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IN "OBSERVADOR"
12/02/16
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O interesse nacional e
as alternativas de política
As alternativas de política entre o anterior governo PSD/CDS e o atual
governo PS não está, sejamos claros, no compromisso em relação à
consolidação orçamental (quer no défice quer na dívida)
1. Há matérias de interesse nacional que não devem
ser postas em causa pelos atores políticos e há matérias que devem fazer
parte da luta política. A política, nunca é demais reafirmá-lo, tem de
ser cooperação e competição. Se não o for todos perderemos. Um tópico
que considero dever ser afastado da luta política é o diagnóstico dos
desequilíbrios macroeconómicos do país e, em particular, do peso da
dívida pública no PIB, o qual, todos concordarão, colocam Portugal nos
radares dos mercados financeiros. Os dados são conhecidos de todos. O
peso da dívida pública (liquida de depósitos) tem vindo sempre a
aumentar tendencialmente há mais de uma década e está a níveis
preocupantes.
Dediquei um dos meus livros
ao problema da evolução da dívida pública e não repetirei os argumentos
aqui. Importa apenas referir que a situação atual resulta de uma
combinação de más decisões políticas nas últimas décadas, de um fraco
crescimento económico, em parte explicado por uma arquitetura deficiente
da zona euro que urge ir corrigindo em parte pelo fraco crescimento da
produtividade e competitividade. Porém, os problemas não se reduzem à
dívida pública. Os encargos líquidos com as parcerias público-privadas
(PPPs) atingirão o seu máximo em 2016 e manterão níveis elevados nesta
legislatura. Os resgates e as injeções de capital no sistema financeiro
(cujo caso mais recente é o BANIF) são parte da responsabilidade desta
dinâmica da dívida. Uma outra componente estrutural que tem contribuído
para esta evolução é a situação de algumas empresas do sector
empresarial do estado reclassificado (SEEr). Em 2015, cerca de um quinto
do défice orçamental (contabilidade publica) é da responsabilidade do
SEEr o que mostra a importância da evolução da situação financeira deste
sector nos défices passados (e futuros), e logo na dívida pública.
Há e haverá decerto lugar para debate político quer sobre as causas
do peso da dívida, quer sobre as suas possíveis soluções. Faz parte das
nossas divergências e é salutar que assim seja. O que considero que deve
ser o mais consensual possível é o diagnóstico da situação atual e a
vulnerabilidade a que o país está sujeito dado o nível de endividamento
público e a necessidade de nos financiarmos nos mercados externos. Outro
facto indiscutível é que a “almofada financeira” de que o país dispunha
reduziu-se pela solução BANIF e que os depósitos do Tesouro não cobrem
as necessidades (brutas) de financiamento do país em 2016. Daqui que,
hoje como ontem, a estabilidade financeira do país depende da
estabilidade dos mercados. Esta semana assistiu-se a uma subida dos
juros da dívida em antecipação à decisão do eurogrupo e assiste-se já
hoje a uma descida significativa após esta decisão ser conhecida. É do
interesse nacional a estabilidade financeira do país e todos devemos
estar cientes disso e evitar declarações alarmistas.
2. As alternativas de política entre o anterior
governo PSD/CDS e o atual governo PS não está, sejamos claros, no
compromisso em relação à consolidação orçamental (quer no défice quer na
dívida). Este governo tem um claro objetivo de redução do défice
orçamental e da dívida pública, como plasmado no OE2016 e de cumprir as
regras europeus (embora a prazo deve almejar alterá-las). Esse objetivo,
que se tornou mais ambicioso após negociação com a Comissão Europeia,
seria muito menor caso a meta do défice de 2,7% do PIB tivesse sido
alcançada em 2015. Nesse caso a redução do défice para 2,2% do PIB
seria, em 2016, bastante mais reduzida. Mas como andará pelos 3% (sem
BANIF) o esforço de consolidação orçamental será muito maior.
A alternativa de políticas, consubstanciadas neste OE do PS, é
sobretudo a três níveis: a orientação de política económica, a
estratégia de redução das desigualdades e de promoção da justiça social,
e a requalificação do Estado. Ao contrário da anterior legislatura, em
que a política económica era orientada apenas para a procura externa,
contraindo a procura interna, e em que se pretendia reduzir a dívida
pública com inúmeras privatizações (cujo encaixe foi significativamente
superior ao exigido no memorando com a troika), a estratégia iniciada
neste OE é de redinamizar a procura interna – nomeadamente através da
devolução e aumento dos rendimentos do trabalho – de requalificar o
Estado e de acelerar a execução dos fundos estruturais bem como melhorar
os custos de contexto das empresas (SIMPLEX) para promover o
investimento. Não é pelas privatizações que se resolverá o problema da
dívida e este governo não pretende fazê-las, antes pelo contrário
pretende ou revertê-las (caso da TAP) ou impedi-las como seria o caso,
na presença de um governo PSD-CDS em que provavelmente o Estado perderia
também a maioria do capital que agora detém (caso dos sistemas
multimunicipais das águas “em alta”). Como referi anteriormente
os instrumentos de política fiscal e contributiva utilizados são
seletivos e promovem a justiça social, o que agora é reforçado com
medidas adicionais e inovadoras de combate à evasão contributiva na
segurança social.
Acabo como comecei. Em política, temos sempre de saber onde está o
interesse nacional e onde está o campo natural da luta política e das
alternativas democráticas.
P.S. Não posso deixar de mencionar aqui uma
“importante” notícia surgida em vários órgãos de comunicação nesta
semana. A aparente contradição entre o ministro das Finanças e Paulo
Trigo Pereira em torno do nível de fiscalidade, quando falámos de coisas
distintas. O jornal Público esclareceu
devidamente a diferença entre falar sobre a carga tributária (receitas
fiscais no PIB) que neste OE desce (-0,2% do PIB), como referiu Mário
Centeno, e de falar de nível de fiscalidade (receitas fiscais mais
contribuições sociais no PIB) que se mantém praticamente estável
(variação de 0,1% do PIB) devido ao aumento das contribuições sociais,
essenciais ali. Curiosamente também referi, sublinhei e reafirmei a
descida das receitas fiscais no PIB, mas isso não “passou” na maioria
dos media.
IN "OBSERVADOR"
12/02/16
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