.
No momento do encerramento eram seguidas 27 famílias, às quais, como se comprova, não foi oferecida uma alternativa semelhante, com graves prejuízos para as mesmas.

Este espaço de atendimento de famílias em crise surgiu pela necessidade sentida pelos profissionais de saúde em que fosse criada naquela região uma forma de intervenção multidisciplinar, para além de uma simples consulta clínica, de modo a conseguir-se numa ótica sistémica ajudar ao desenvolvimento e adequação funcional das relações intrafamiliares, minimizando o consumismo de consultas médicas por questões psicossomáticas e até reduzindo o consumo de psicofármacos.

Sublinhe-se que as indicações para TF têm vindo a crescer, tanto na Medicina Geral e Familiar como noutras áreas da saúde, e setores social, educação e justiça.

No mesmo período em que foi decidido fechar a consulta, houve uma solicitação de uma profissional do Hospital de Setúbal para efetuar um estágio profissional em TF, que a tutela indeferiu.

Numa época em que temos um presidente de afetos, que saúdo, e quando se assiste a um inevitável aumento da despesa com medicamentos, a OM manifesta a sua enorme consternação pelo processo contínuo de emagrecimento do SNS, despindo-o progressivamente de intervenções não farmacológicas que, muitas vezes, são a melhor forma, se não a única, de resolver os problemas dos doentes.

Porque se preocupa com os doentes, a OM aguarda a reposição da Consulta de TF do ACES Arrábida e o investimento em mais consultas deste tipo onde ainda não existam.

* Bastonário da Ordem dos Médicos

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
13/05/16

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