28/04/2016

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Todos os anos há pelo menos 32 500
. internamentos evitáveis no país

Relatório da OMS alerta que fragilidades nos cuidados de saúde primários atiram pessoas para os hospitais. Há doenças em que mais de metade dos internamentos seriam evitáveis

E se serviços de saúde mais centrados nas pessoas e com meios para agir proativamente pudessem evitar milhares de internamentos todos os anos, com o consequente desconforto para doentes e famílias e até o risco acrescido de infecções hospitalares de que tanto se tem falado nos últimos tempos? Parece exagero mas não é para menos. Um relatório da Organização Mundial de Saúde sobre os cuidados de saúde em ambulatório em Portugal conclui que pelo menos 32 500 hospitalizações podiam ser evitadas se as respostas fora dos hospitais fossem reforçadas. Dá 89 internamentos desnecessários por dia, três por hora.
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ANTÓNIO ARNAUT
O relatório, divulgado esta semana, contou com a colaboração da Escola Nacional de Saúde Pública. Os investigadores focam-se nas “condições de saúde sensíveis a cuidados ambulatórios”, ou seja, em que os doentes têm doenças passageiras ou crónicas – uma pneumonia ou diabetes –  mas que estando devidamente controladas não precisam de cuidados agudos e de internamento hospitalar.

Após analisarem as estatísticas de 2013, os autores concluíram que estes problemas de saúde estiveram por detrás de 123 mil internamentos em Portugal, 12,3% do total. Seguiu-se o cálculo de quantas hospitalizações seriam evitáveis, até porque os doentes podem mesmo precisar de cuidados agudos. Um inquérito a meia centena de médicos permitiu perceber que a percentagem varia por doença mas, em muitas condições deste grupo, mais de metade das hospitalizações podem ser evitadas com cuidados primários mais vigilantes e acessíveis. A estimativa de que 32 500 internamentos poderiam ter sido prevenidos em 2013 pecará até por defeito, uma vez que teve por base os cinco problemas mais frequentes neste universo de doenças tratáveis em ambulatório – doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), falência cardíaca, pneumonia, infeções urinária e doença cardíaca hipertensiva, condições que em conjunto motivaram 79% dos 123 mil internamentos.

A investigação revelou ainda outros indicadores: encontraram diferenças regionais nas taxas de hospitalização, com o Norte, Interior e Alentejo a registar níveis mais elevados. O envelhecimento mais marcado da população mas também a desigualdade no acesso aos cuidados de saúde são algumas explicações.

Propostas não faltam 
Analisada a realidade, os autores deixam várias recomendações ao governo, até pela reflexão que fizeram em conjunto com profissionais de saúde. Por exemplo, em nove em cada dez casos o internamento aconteceu depois de uma ida às urgências, o que sugere descompensação mas também dificuldades no acesso aos cuidados primários. Centros de saúde abertos até mais tarde, maior monitorização da saúde dos idosos em lares e obrigatoriedade de os centros de saúde chamarem os doentes para consultas após terem alta do hospital – para evitar que lá vão parar de urgência de novo por não terem sido vistos a tempo – são algumas das propostas.

Alexandre Lourenço, administrador hospitalar que colaborou com os investigadores da ENSP, sublinhou ao i que a principal conclusão é que os cuidados de saúde primários têm de ser reforçados para dar mais respostas a uma população cada vez mais envelhecida e com doenças crónicas. E exemplifica como. Em vez de esperar que um doente diabético descompensado chegue à urgência do hospital para ser avaliado, o médico de família faz um acompanhamento constante, garantindo acesso a retinografias para ver se a visão está comprometida, a cuidados podológicos por causa das feridas ou a medicina oral – sem esquecer a educação para estilos de vida saudáveis. Já no caso de doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica – a doença mais prevalente deste grupo – o relatório propõe o reforço das consultas de cessação tabágica, que não estão disponíveis em todo o país. “Se isto for feito reduziríamos os custos pessoais, sociais e financeiros do sistema de saúde por mantermos as pessoas saudáveis e, no limite, evitaríamos sofrimento humano desnecessário”, diz Alexandre Lourenço.

E quanto custa? 
O gestor sublinha que, mais do que um reforço das verbas, caminhar para este sistema implica que os recursos financeiros sigam os doentes. Ou seja, que o Estado financie tratamentos de pessoas com problemas concretos estabelecendo um valor para os diferentes cuidados em vez de financiar serviços nos hospitais ou nos centros de saúde.

Os ganhos seriam sentidos em todo o sistema, defende o gestor. “Teremos melhor qualidade de cuidados de saúde centrados nas necessidades dos doentes e, por outro lado, os hospitais melhoram os cuidados especializados.”

Quando ainda há um milhão de portugueses sem médico de família e não existe uma uniformização dos cuidados de saúde primários em todo o país, será realista? Alexandre Lourenço diz que Portugal tem um nível avançado numa transição de paradigma em curso em diferentes países, o que deixa margem para optimismo. “É um processo em construção”, resume o gestor. A motivação pode ser grande quando tanto se discute a sustentabilidade do SNS. “Evitar hospitalizações desnecessárias é um indicador importante da qualidade dos cuidados e da eficiência do sistema de saúde”, lê-se no relatório da OMS.

* Portugal está cheio de "Estudos" sobre a saúde, um houve que levou à concretização do SNS, obrigado ANTÓNIO ARNAUT, que funciona melhor que a saúde privada. O problema do país está na existência de muitas "confrarias da saúde" cada uma a puxar de pregaminhos que finge ter e o contribuinte é o pagante de tanta diletância.

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