04/04/2016

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HOJE NO 
"OBSERVADOR"
Distritais insatisfeitas. 
Como Passos perdeu 20% do congresso

Espinho deu a pior votação a Passos na lista para a direção. Mais do que pela promoção de Maria Luís, distritais ficaram incomodadas com falta de representação e com as "escolhas pessoais" do líder.

O congresso do PSD de Espinho pode até ter sido um passeio para Pedro Passos Coelho, que já tinha sido reeleito com 95% dos votos e que chegou ao fim da reunião magna do partido sem que vozes muito altas se tivessem levantado. Mas se no palco pouco descontentamento se viu, o mesmo não se pode dizer na hora das votações, onde a lista do líder para a comissão política nacional teve apenas 79,8% dos votos, o pior resultado de sempre de Passos. Porquê? Porque não agradou as distritais.
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Várias foram as secções que ficaram “incomodadas” com as “escolhas pessoais” do líder e isso, mais do que a promoção de Maria Luís Albuquerque, esteve na base da fraca votação.

“Houve quem ficasse incomodado porque alguns dos nomes escolhidos não foram indicados pelas distritais”, diz ao Observador um dos delegados que se apercebeu do desconforto que ficou na sala depois de terem sido conhecidos os nomes escolhidos por Passos Coelho para a comissão política nacional, que é o órgão de direção política do partido mais próximo do presidente. Além dos seis vices, onde se estreia Maria Luís Albuquerque, Teresa Morais e Sofia Galvão, fazem também parte daquele órgão dez vogais, que, esses sim, estão a levantar mais ondas nas bases do partido.

É o caso de Leiria, Santarém ou Braga. Admitindo que o presidente do partido tem “legitimidade” para escolher as equipas com quem quer trabalhar, o sentimento geral é de que Passos jogou mais uma vez sozinho e não teve atenção à representatividade das distritais nas urnas nem à representatividade geográfica na direção. “O problema não está na comissão permanente (órgão mais restrito), mas nos restantes cargos da comissão política”, diz ao Observador o líder da distrital de Leiria, Rui Rocha, defendendo que “devia haver maior abrangência política do ponto de vista territorial”.
A comissão política nacional é uma escolha do presidente mas deve estar de alguma forma garantida a representatividade geográfica, porque é o principal órgão de definição da estratégia politica nacional. Se fosse eu tentaria garantir essa representatividade tanto quanto possível”, afirma Rui Rocha, que foi eleito vice da Mesa do Congresso.
Um dos novos vogais escolhidos por Passos, Miguel Goulão, pertence à secção de Leiria, mas Rui Rocha sublinha que “não foi indicado por nós”. Ou seja, foi mais uma vez uma “escolha pessoal” que causou alguma irritação nas hostes e que terá pesado na hora de os congressistas irem votar: de um total de 794 delegados apenas 594 votaram na lista de Passos. “Claro que a votação tem a ver com a apreciação que cada delegado faz da composição integral da lista”, justifica Rui Rocha, lembrando que o voto é secreto.

Outra das novas apostas de Passos para a cúpula do partido foi a ex-deputada Francisca Almeida, que pertence ao círculo de Braga mas cuja escolha, ainda assim, não agradou a distrital. “Quantas pessoas da distrital de Braga estão efetivamente nos órgãos de direção?”, questiona ironicamente um dirigente, sugerindo que a ex-deputada não aparece ali em representação de Braga. “Foi provavelmente uma indicação do Paulo Rangel”, ouviu o Observador de outro congressista.

Já o líder da distrital de Braga, o eurodeputado José Manuel Fernandes, é mais recatado: “Respeitamos a estratégia do líder, são escolhas pessoais, não vamos discordar delas”, disse ao Observador, sublinhando que “não andamos atrás de lugares”.

Em causa está, não só o facto de Passos Coelho não ter procurado ouvir as várias estruturas do partido, mas também a falta de proporção em função da representatividade que tiveram nas urnas.

Um dos exemplos que é dado é o do Algarve. “Basta olhar para o Algarve, ver a representação que tem na comissão política ou na mesa do congresso e ver o resultado desastroso que teve nas eleições”, ouve o Observador de um dirigente do partido. “Há gente chateada com o Passos porque ele é teimoso e isso também se nota nestas escolhas”, diz outro delegado, este de Santarém.

Nuno Serra, presidente da distrital de Santarém, admite o incómodo. “Há distritais que têm mais representatividade nos órgãos nacionais e que não tem tanta representatividade nas urnas”, diz ao Observador, afirmando no entanto que se trata de escolhas pessoais do presidente do partido e, como tal, não pode pôr em causa os critérios. “Não sei quais foram os critérios, o líder saberá as razões pelas quais escolheu quem escolheu. Se fosse pelo critério dos votos podíamos criticar, mas como é uma assunção pessoal dele…”.

Certo é que o momento em que Passos anunciou a composição dos órgãos nacionais foi o momento que causou maior tensão no congresso. Ora pelo desconforto das distritais menos representadas, ora pela promoção de Maria Luís Albuquerque ou de Sofia Galvão, uma figura próxima de Marcelo Rebelo de Sousa mas mais apagada no partido desde que fez parte da direção de Manuela Ferreira Leite. Apesar das críticas feitas em surdina pela evidente falta de renovação e pelo incómodo da escolha da ex-ministra das Finanças, não terá sido esse o principal motivo da perda de votos. “Alguns criticam mas no geral ela é acarinhada”, ouve o Observador de um deputado, que lembra como Maria Luís foi bastante aplaudida em Espinho quando foi chamada a subir ao palco.

Em todo o caso, a lista de Passos para a direção teve a pior votação desde que é presidente do partido. Em 2010 tinha conseguido 87,2% dos votos (677 em 774 delegados), em 2012, 88% dos votos (657 em 745) e, em 2014, 85% (660 em 773).

Nos restantes órgãos, as coisas correram melhor a Passos. A lista que apoiava ao conselho nacional, encabeçada pelo ex-ministro Marques Guedes, conseguiu eleger 33 conselheiros (num total de 70), mais do que os 18 conseguidos há dois anos, quando era Miguel Relvas o cabeça-de-lista. Também a lista para a Mesa do Congresso, que concorria sozinha, foi eleita com 88% dos votos (655 votos em 744 votantes), um resultado semelhante ao de há dois anos. O resto foi um passeio, com os supostos críticos a fazerem uma oposição muito pouco ruidosa e sem apresentarem listas concorrentes. José Eduardo Martins, por exemplo, até chegou atrasado ao congresso no domingo e, por cinco minutos, foi impedido de votar…

* Se Passos Coelho se passeou no congresso então foi um passeio ao pé coxinho.

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