HOJE NO
"OBSERVADOR"
Adeus, cartão de cidadão vitalício
Não há condições técnicas
A ministra da Modernização Administrativa confirmou esta terça-feira que não há condições técnicas e de segurança para emissão de cartões de cidadão vitalícios para maiores de 65 anos.
O cartão de cidadão vitalício para maiores de 65 anos foi
definitivamente arrumado na gaveta. Esta terça-feira, no Parlamento, a
ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel
Leitão Marques, confirmou não existirem condições técnicas e de
segurança para emitir um cartão vitalício para cidadãos seniores.
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A
nova modalidade do cartão de cidadão tinha sido aprovada pelo anterior
Governo, ainda em 2015. No entanto, e já depois de existirem 25 mil
pedidos deste “B.I.” vitalício, o Instituto dos Registo e do Notariado
(IRN) veio dizer não existirem condições de segurança para emissão
destes cartões. Em causa estão constrangimentos de natureza tecnológica,
de segurança e regulamentares como voltou a explicar esta terça-feira
Maria Manuel Leitão Marques.
O Governo socialista, no entanto, está a preparar medidas para
atenuar os efeitos do fim da medida, como o alargamento do prazo de
validade do cartão de cidadão de cinco para dez anos para todos os cidadãos com mais de 25 anos.
Esta
seria uma forma de ultrapassar, em parte, o problema e de reduzir o
custo das renovações obrigatórias – em média, e ao longo da vida, um
cidadão está obrigado a renovar “por seis vezes” o seu documento de
identificação, o que “tem um custo médio de 90 euros”, estimou a
ministra. De acordo com os dados avançados por Maria Manuel Leitão
Marques, o alargamento deste prazo – de cinco para dez anos – vai
resultar numa perda de receita para os serviços de 24 milhões de euros a
partir de 2024.
O cartão de cidadão vitalício para maiores de 65
anos foi pensado para atender às eventuais dificuldades de deslocação
dos cidadãos seniores. Perante dificuldades técnicas e de segurança, e
para contornar esta situação, o Governo está a estudar, entre outras
coisas, a possibilidade do pedido e recolha dos dados biométricos destes
cidadãos com mobilidade reduzida ser feita através de serviço ao domicílio.
O
Executivo socialista planeia também reduzir as deslocações necessárias
para a renovação do cartão de cidadão – sobretudo a pensar em quem vive
fora do país. De acordo com a ministra, o problema seria ultrapassado de
uma ou de outra forma: ou o cidadão deslocava-se ao serviço para fazer o
registo dos dados biométricos e, depois, o cartão de cidadão seria
enviado para a morada registada; ou então, mediante o pedido de
renovação, seriam utilizados os dados biométricos anteriores e o cidadão
só tinha de se deslocar aos serviços para levantar o documento de
identificação. Seria sempre obrigatória uma deslocação por razões de
segurança.
Outro dado novo: em caso de perda ou dano, será
possível pedir a emissão de uma segunda via do cartão através de um
pedido efetuado através da internet ou do balcão de cidadão.
A
terminar, a ministra revelou que o Governo está a estudar a hipótese de
acabar com os “dois milhões de BI em circulação” por razões de
segurança. O diploma do Governo socialista vai ser apresentado dentro de
60 dias no Parlamento.
Quais são os constrangimentos do cartão de cidadão vitalício para maiores de 65 anos?
Por partes. Primeiro, os constrangimentos tecnológicos. O prazo de
garantia do chip incorporado no cartão é, atualmente, apenas de seis anos.
Além disso, a validade dos certificados eletrónicos é de cinco anos e,
para evitar “potenciais situações de falsificação” de identidade, não deve exceder os dez anos.
Paralelamente,
há a impossibilidade técnica de novos certificados eletrónicos serem
recarregados nos cartões de cidadão. Ao mesmo tempo, explicou Leitão
Marques, assegurar um cartão de cidadão vitalício para maiores de 65
obrigaria a manter um suporte de tecnologia que pode tornar-se obsoleto
em poucos anos.
Segundo, os constrangimentos de segurança. Mais
uma vez, a questão da validade dos certificados eletrónicos, mas também
tudo que envolve os mecanismos utilizados no design e na
impressão dos cartões de cidadão – como as marcas de água e os
hologramas. Se não forem renovados, explicou a ministra, os documentos
de identificação são passíveis de serem falsificados.
A ministra
ainda lançou um outro argumento para a liça: a renovação do cartão de
cidadão possibilita o contacto periódico dos cidadãos com os serviços
públicos responsáveis pelo registo civil e pela emissão do documento de
identificação – o que servia de garante de identidade.
A terminar,
um último constrangimento: a faixa MRZ inscrita no cartão deve conter
obrigatoriamente uma data em formato numérico. E, se em vez de números,
existirem letras, como era o caso, a função do cartão de cidadão como
documento de viagem, dentro dos países da União Europeia e/ou do espaço
Schengen, ficaria comprometida. Além disso, a validade máxima
recomendada para documentos de viagem é de dez anos.
A lei que
criou o cartão de cidadão vitalício para maiores de 65 foi proposta pelo
PCP e foi aprovada por unanimidade. Ainda assim, desde outubro que não é
possível pedir este novo cartão. Todas as pessoas que pediram a emissão
deste documento de identificação – que entretanto foi descontinuado –
não serão obrigadas a pagar o novo cartão de cidadão.
* O cartão de cidadão vitalício é um falso problema. Num século a que assistimos ao desencadear de piratarias informáticas, seria um presente para o cybercrime a existência de documento de identificação imutável. O que custa de cinco em cinco anos renovar o cartão? Vitalício só a morte!
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